Depois das Chamas - Livro 1

05 - O Guardião

- Acho que bateu a cabeça na queda, Rav. Será que teve uma concussão? - disse, bagunçando os cabelos dela.

- Não!!! - ela me empurrou com sua pequenas mãozinhas - Somos parceiros. Como você é com Louíse e Arth. Mas eles não podem ser seus filhos porque são altos, só que eu posso.

Ela estava realmente falando sério.

- Não acha que sou um pouco jovem para ser pai? - Ela inclinou a cabeça e começou a me medir. Acompanhei seus olhos indo dos meus cabelos até as pontas dos meus pés.

- Blahz me disse que você tem a aparência de alguém de vinte anos, mas tem um pouco mais de duzentos.

- Ele disse isso? - ela assentiu com veemência - talvez eu tenha mesmo. Um pouco mais, um pouco menos, quem sabe? - Raven deu de ombros como se isso não importasse para ela - Venha, pequena Neale. Vamos voltar para os outros antes que escureça e eu fique maluco com suas perguntas.

Coloquei-a em minha costas e seguimos em direção à um pequeno rio que ficava na floresta. Dava para ouvir o barulho suave da água misturado com o farfalhar das folhas. A floresta vinha sendo a casa dos rebeldes por alguns períodos, vivíamos mudando de posição para não sermos descobertos.

Andei apenas alguns quilômetros até chegar ao acampamento. Comprimentei várias pessoas que rodeavam o local, e passei por algumas tendas até deixar Raven na que ela ocupava com uma das mulheres de lá. Despedi-me dizendo que ia pensar sobre sua proposta.

Segui por uma pequenas trilha de pedras brancas e folhas secas. Olhei para cima e pude observar os últimos raios de sol espreitando por entre a copa das árvores. Alguns dos troncos eram apenas silhuetas ao longe e o chão já começava a ficar escuro enquanto as sombras consumiam o local.

Continuei meu caminho até conseguir avistar uma cabana improvisada feita de madeira gasta e cipós na área mais densa da floresta. Era onde o conselho dos rebeldes se reunia para algumas reuniões.

Quando adentrei o local pude sentir o cheiro de alguma coisa sendo assada na pequena lareira que tínhamos. Tochas foram postas nas laterais dos cômodos, Louíse estava sentada ao lado de Arth cochichando alguma coisa que o fez dar risada enquanto a luz bruxuleava nos rostos deles de forma tranquila.

Sorri ao olhar meus amigos, e percebi que aonde quer que esses dois estivessem, eu saberia então que lá seria meu lar.

- É aqui que será a festa? - Perguntei, me aproximando e sentando em frente aos dois.

- Bom, se a festa for sobre lendas e magia, então é aqui sim - Lou começou a rir, como se aquilo não a assustasse.

Blahz entrou na cabana logo em seguida, retirando seu grande casaco de pele para se juntar a nós em frente a lareira.

- Não tínhamos que estar na sala de reunião? O que eu perdi? - perguntei, confuso.

- Kian, não será uma reunião do conselho. Meredith pediu para que fosse apenas nós - disse Lou.

- Por que?

- Ela recitou o conto - Arth tirou um dos pedaços de carne da lareira e colocou em um recipiente para que comêssemos - Louíse foi a testemunha.

- Conheci uma garota umas noites atrás. - começou ela - Durante o festival de Hazor, enquanto dançávamos perto da cabana de Meredith e bebíamos algumas das misturas da noite, ela saiu da tenda e acenou para que eu entrasse com a garota. Não entendi o que queria, mas fui mesmo assim fingindo ser uma das clientes encantadas. Enrolei para que pudesse me mostrar logo o que queria. Foi quando Meredith começou a contar a história. Lynn não percebeu quando a magia se prendeu a ela, estava absorvida demais no conto.