Qual é a dificuldade de acreditar nisso?

- O senhor sente este vento? - Angeline perguntou me tirando do meu devaneio.

Eu a olhei e a encontrei de olhos fechados, desfrutando da sensação de ter o vento em seu rosto, balançando suavemente seu cabelo.

Ela não é um caso perdido. Enxergar a realidade não significa perder sua essência: ela pode continuar a mesma garota incrivelmente boa e gentil de sempre, no entanto, pelo motivo certo. Não por acreditar que existe um ser no universo que espera isso dela, mas porque as pessoas aqui na terra precisam. Talvez, com algum esforço, eu possa fazê-la entender. Então ela será perfeita.

- Imagine Deus como este vento. - Ela disse devagar, ainda sem mudar sua postura, ao notar que eu não iria responder. - O seu coração, como sua casa. E o senhor, bem... - Ela me olhou. - Como o senhor.

Mantive nosso contato visual sem emitir sequer uma palavra, esperando para ver onde ela chegaria. Por fim, depois de vários segundos, ela voltou sua atenção para algum lugar do pátio e começou a falar como se explicando o alfabeto para uma criança:

- Ele está sempre aqui, mesmo que não possamos ver. Em todos os lugares, o tempo inteiro. Nós podemos sentir. - Ela fechou os olhos novamente e respirou fundo. - Podemos sentir a suavidade com a qual ele toca nossa pele... a certeza de que nenhuma tempestade está próxima. Nós podemos sentir a tranquilidade e a paz.

Angeline novamente abriu os olhos para mim.

- Mas o senhor não é obrigado a sentir isso. - Disse convicta. - É claro que pode fechar sua casa. Trancar todas as portas e janelas, cobrir as aberturas e frestras... e ficar lá dentro, quieto. O vento jamais vai entrar, sr. Strorck. Ele sempre estará do lado de fora, batendo na porta, esperando... mas se o senhor não quiser abrir, ele não vai entrar a força.

Não respondi. Ela me olhava com determinação, mas suavemente, como se tentando me fazer entender da maneira mais fácil possível.

- Deus sabe respeitar sua vontade. - Continuou. - Embora te ame mais do que qualquer pessoa no mundo será capaz de amar, Ele não vai te obrigar a amá-lo de volta. Ele nos deu livre arbítrio para acreditar ou duvidar do que queremos... mesmo que duvidemos da existência dEle. - Ela balançou a cabeça. - Tudo bem. Isso não te torna pior do que ninguém. Mas... se abrir uma das suas janelas, nem que seja a menor delas... e sentir a suavidade do vento, mesmo que seja uma pequena porção... - Ela sorriu parecendo emocionada. - A sensação será tão maravilhosa, que tudo o que vai querer fazer é abrir o resto da casa para recebê-lo tanto quanto possível. Ele só precisa de uma brecha no seu coração, senhor. Uma pequena abertura. E quando um pouco dEle entrar... esse pouco te ajudará a se abrir por completo. - Ela soltou um longo suspiro. - Mas se o senhor não quiser, então... bem, então não importa o que eu diga ou o que faça, nunca será o suficiente. Se o senhor nunca quiser conhecê-lo... Ele nunca vai te obrigar.

Ela não desviou os olhos de mim quando terminou, tampouco eu desviei dos dela. Era como se tivéssemos criado uma segunda dimensão onde só existia nós dois, uma dimensão que só foi desfeita um tempo depois - provavelmente minutos, não sei ao certo - quando Izzy preencheu o ambiente com sua voz suave ao se aproximar.

- Está na hora das marionetes, tio Thomas! Você não vem?

Eu a olhei, despertando.

- É claro. - Sorri. - Todos estão prontos?

- Só falta você. - E, se voltando pra Angeline, ela sorriu. - Você também vai vir, certo? O tio Thomas sempre nos conta histórias com marionetes, é muito divertido!

O sorriso que Angeline retribuiu foi sincero.

- É claro que sim. Eu não perderia isso por nada.

Um plano para nós (PAUSADO)Where stories live. Discover now