- Apenas em casos... especiais.

Ela franziu a testa, confusa.

- Eu sou um caso especial?

Fiquei com vontade de rir do modo como ela perguntou isso.

- Ah, você é, Angeline.

- Por que eu sou um caso especial? - Ela enfatizou.

Passei o indicador por minha barba por fazer, decidindo elevar a brincadeira a um novo nível. Eu queria testar seus limites, mas nunca imaginei que estaria testando os meus também.

Angeline estava agachada na frente da prateleira de livros, então decidi usar isso ao meu favor. Eu sabia tinha um exemplar de Guyton e Hall na estante, e visto que comentei sobre ele poucos minutos atrás, usaria isso como justificativa para me aproximar dela.

Conforme caminhava em passos lentos em sua direção explicando o motivo de ser um caso especial, ela se levantou. É apenas um jogo, eu disse a mim mesmo quando percebi minhas batidas cardíacas se tornavam levemente mais pesadas. Eu queria apenas brincar, mas assim que cheguei perto o suficiente para tomá-la em meus braços a atmosfera ficou tão pesada, que tirou toda a lógica da minha mente. E então eu fui mais sincero do que devia:

- Mas que me afeta como ninguém... mesmo sem nem perceber.

Essa frase não estava em meus planos quando me levantei da mesa. Por um momento imaginei que isso pudesse ser um erro meu, mas ao ver o olhar que ela me lançava, percebi que talvez não fosse tão errado assim deixá-la saber.

Precisei de todo o meu foco para permanecer como estava: perto, muito perto, mas sem tocá-la. Ela é minha empregada, eu sou seu patrão. Ela é cristã, eu sou realista. Ela é bondosa, eu sou impiedoso. As diferenças são incontáveis, então não existia a menor chance de eu beijá-la. Até porque, eu nunca me contentava com apenas um beijo - nunca -, e dois fatores bastante óbvios me impediriam de me deixar levar pelo momento: eu não durmo com meus empregados e ela é virgem. Eu não vou correr o risco de deixar meu nome gravado permanentemente em sua vida apenas porque tirei sua virgindade. Não mesmo.

A tentação era tão grande quanto nunca havia experimentado - sim, eu queria sentir o quão macios eram seus lábios -, mas ignorei todos os pensamentos que estivesse tendo e foquei em meu objetivo principal: pegar o maldito livro que estava ao lado de cabeça, o que percebi pelo meu olhar periférico.

Angeline parecia em choque quando estendi a ela o exemplar. Por um momento achei que fosse desmaiar, mas não. Ela ainda conseguiu me agradecer antes de sair pela porta.

E então eu pude respirar.

Ainda podia sentir meu coração bater com força no peito quando ela se foi, e mesmo sabendo que acabei de testar meu próprio limite e agora devia manter distância, eu estava ansioso para vê-la de novo.

***

Eu sabia que George dava a cada empregado uma tarefa específica para cumprir todos os dias, o que me fazia acreditar que, se Angeline limpou meu escritório aquele dia, ela limparia novamente.

Participei da reunião com o presidente das empresas alemãs no dia seguinte impaciente. Já se passavam de quatro da tarde, e tudo o que eu queria era estar livre para ir pra casa.

Quando o homem finalmente apertou minha mão sorrindo como despedida, peguei meu paletó e me dirigi à porta.

- O senhor vai sair? - Louise perguntou quando chamei o elevador.

Um plano para nós (PAUSADO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora