| One shot | Final

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Durante o restante da madrugada, Anahí demorou para desfazer os trajes que usava. Dulce já não parecia um problema agora, pois dormia tranquilamente como se nada tivesse acontecido. A ruiva nem sequer se deu ao trabalho de considerar o quanto tinha destruído todos os planos e anseios da amiga. Sentada em uma poltrona próxima ao banheiro, ela retirou os sapatos com cuidado e massageou os pés com a ponta dos dedos. Por mais que tentasse fechar os olhos e respirar fundo, Anahí não conseguia se desligar nem um segundo sequer da lembrança de Miguel indo para longe dela naquele saguão. Mas Dulce devia estar certa, na maioria das vezes sempre estava, principalmente quando o assunto era ela.

No fundo até mesmo a morena entendia que aquilo não fazia sentido e que não podia continuar com suas ideias de um futuro ao lado de alguém como ele.

Todos seriam lesionados.

Debaixo do chuveiro, sentindo cada gota atingir sua pela marcada pela dor, Anahí requisitou mais uma vez voltar no tempo.

Lembrou-se dos poucos dias atrás quando se ajoelhou e orou dentro daquela igreja durante a missa da morte de Alfonso, pedindo que Deus lhe proporcionasse vê-lo em sonho, ou de alguma outra maneira. Mas não poderia ser mesmo de verdade... Alguém tão justo e sagrado não poderia ter lhe cedido aquele rogo alucinado.

Limpa e de cabelos úmidos, ela pôs uma calça larga, algumas blusas reforçadas e pegou o casaco para dar uma volta. Precisa andar e espairecer até cansar. Tudo feito com cuidado muito para preservar o sono de Dulce.

O único lugar imaginado em seu subconsciente foi o deck, e sem notar, Anahí estava dando voltas quase ao amanhecer, sozinha, confundindo-se com espíritos vagantes. Ela zombou da própria infelicidade.

Abrigando as mãos dentro do bolso ela viu de bem longe uma silhueta familiar, tão sozinha quanto ela, cercada pela fumaça do cigarro que tragava em curtos intervalos.

— Anna? — A jovem assustou-se no primeiro momento, dando uma risada logo após reconhece-la.

— Anahí! Nossa, é muito ruim vê-la.

— Hãm? — Exclamou abismada com a sinceridade dela.

— É ruim porque a essa hora você estar acordada, andando sem rumo, não me parece bom. — se justificou — e claro, sua cara deixa isso tudo ainda mais evidente.

— Estou tão ruim assim?

— Seus cabelos estão molhados.

— É. Isso é péssimo — Caçoou de si.

— Aceita? — Ela olhou para o Marlboro oferecido e se perguntou se devia, porem a ocasião e a covardia foram maiores. Talvez nem fosse o vício, mas o frio aterrador que as envolvia.

Anna acendeu o cigarro de Anahí, e depois de uma tragada longa e profunda, a morena se permitiu respirar.

— E você, porque está aqui sozinha? E seu marido?

— Ele dorme bem rápido... quase sempre está cansado. Então como esse lugar me dá insônia, na maioria das noites venho caminhar pela beira do rio congelado — pela primeira vez ficou evidente para ela os contras da diferença de idade entre eles — Meu lugar favorito desde que perdi meu noivo bem ali, no meio no rio.

— Noivo? — Surpresa, a morena se endireitou e esperou ouvir mais.

— Ele era um homem bom, e isso o matou. Durante o salvamento de uma criança afogada, ele conseguiu colocá-la no bote, mas era tarde demais para ele. A hipotermia foi quase instantânea.

— Sinto muito, Anna.

— Tudo bem... já faz um tempo — completou dando mais uma tragada — e você? Eu estava no evento em que foi homenageada, e vi as fotos do homem no painel. Ele parece com o cantor.

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