Possession

Capítulo 03

- O valor é alto, Madness. Seja esperta quanto a isso.

A proposta era tentadora até demais, mas se existia uma coisa pela qual eu não conseguia abrir mão, essa era a minha liberdade. Gostava de ter minha vida particular, meus momentos sozinha e principalmente minhas noites de filme ao lado de Dulce.

- Sei que é, mas acho melhor apenas nos encontrarmos como amantes ao invés de ser exclusivamente sua.

O homem estava de pé, e mesmo com a suave luz da suíte, consegui perceber que a expressão de Ricardo não parecia das melhores. O seu aborrecimento com minha recusa me fez acuar os ombros. Olhei para a bolsa em cima da estante ao lado da cama e calculei quanto tempo ia demorar chegar até ela e sacar a arma elétrica em um tempo hábil caso algo acontecesse.
Ele caminhou um pouco de um lado ao outro e de braços cruzados, frustrado como um garoto mimado.

Ricardo era um dos meus mais jovens clientes. Ele tinha seus quarenta anos muito bem conservados. Os cabelos castanhos eram iluminados por poucos fios brancos precoces, em um belo par de braços fisicamente voluptuosos e exercitados. Uma das minhas maiores perguntas era o porquê daquele homem que tanto me atraía sexualmente na cama, não conseguir me cativar de outras maneiras? Para uma mulher esperta e com visão perfeita, ele se encaixaria como luva. Era bonito, rico, educado. O que mais pedir?

- Eu sei que você está nessa vida porque quer ou porque deva gostar, duvido que propostas como a minha sejam raras. Mesmo assim, não suporto mais imaginá-la com outros além de mim.

- Me perdoe, mas nós dois nos envolvemos cientes do tipo de relação que temos. Se é que posso chamar de relação.

- Não estou enganado, Madness, apenas te ofereço algo melhor!

- Ricardo, você me quer para vivermos juntos. Acha que faz o correto?

- Correto não posso confirmar se é, mas olhe ao seu redor, eu posso te dar tudo o que quiser. Todas as roupas, joias, viagens e uma vida digna.

- Vida digna? - Confesso que ao ouvir aquilo, me senti como uma prostituta das mais baratas prestes a dar o golpe no ricaço apaixonado - Eu tenho uma vida digna.

- O que disse? - Indagou sarcástico.

- Tenho - Reafirmei - Cada um segue a vida que achar mais prudente. Esta é à minha maneira de ganhar dinheiro. O que tem de não digno nisto? Nunca roubei, matei ou extorqui alguém, isso sim eu considero indigno, Ricardo.

Soltando os braços ele andou até a minha frente e me fitou nos olhos. Percorrendo todo o meu corpo despido sentado a beirada da cama. Ricardo estava vestido pela metade, usando apenas uma calça social.
Eu não tinha vergonha daquelas coisas, até porque seria ironia demais uma mulher que vivia de sexo ter pudor com o próprio corpo. Eu ganhava por exibi-lo, e as horas na academia e em locais estéticos tinham que ser valorizados.

- Desculpe se pareceu ofensivo o meu comentário.

- Não se incomode. - Respondi juntando o meu vestido do chão e pondo-o ligeiramente - Este tipo de abordagem não me surpreende.

- Espero que mude de ideia a respeito do meu pedido, porque pretendo insistir.

Com a ponta dos dedos eu fechei o zíper da roupa, escondendo os meus seios, e segui arrumando os cabelos, passando os dedos e prendendo-os num coque. Juntei meu sapato de salto fino e andei até ele. Ficando bem próxima, odiei o fato de ser sempre tão pequenina sem aquele acessório. Ricardo media um metro e oitenta e sete, e eu mal chegava na altura do seu peitoral. Olhei para cima e fixei meus olhos nele. Calcei-me imediatamente e fiquei com um pouco de vantagem.