Capítulo 32

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Alfonso Herrera

"Não precisa dizer nada. Me sinto igual ou pior que você..."

Eu precisava ser sincero. Não era uma questão de poder ou dever, aquilo significava muito mais. Anahí havia entrado em minha vida de uma forma inesperada.
Ela era diferente da mulher que estava de joelhos no corredor da R. Dress naquela manhã que achei ser comum.
Na minha frente, naquele momento, a única coisa que consegui ver foi alguém capaz de se entregar sem medo algum, ou receio. Seus mistérios apimentavam a nossa relação, de certa forma, mas eu merecia saber mais. Viver mais o que podíamos ter.

Eu a queria ao meu lado desesperadamente. Como isso aconteceu? Era uma pergunta inútil. Tudo foi repentino demais para que exigíssemos respostas claras. Ela tinha medo, e eu sabia disso, mas minhas mãos queriam acalenta-la, e dizer "Tenha calma, meu amor. Estou tão nervoso quanto você nisso".

Seu par de olhos azulados estava escurecido pela noite, como a sombra das nuvens sobre o mar numa tarde chuvosa. Passei minhas digitais sobre os punhos dela, buscando mantê-la perto o suficiente.

- O que vai fazer? - resolvi perguntar para quebrar o silêncio que pairou entre nós.

- Quer que eu faça alguma coisa?

- Quero que fique comigo. Já disse isso antes.

- Porque você faz isso comigo Alfonso? - rebateu amedrontada, com os olhos mareados.

Anahí parecia sofrer por sentir vontade de me ter ao seu lado, o que aumentava minha ânsia por respostas.

Segurando seu queixo, deferi um beijo sobre seus lábios ambiciosos e desesperados, relaxando nossa musculatura. Enquanto a beijava, lembrei-me de um dos motivos de odiar cigarros. Era como uma ofensa a uma boca tão doce, ser contaminada por aquele gosto amargo que me irritava. Depois que ela relaxou me afastei para poder olha-la. Anahí já estava com os olhos limpos e mais tranquilos que antes "parece que funcionou".

- Terei paciência...

Com o mesmo silêncio da antes, ela me abraçou segurando minha cintura, encolhendo o corpo para se encaixar por entre meus braços. Era como uma garota indefesa. Vê-la desarmada me dava mais armas para lutar.

- Achei vocês! - a voz agressiva e alta de minha irmã mais nova, atingiu nossos ouvidos, arrancando os olhares - Desculpem. Atrapalhei mais uma vez?

- O que acha? - retruquei aborrecido.

- Não se preocupe. Apenas conversávamos.- diferente de mim, Anahí foi mais gentil e fez o semblante dela mudar. Maite estava indignada com a minha resposta.

- Afunde Herrera! Mas você precisa ir até o salão. Agora!

- Porque eu deveria ir?

- Apenas venha homem de Deus! - insistiu revirando os olhos pela minha resistência.

Maite foi tão delicada quanto um jegue quando me puxou pelos braços, levando Anahí junto. Ela me roubou a atenção dela e ficou no meu lugar. Abraçando e contando coisas fúteis sobre sua vida privada. Atrás das duas, a minha única reação foi ouvir e manter as passadas para não as perder de vista.

Assim que chegarmos no salão, ela soltou a mão de Anahí e se aproximou de mim, sussurrando "depois pode me agradecer". Fiquei confuso no primeiro momento, mas logo entendi o porquê daquele comentário malicioso. De longe, dona Helena me olhava feliz, com um sorriso satisfeito antes de colocar Michael Bublé para tocar. O som alto com toque de jazz me impulsionou.

Balancei a cabeça segurando a testa. Minha mãe apontava para Anahí dando

alguns passos, sozinha, me incitando a puxa-la para dançar.

Merda! Eu adorava dançar Me and Mrs. You, mas quem costumava ser o condutor da alegria, e daquela dança, não estava presente. Senti-me honrado pelo pedido tão inusitado, até mesmo por saber o quanto aquilo a afetava desde a morte de meu pai.

Aproveitando que Maite havia deixado o terreno descoberto, peguei nas mãos de Anahí antes dela se esconder no canto da sala como pretendia fazer.

- Não me diga que quer dançar?

- Exatamente.

- Conseguiu se superar Herrera. Esta musica é animada! Como vai mexer seus quadris endurecidos? - ela gargalhava completamente envergonhada pelo fato de eu já estar remexendo a cintura antes dela terminar de completar sua frase.

Me desconheci quando a girei duas vezes, lhe aparando nos braços. Anahí logo entrou no clima, esticando o vestido para me reverenciar e ceder sua mão para que eu a conduzisse num passo sincronizado, girando-a conforme a música exigia. A voz animada do cantor nos arrancava risadas. Num desses giros, eu a peguei de costas e nossos quadris se mexeram, juntos. O calor da minha boca caiu sobre a nuca dela fazendo seus pelos se elevarem e toda sua pele se tornar áspera. Pude sentir isso enquanto segurava seus ombros.

Necessitei ver o seu semblante, e para isso, rodei sua cintura e a coloquei de frente a mim novamente. Anahí estava vermelha e começando a transpirar. Duvidei se aquilo era pelo calor da dança ou pela minha ação sobre sua área tão sensível. A excitação que exalava de nós dois era gigantesca.

- Isto é alguma espécie de indireta? - questionou ofegante, arqueando uma das sobrancelhas.

- Porque seria? - Era óbvio que a letra definia aquele momento, mas preferi fingir estar levemente fora do contesto.

"Eu estou procurando algo. E esse algo é você...".

"Sim, é verdade. Espero que um dia exista um Eu e uma Sra. Você...".

- Não sabia que gostava de músicas assim.

- Animadas? - reafirmei.

- Dançantes - corrigiu - Prefiro falar assim.

- Sou muito mais do que você possa esperar.

- Isso já ficou mais do que claro entre nós.

Um dos últimos sons saiu e a música terminou. Ambos pausamos. Por um segundo olhei ao redor e só assim percebi que ninguém dançava além de nós dois. Todos estavam ao redor, admirando nosso show de pouco mais de dois minutos. Logo uma nova canção iniciou e os casais começaram a se formar novamente nos fazendo companhia. Voltei à vista, e de pronto, Anahí ainda me encarava hipnotizada. As suas ultimas palavras deixavam muita questões pairado sobre o ar. Tantas que até ela parecia refletir.

Ainda com olhares trocados, resolvemos ficar assim por mais alguns segundos mesmo depois de sentirmos a presença de minha mãe ao nosso lado.

Dona Helena segurou seu silêncio, revezando o olhar entre mim e ela.

- Queridos? - a curta pergunta desviou nossa atenção.

- O que aconteceu mamãe? - só percebi que a pergunta foi sem sentido quando vi a expressão confusa dela.

- Só queria felicitar vocês pela dança e dizer o quanto isso me deixou feliz. - pegando na minha e na mão de Anahí, Dona Helena baixou a vista antes voltar a falar - Meu filho, você sabe o quanto essa música significa para todos nós, mesmo que toda essa gente nem imagine.

- Dona Helena. Obrigada por cedê-la - fiquei surpreso com a atitude da mulher ao meu lado.

Aquilo me cativou de uma forma destruidora.

- Não só cedi, como vi nos olhos de vocês o que existe nos meus até hoje.

Ela não precisou dizer o que era a "tal coisa" que estava nos nossos olhos. Ambos interpretamos e nos rendemos.

Numa despedida calorosa, minha mãe andou por entre as pessoas, voltando para onde estava.

- Venha comigo - solicitei com uma expressão atenue e ela me estendeu sua mão direita.

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