Capítulo 75

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Anahí

Depois de me levantar e perambular por toda a casa me peguei dentro do escritório de Alfonso. Geralmente ele deixava aquele lugar trancado a sete chaves, mas a sua pressa em atender o chamado de um homem naquela manhã depois que voltamos de Gabarino não o permitiu cumprir sua tarefa ensaiada. Por um minuto me senti uma Sherlock Holmes enquanto olhava investigativa ao redor.

Livros. Ele tinha muitos livros sob as estantes presas nas paredes por toda a extensão do lugar. Ouve alguns que me entusiasmaram, principalmente os de literatura antiga. Eu adorava a visão do romantismo deles.
Meus dedos deslizavam no papel enrugado das capas antigas, de um por um, conforme dava novos passos.
Será que ele leu todos?
Foi uma pergunta que me martelou por vários minutos.

Continuando minha aventura sentei na cadeira giratória por trás da mesa e observei os muitos papéis que havia sob ela. Eram pastas marrons, com H enterprise grifado em dourado "para alguém que quase não via aquela logo marca, eu já tinha visto uma segunda vez em menos de dois dias".
Apesar da quantidade de papéis ser grande, eles estavam todos organizados de uma maneira específica por datas. Deixei de lado a papelada e foquei nas três gavetas estrategicamente postas na parte de baixo da mesa. A primeira que abri só tinha mais papel "nada de interessante". Na segunda, algo no mínimo desconfortável. Havia uma arma calibre 38, prateada, tão bem polida que mesmo com a luz baixa do ambiente o objeto brilhava. Fiquei olhando aquilo, confusa. Não gostava de armas de fogo. Elas me lembravam da maldade do mundo e me faziam recordar de um episódio em que vi um morador de rua ser morto com dois tiros, por puro preconceito, pelas mãos de alguns moleques. Eles não me viram escondida detrás de uma pilha de lixos, pois se tivessem me flagrado, com certeza eu seria a próxima. Naquele dia agradeci verdadeiramente por ser tão pequena.

Voltei do devaneio, indignada. Lógico que na concepção de Herrera ele mantinha aquilo ali por segurança, mas eu não gostava de pensar que algo tão fatal estava a disposição dele. Tão fácil. Tão próximo.

Fechei aquela gaveta com asco e fui para a terceira e última.

Diferente das demais, ela tinha uma fechadura, mas por sorte também estava aberta. Abri mais curiosa ainda, mas para a minha surpresa, ali não havia absolutamente nada mais que um envelope vermelho, muito charmoso, fechado com um lacre de cera no mesmo tom. O carimbo tinha um símbolo bonito, porém desconhecido para mim.
Peguei o envelope com as mãos e percebi que meu nome estava gravado na parte de trás.
Meu nome?
Então aquilo era meu? Alguém me mandou uma carta e Alfonso não me entregou?
Fiquei nervosa e claramente indignada pela descrição desnecessária do meu marido. Como assim?!
Fiquei ainda mais disposta a abrir depois de tantas ideias me passarem na mente, e foi o que fiz. Puxei o lacre e abri o envelope. Dentro, um papel amarelo foi puxado por mim e eu comecei a desdobra-lo.

Olá Senhora Herrera...

Já faz um ano que te deixei e para mim foi gratificante chamar você dessa maneira depois de tantos altos e baixos.

Bem, eu sei que deve estar chateada com a vida, e mesmo que eu tenha decidido que este seria o momento certo para você receber essa carta, desisti de encontrar momentos certos. Acho que ele não existe. Sei também que ainda sofre pela minha ausência, e me perdoe por isso, por fazê-la acreditar que não cumpri a minha promessa de estar ao seu lado todos os dias de sua vida, mas eu a consegui. Deus me deixou cumpri-la antes de partir. O nosso filho Anahí, ele está ai, e é um reflexo vivo de mim e da minha promessa, do nosso amor, e nada mudará esse fato. Sempre estarei com vocês dois.

Agora partindo para o lado mais pessoal, por favor, não deixe de viver a sua vida. Sofra, chore o tempo que achar suficiente, mas me prometa que vai deixar esse luto passar. Não se afogue nisso. Também não me brigue por exigir de você coisas que no momento acredita serem impossíveis, porque nada é impossível. Seja determinada, lutadora, uma mãe incrível! Seja apenas a Anahí por quem me apaixonei desde a primeira vez que vi. A mesma mulher segura de si que desfilava sobre aquele palco. Autêntica, decidida, arrancando suspiros. Vou sentir ciúmes desses olhares daqui de cima, porque logicamente eu devo estar no céu, e mesmo assim vou gritar para que seja a mulher mais feliz de todas.

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