Capítulo 44

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Alfonso Herrera

Foi imediata a tensão se alastrar no ambiente. Para dar mais segurança na revelação, Anahí foi até a sua bolsa e sacou o velho e surrado cobertor marrom. Era ele.

Com o tempo o tecido havia ficado envelhecido e adquirido alguns furos, mas não precisava de mais nada da parte dela para me provar. Mesmo com certa distância pude perceber também o detalhe com as iniciais A.H. as mesmas que tinham sido bordadas por dona Helena.

Aquele cobertor estava dentro do meu carro, quando resolvi doá-lo para aquela pobre garota. Mesmo que tivesse certo valor sentimental para mim, não sei o motivo, mas eu quis dar a ela. Nunca me arrependi daquilo, e agora, muito menos.

Foi uma conexão que nunca consegui decifrar.

A minha expressão desacreditada a fez lacrimejar. Anahí era mais importante do que podia imaginar.

- Não pode ser... - falei passando as mãos pelos cabelos.

- Pode! - retrucou ela, indo até mim e segurando o meu rosto com as duas mãos - Olhe nos meus olhos.

Eu olhei, mas não consegui me situar com a peça que o destino tinha me pregado.

Como fui tão distraído meu Deus! Mesmo com toda a maquiagem, eram os mesmos olhos azuis e confusos que me cativaram a ponto de me desestruturar.

Ela era tão jovem, e eu já maior de idade, não teria outra explicação. O tempo fez bem para Anahí.

- Não... - continuei a dizer. Nada mais parecia sair da minha boca.

- Sou eu! - repetiu convicta.

- Isso é impossível. Eu procurei você...

- Não precisa mais procurar. Eu estou aqui Alfonso!

- Qual o sentido disso Anahí? - a minha voz saiu fraca conforme a pergunta era feita.

- Não sei e nem quero entender, apenas acreditar que Deus pode estar por trás de tudo - ao dizer aquilo ela chorou um pouco mais me deixando ainda mais abalado - Você jamais poderá imaginar o quanto também te procurei.

Afastei as mãos dela do meu rosto e fiz o mesmo com ela. Agarrei Anahí passando meus polegares pelos suas maçãs, acariciando aquele rosto machucado.

Como ela havia mudado.

Estava tão diferente daquela pobre menina suja e sem nem uma cor rosada, tão diferente de agora.

Anahí estava vermelha pela emoção, cheia de vida e saúde, respondendo a todas as minhas perguntas feitas ao longo dos anos. Fiquei feliz por saber que mesmo de forma diferente ela estava bem. Longe do que pude imaginar.

Por quê? Porque o destino a tinha posto no meu caminho mais uma vez?

Quanto sarcasmo do acaso, a mulher que tanto procurei estar bem ali, ao meu lado.

Não a olhei mais como a mulher que me enganou, e sim como aquela mesma menina a quem eu havia socorrido.

Aquele olhar... Deus, como eu precisava dele.

Encostei nossas testas e respirei sobre o nariz dela e a mulher deu um sorriso aliviado.

- Meu amor... - disse acalentando-a - Nunca mais vou deixar você sozinha outra vez.

Quando falei aquilo ela soltou um soluço e me abraçou forte, roubando o meu ar com um beijo doloroso. Minhas lágrimas se juntaram as dela e facilmente correspondi a todo o afeto que recebi.

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