Capítulo 48

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Alfonso Herrera

O som do silêncio só era interrompido pelos aparelhos que apitavam incessantemente fazendo eu me sentir como em uma UTI.

"traga todos os aparelhos necessários para este quarto".

Aquele ambiente tinha sido transformado num lugar semi-intensivo por minha causa. Dona Helena achou mais apropriado me manter confortável, longe de outros doentes, mas monitorado da mesma maneira necessária.

Mas a parte boa daquele momento era que eu estava sozinho e podia pensar melhor em como as coisas iam suceder.

Depois de um tempo, apertei um botão vermelho que havia ao lado da minha cama e em segundos uma enfermeira apareceu, apressada e eufórica. A mulher só ficou tranquila quando viu que não era nada grave.

- Poderia chamar o Dr. Colins.

- Claro. Só um minuto.

Não demorou muito desde a saída da mulher de branco até a entrada do meu Hematologista.

- Esse botão tem outra função sabia? Você quase matou minha enfermeira do coração - ressaltou confortável ao entrar.

- Não achei que seria elegante gritar por alguém.

Rimos e ele foi para o meu lado, pondo as mãos dentro dos bolsos do jaleco.

- Como se sente?

- Mais vivo do que quando cheguei.

- Seria bom um pouco mais de otimismo Herrera.

- É sobre isso mesmo que quero falar. - foi momentânea a falta de ar que me obrigou a puxar um pouco mais a respiração - Quero fazer todos os tratamentos possíveis e existentes, independente do preço, do tempo, do que for.

- Estamos trabalhando nisso. Você já está recebendo as medicações de teste e agora só nos resta esperar os efeitos positivos ou negativos da droga, e so assim será considerado uma troca.

- Quais as chances dele funcionar?

- Não temos nada exato. É um remédio de teste ainda e as estatísticas são variáveis demais. Até agora tem dado bons resultados com pouquíssimos efeitos colaterais.

- Minhas pernas, elas ficam dormentes por alguns segundos, é um efeito? - a minha perguntou pareceu lançada ao nada.

O médico se calou e fechou o semblante, assumindo um daqueles onde era nítido reconhecer que parecia 'pouco explicado'.

Era um fardo saber tão pouco sobre algo que envolvia a minha vida.

- Seria muito bom ser sincero comigo.

- Sempre fui. Mas você é um paciente que tem tendências alto destrutivas Alfonso. Saber muito sempre te motivou a fazer coisas impensadas.

- Colins, eu não quero morrer, nem me matar. Ouviu quando falei de querer todos os tratamentos possíveis? Isso não é alto destrutivo.

O homem pareceu convencido de que eu falava a verdade. Todos tinham o direito de pensar aquilo, sem sombra de dúvidas, mas eu mesmo pretendia mudar aquela realidade.

- Sua perda de glóbulos vermelhos foi muito intensa e sua anemia foi mais agravante. Está fraco e deitado, com poucos movimentos. Por isso suas pernas adormecem, é natural.

- Com licença - a enfermeira entrou quando eu estava prestes a esclarecer mais algumas dúvidas, interrompendo nossa conversa - Você tem uma visita lá fora.

- Quem?

- Eu - Alice se apresentou entrando sem receio.

- Conversamos mais um pouco outra hora. Agora vou deixá-los a sós.

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