Capítulo 70

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Alfonso Herrera

Anahí chegou tão silenciosa quanto no nosso dialogo pela manhã. Ela parecia distante e com os pensamentos avulsos. Nos seus olhos, notava-se uma maquiagem refeita, tentando camuflar o inchaço e a vermelhidão da ponta do seu nariz.

Discretamente ela deixou a bolsa sobre uma das cadeiras e procurou uma para se sentar.

- Já estou aqui como pediu.

- Que bom que veio.

Mal terminei de falar e Maite apareceu toda empolgada pela função nova que acabava de ganhar.

- Bom dia! Como estão meus dois queridos parentes?

- Esperando.

- Muito bem Annie! Vamos primeiramente conhecer todo o espaço da empresa e logo virão as funções.

Minha esposa foi sendo levada sem muita chance de contradizer. Sentei por trás da mesa e enlacei as mãos, apoiando o queixo. Daquela forma fiquei muitos minutos, pensando em como seria seguido o restante dos dias, até o som do telefone soar e interromper meu devaneio.

- Herrera.

- Acabamos de receber uma carta endereçada ao senhor. Posso leva-la?

- Do que se trata?

- Não há remetente.

- Traga.

Num curto segundo, Suzy entrou, deixou a encomenda e saiu novamente. Olhei intrigado para o pedaço de papel, pegando a pequena faca de abrir correspondências para violar o lacre.

Neste momento eu já devo estar bem longe Alfonso. Irlanda foi o único lugar que achei interessante para me manter distante de tudo e todos em Milão. Ontem eu não estava vestida para sair e sim para viajar, e antes que pense coisas erradas sobre mim, apenas vi seu carro estacionado no meio do meu percurso e arrisquei te encontrar sozinho. Perdoe-me por aquele beijo, mas eu precisava me despedir do único homem que realmente deixei entrar em minha vida. Espero de verdade que seja feliz o tempo máximo que puder... Sinto muito pelo que esta acontecendo. Este é um dos principais motivos da minha partida. Não posso te imaginar diferente do que vi ontem.

Fique bem,

Alice Cecile.

Segurando a carta com as duas mãos, reli mais uma vez e amassei o papei, jogando-o na lixeira. Encostei a testa na mesa e esperei a raiva sair completamente de dentro de mim.

As semanas seguintes foram intensas para todos. Anahí se dedicava a aprender tudo o que minha irmã e Suzy lhe ensinavam sobre negócios, e sobre como tocar a empresa. Algumas vezes ela ficava simplesmente sentada do meu lado me olhando trabalhar, falar no telefone. Participava das reuniões apenas como ouvinte e participante, anotando o que não podia gravar na memória. Vê-la empenhada me deixava satisfeito e seguro com o curso de tudo.

As minhas visitas ao médico ainda eram rotineiras, e em muitas delas, se não em todas, eu ia sozinho. Não gostava de levar ninguém comigo. Até porque não parecia justo que todos acompanhassem a evolução dos sintomas, embora eles fossem impossíveis de controlar ou evitar. Havia noites em que eu me acordava com tanta dor que a única saída era me trancar no banheiro e tomar remédios fortes enquanto sangrava pelo nariz. Muitas dessas situações me deixavam com medo, mas o medo não é bem vindo quando se enfrenta uma doença terminal. Elas são como a noite. Misteriosas, perigosas e negras. Obscuras.

Mas eu não queria pensar naquilo, e sim nas possibilidades de efetuar tudo a tempo. Efetuar tudo o que havia planejado com sucesso. Não existia tempo para sofrer por algo inevitável. Eu precisava apenas deixar todos felizes. Todos satisfeitos.

- Boa tarde senhor, o encontro da sua esposa Anahí esta marcado com os clientes da filial do Sul da cidade.

- Obrigado.

Desliguei o telefone e voltei a escrever e separar tudo o que utilizaria nas reuniões daquele dia e para o meu azar, ou sorte, terminariam tarde. Tarde o suficiente para chegar exausto e somente me deitar.

Antes de sair, a porta do meu escritório abriu e alguém entrou sem aviso algum.

Colins não usava jaleco como sempre costumava vê-lo, ao contrário, o médico apenas trajava uma calça comprida e uma camisa polo.

- Estou um pouco atrasado agora - rebati terminando de arrumar alguns papéis dentro da pasta.

- Vim porque olhei a sua ficha de entrada de dois dias atrás - Quando ouvi aquilo, minhas mãos pararam de se movimentar, e revirando os olhos bufei.

- Não é hora para conversar. Preciso ir para uma reunião

- Herrera, porque não me avisou da sua entrada na urgência com crise de rinorragia?

- Colins, não vai mesmo embora não é?

- Não sem antes me explicar.

- Sinceramente não precisa fazer isso. Você tem muitos outros pacientes com que se preocupar. E eles devem ter mais chances que eu - renunciei - Ainda vou pagar você mesmo sem me atender exclusivamente.

- Não me importa o dinheiro Alfonso. Pensei que tivéssemos um laço de amizade durante todos esses anos. E de verdade fico muito decepcionado com a sua forma de ver a vida e as coisas agora. Eu lido com pacientes piores que você todos os dias, a todo o momento, e se quer mesmo ficar recluso, faça isso. Ignore todas as suas chances. Mas lembre-se de que você tem pessoas que te querem bem até o último segundo.

- Eu sei o que esse sintoma representa Colins, não preciso que venha aqui me oferecer mais remédios do que já tomo e me explique o que já sei.

- Temos uma consulta amanhã.

- E eu vou, como sempre. Prometi que faria o tratamento até o fim.

Sem me dizer mais nada ele balançou a cabeça de forma afirmativa e saiu. A raiva fez minha mão escorrer por cima da mesa lançando um enfeite de metal na parede.

Mesmo inóspito, segurei a mala e andei para fora da sala em direção à primeira reunião no dia.

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Olá amoras!

Bem, venho avisar a todos que os capítulos finais estão próximos :/
Espero que continuem envolvidos com muito carinho ♡

Beijos de luz **

Possession Where stories live. Discover now