Capítulo 16

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Alfonso Herrera

Confesso que esperei alguma coisa mais clássica, até poderia ser algo antigo, mas Anahí me surpreendeu.
Ela tocou o solo de Clocks da banda britânica Coldplay.

Era um belo conjunto de notas, muito bem executadas. Esquecendo que estava despido na sua frente, me deleitei admirando aquela mulher seminua frente ao meu piano, tocando como se não houvesse ninguém ao seu redor. Observei que seus olhos estavam fechados, e o seu corpo era guiado pela música. Decidi recostar no instrumento e escutar até o fim, apreciando seu profissionalismo e habilidade.

Ela manteve os olhos fechados, abrindo-os apenas algumas vez ou outra enquanto me encarava com um leve sorriso saciado.

Passei aqueles três minutos questionando a mim mesmo por sentir tamanha conexão com ela. Nós mal nos vimos e já estávamos dividindo uma noite agradável e finalizada com música. Sempre admirei pessoas que tinham algum talento musical, e embora houvesse um piano na minha sala, eu não sabia tocar. Era apenas um objeto decorativo, mas para Anahí ficou claro que significava muito mais que isso.

Ambos pareciam ligados como uma só voz. Uma beleza singular. Se encaixavam.

Depositando as duas últimas batidas na tecla, ela finalizou e eu me atrevi a dar um curto aplauso. Anahí sorriu como uma menina lisonjeada, se curvando divertidamente para a minha manifestação. Rimos fervorosos e ela levantou tirando toda a minha atenção novamente.
Seu corpo não estava tão coberto como pensei que estaria. Pude ver a firmeza daquela bunda bronzeada saltando por debaixo da camisa. Seus seios pontudos transpareciam.
Ela aparentou estar coberta apenas por um tecido transparente ao invés de um casaco de frio.

- Acabou de me apreciar, Alfonso?

Aquela pergunta fez a minha visão retornar ao rosto dela. Eu havia encarado Anahí sem nenhuma reluta. Ela, pelo contrário, carregava uma expressão divertida enquanto eu me escondi ao perceber que estava ereto.

- O que posso fazer, é inevitável - tentei me redimir e ela sorriu ainda mais.

- Você não sente frio estando assim?

Eu ainda estava sem roupa então decidi colocar alguma coisa. A pedi que esperasse um segundo para pegar um roupão. Quando voltei ela estava passeando com a mão sobre o objeto, avaliando cada centímetro dele.

- Este piano é... Incrível!

- Estará sempre a sua disposição caso queira voltar e tocar outra vez.

- Isso é um convite?

- O que acha?

- Acho que parece um pedido de até breve.

Andei na sua direção e comecei a tocar seus braços, carinhosamente, apertando-os e firmando-os. Aqueles olhos azuis obedeciam cada toque, com concentração, como se tentassem ficar na defensiva. Inexpressivos como uma noite tempestuosa.

- Quero que volte aqui. Gostaria muito de vê-la outra vez, Anahí. - Fui direto e obstinado.

- Sou muito ocupada e tenho uma vida um tanto agitada... - calei e esperei que ela dissesse que talvez fosse inviável nos vermos outra vez, mas não. Ela engoliu a saliva da boca e arqueou a sobrancelha - Tentarei manter contato.

Não pretendi insistir mais do que deveria. Ela tinha todo o direito de escolher se ia me ver novamente, ou não. Já era no máximo raro uma mulher estar no meu apartamento por mais de uma hora.
Fomos tomar banho juntos, e acabamos demorando mais do que o previsto.
Dentro da cabine de vidro eu e ela nos enlaçamos e trocamos carícias demoradas, lentas. A água escorria por nossos corpos nus proporcionando sensibilidade. Não percebemos o tempo passar mesmo que o relógio acusasse mais de quatro horas da manhã.
Eu tinha que trabalhar no dia seguinte, e mesmo assim não me importei de não dormir. Cada segundo com ela devia ser apreciado. Eu não sabia o que ia aconteceu depois.

Antes de guiá-la até o corredor dentro da minha suíte que nos levaria ao elevador, puxei um bloco de notas e em uma das folha e escrevi o numero do meu celular nele, destacando.

- Este é meu telefone pessoal - lhe entreguei e fixei a caneta mais uma vez sobre o bloco - Qual o seu número?

- Eu te ligo - repeliu rapidamente.

Anahí simplesmente deixou claro que não me daria seu contato.

- Como preferir. Espero que realmente ligue.

- Vou ligar.

Ela puxou o casaco e se aproximou despejando um beijo acuado sobre os meus lábios. Nos olhos dela havia tristeza. Aquilo me chamou a atenção, mas não me atrevi a perguntar. Aquela noite tinha sido muito intensa para conseguir saber tudo sobre ela. Nem eu estava disposto a revelar muito de mim.

Assisti ela entrar no elevador e apertar o casaco contra o corpo. Tímida.
Desejei que nosso encontro não fosse apenas aquele. Isso me deixava frustrado.
Eu não sabia se Anahí ia permitir que acontecesse como eu planejava. Não era um homem de muitas expectativas, mas eu queria aquela mulher outra vez, e tinha quase certeza que ela pensava o mesmo.

Depois da porta de metal fechar, respirei fundo e caminhei no escritório. Como estava sem sono resolvi fazer algumas pesquisas relacionadas a ela, invadindo a sua privacidade. Puxei antecedentes, fichas, mas ela parecia invisível. Não havia nada de suspeito.
Pesquisei alguns sites de moda, mas obtive mais decepção. Ela não apareceu em nenhum, a não ser pela sua presença no desfile de Lafaiete. Naquele sim haviam muitas fotos, de vários ângulos e estilos. Em todos ela esbanjava beleza. As outras mulheres pareciam apagadas perto dela. Anahí estava carregada de luz.

Em uma das fotografias, Anahí apareceu ao lado de Ricardo. Não era estranho. Ele era o dono do evento, tinha foto particular com cada modelo.

A sensação de saber mais me obrigou a desligar o computador e descansar um pouco antes do trabalho.
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