Capítulo 46

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Alfonso Herrera

Quando abri os olhos, não deixei de notar a quantidade de gente que estava ao meu redor. Todos andavam de um lado ao outro, ocupados com a suas funções. E uma dela era me fazer voltar ao normal.

Olhei para o lado ao sentir que algo adentrava minhas veias dando certo incomodo. Era um líquido viscoso e vermelho, possivelmente uma bolsa de sangue. Lógico que eu conhecia bem aquelas coisas. Não teria sido a primeira vez que precisei repor meus glóbulos vermelhos baixos acima do normal.

Eu estava cansado, farto de ter que permanecer ali, deitado como um inválido enquanto todas aquelas pessoas me manipulavam quase sem notar minha presença. Mas aquilo não era algo que estava sob o meu controle. Quando menos esperei, o forte sono me fez fechar os olhos, e mesmo com a minha forte reluta, lentamente, adormeci mais uma vez.

Teria valido a pena dormir...

Porque era um sonho bom, um rosto único. A única imagem que pude desejar naquele instante.

Anahí estava sentada ao meu lado, aflita para me ver despertar, tive certeza disso porque assim que abri os olhos totalmente ela ergueu um sorriso esperançoso e apertou ainda mais a minha mão. Tentei sorrir para parecer mais agradável aos olhos dela e pareceu funcionar.

- Não faça mais isso comigo Herrera. Te proíbo de me deixar tão preocupada mais uma vez.

- O que houve com a menina corajosa?

- Ela sumiu assim que você ficou mal.

- Mas isso pode acontecer mais vezes, e por esse motivo preciso dela de volta.

- Vou estar aqui sempre que abrir os olhos, com ou sem ela, vou ficar do seu lado.

Quis limpar as lágrimas que saiam daqueles olhos azuis, avermelhados, mas era impossível. Meu corpo não seria capaz de aguentar, e os fios que me conectavam a monitores também não facilitariam em nada. No fundo ela sabia da minha vontade, por esse motivo enxugou-se rapidamente e voltou a segurar minha mão. As suas estavam quentes, porém molhadas de tristeza.

- Já comeu? - perguntei notando o quanto suas feições transpareciam o esgotamento.

- Faz algum tempo.

- Quero que vá comer.

- E você?

- Estou sendo alimentado como o Drácula, mas parece que esta dando certo.

- Olha senhor Vampiro - rebateu dando risada - Não acho bom deixa-lo sozinho. Quem sabe este sangue não seja suficiente e você resolva sugar de alguma dessas enfermeiras por ai? Tenho que me certificar.

Ambos sorrimos, mas o meu foi com menos vida que o dela. Exibindo seus lábios rosados, com contornos suaves e sem muito desenho, Anahí arrancou uma paz que meu corpo não podia transmitir.

- Prometo que não vou sair daqui.

- Herrera... - grunhiu divertida - Quando sair dessa cama vai levar uns bons sopapos por suas ironias.

- Sopapos? - repeti. - O que seria isso?

- Vai descobrir logo, nem se apresse.

Mesmo depois das minhas tentativas de fazê-la ir até o restaurante do hospital, a teimosa mulher de cabelos castanhos me ignorou e se sentou com uma revista nas mãos. Ela folheava, folha por folha, enquanto eu dizia várias vezes à mesma coisa "vá comer".

Quanta impotência...

Por uma tacada de sorte, eu considerei assim, a porta do quarto abriu e dona Helena entrou rápida e cercada por Maite e Christopher. Ambos foram até a beirada da minha cama, olhar para o meu rosto como se eu houvesse ressuscitado dos mortos.

Possession Where stories live. Discover now