Capítulo 10

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Alfonso Herrera

- E a reunião?

- Os chineses estão aguardando, Doutor.

Aquilo realmente me frustrava. Estar na administração de um negócio tão vantajoso tinha suas positividades, mas ao se tratar de Ricardo, tudo complicava. No fundo eu sabia que ele não ia aparecer no dia seguinte após a sua festa de lançamento para a reunião com todo o pessoal da exportação.

Entrei naquela sala, com os nervos à flor da pele, e fiz o que fazia de melhor: Distrai-los. Mencionei de algumas possíveis exigências e disponibilidades da R. Dress, esclareci as dúvidas e adiantei boa parte. Os homens pareciam ter saído satisfeitos, mas eu não.

Quando me despedi deles e me vi sozinho, interfonei para a secretária e pedi que ela juntasse todos aqueles papeis de cima da mesa.

- Aproveite e mande prepararem o meu carro, preciso sair.

- Doutor Herrera - A mulher parecia indecisa para continuar a fala - Tem uma pessoa na sua sala.

- Quem?

- A senhorita, Alice.

Arfei reclamando com ela sobre o porquê de ser tão desatenta. Será que não se lembrava da minha ordem de mantê-la longe do meu trabalho? Quem era capaz de segurar aquela mulher a final.

Puxei a porta de vidro que dava acesso a minha sala e dei de cara com a silhueta marcada da minha ex-noiva. Ela sorriu graciosa e eu retruquei caminhando para o lado oposto, indo até minha mesa.

Remexendo as gavetas, busquei onde teria deixado as chaves do carro.

- Esta não é uma boa hora para visitas Alice.

- Bom dia para você também, Alfonso - ela tinha um tom amargo na voz, obviamente aborrecida - Seja cavalheiro.

- Preciso sair agora e não terei tempo para conversas, não me leve a mal.

- Mas é claro que sim. Você sempre está sem tempo.

- Por favor, Alice.

- Não - interrompeu ela - Fique tranquilo sobre isso. Não existe nada de surpreendente aqui.

- Quando foi que essa conversa se tornou uma discussão?

- Você precisa ir, e eu preciso manter minha dignidade.

Ela juntou a bolsa de cima do sofá e virou para sair pela porta. Eu estava detrás da mesa e a olhava se desviar por entre os funcionários, andando apressadamente para longe. Não a segui, muito menos fiz menção de me explicar.
Quando algo me frustrava daquela maneira nos negócios, era inevitável não interferir na minha vida pessoal.
Eu era apenas um Alfonso Herrera. O dos negócios.

Encontrada a chave, desci para o estacionamento.

No meio do percurso digitei uma mensagem de texto me desculpando com Alice

Não tinha a intenção de chatear você, mas realmente estava com pressa.
Poderíamos sair para jantar esta noite? Espero que aceite.
Herrera,

Ela me respondeu com um simples, sim, seco e amargurado. Ir para mais um jantar ao lado dela não era exatamente um plano pensado por mim, mas depois de um certo tempo algumas questões passeavam pela minha cabeça. Eu já tinha um pouco mais de trinta anos e talvez fosse a hora de buscar alguém para dividir alguma coisa além de sexo. Alice e eu já tínhamos uma história longa, o que me poupava de iniciar outro relacionamento mais uma vez.

Me faltava paciência para aquilo naquela altura. Ela parecia realmente disposta a ir em frente com sua tentativa de reconciliação mesmo depois da minha falta de sutileza a minutos atrás dentro do escritório. Entristeci ao pensar que ela talvez tivesse se habituado com aquele comportamento tão grotesco.

Dirigi até a empresa de Ricardo torcendo que ele estivesse lá. Pelo menos aquele lugar ele gostava de frequentar, mesmo quando suas noitadas se estendiam além do nascer do sol.

Todas as vezes que entrava naquele saguão imenso onde ficava a recepção, entendia claramente por que ele não abria mão do trabalho. Os funcionários, exceto o pessoal da limpeza que eram de homens, era composto por mulheres, e de certa forma, ele selecionava a dedo cada uma delas. Todas eram bonitas e alinhadas dentro das suas saias pretas de tule.

Ricardo não tinha modéstias na hora de escolhe-las, mas havia uma coisa positiva.
Nunca foram ouvidos boatos de casos dele com aquelas mulheres. Não que eu não duvidasse que elas eram apenas discretas o suficiente.

Andando até o elevador, peguei o primeiro e subi. Assim que cheguei no corredor do último andar meus olhos foram direto para a sala reservada onde sempre conversávamos. A secretária me cumprimentou e pediu que esperasse mais alguns minutos, pois o seu patrão estaria em uma conversa particular.

Aquele sofá, mesmo extremamente confortável, já estava me deixando tenso. Era como se fosse o pior lugar de todos. Levantei indo até o banheiro depois de muitas xícaras de café e copos d'água que a mulher ofereceu a cada segundo tentando me manter sentado.

Na volta, o meu bolso vibrou e eu dediquei a atenção para puxar meu celular quando senti algo pesado e brutal bater contra o meu ombro direito. Firmei o pé para não cair e levantei a vista, um celular tinha caído próximo dos meus pés. Me abaixei para junta-lo e a dona fez o mesmo.

Eu não teria como ver os meus próprios olhos naquele momento, mas tive a certeza de que estariam sem vestígios do tom esverdeado que tinham. Minhas pupilas deviam estar dilatadas.

Aquele corpo envergonhado pelo incidente se desculpava sem me encarar, mas assim que fez isso o azul foi coberto pelo negro.

Ambos ficamos em silêncio...
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