Capítulo 49

1K 92 11
                                    

Anahí

Matias... O motorista dele.

— Se me dissesse por que me sequestrou eu ficaria satisfeita.

Grunhi aquela pergunta como uma felina armada. Ricardo realmente me irritava muito por achar que tinha todo o poder sobre mim e sobre tudo o que eu fazia. Era uma sensação terrível de impotência a que senti sentada dentro daquele carro ao lado dele.

— Não sequestrei você, apenas quero conversar.

— E eu pensando que já tínhamos resolvido todas as pendências entre nós.

— E resolvemos.

— Então qual é o motivo de tudo isso?

— Mesmo que não acredite, sua felicidade me importa muito Anahí — soltei um ar irônico quando ele disse aquilo, julgando o fato dele ter sido o responsável da descoberta infeliz de Alfonso — Sei que fui bruto, inconveniente, mas é porque não tive outra saída.

— Sinceramente a sua preocupação não me interessa.

— Aceito o fato de estar arisca, eu mereço isso, fiz por merecer na verdade. Mesmo assim acho justo que entenda uma coisa.

— Se for falar sobre nós...

— Eu sou sua melhor opção — interrompeu convicto.

Dei uma gargalhada sagaz e amarga, indignada com tamanha falta de noção daquele homem achar que depois de ter o amor da minha vida ao meu lado, seria possível considerar a opção de ficar com ele. Ricardo era deprimente por jogar com peças tão sujas, como fez ao levar Herrera na boate. Sentimentos? Acho que ele nem sabia o que era aquilo.

— Isso não é um jogo de xadrez onde eu deva escolher alguma peça para dar o cheque mate. O único objetivo aqui é a minha felicidade, e ela esta ao lado dele Ricardo.

— Alfonso vai morrer!

O homem alegou aquilo num vociferar violento. Lafaiete esmurrou o vidro da porta ao seu lado e lamentou a dor que sentiu ao fazer aquilo.

— Isso não é verdade — retruquei um pouco silenciosa.

— Você sabe que é Anahí.

— Existem tratamentos e ele está fazendo, e vai fazer todos! — gritei em resposta.

— Mas nem um é capaz de curá-lo. Nunca! — disse pravo — Se essa doença não mata-lo, Alfonso fará por conta própria.

— O que quer dizer com isso?

— Como você é ingênua — o ar deprimido dele me desesperou.

— Fale Ricardo!

Houve uma certa 'contenção' por parte dele, mas logo veio a minha tão temida resposta.

— Herrera não se trata há muito tempo. Ele tentou se matar ao fazer isso e mesmo que volte agora com os medicamentos, já é tarde. Os danos são irreversíveis.

— Se estiver falando isso para benefício próprio...

— Deixe de se fazer de cega — reafirmou nervoso — Acima de tudo ele é meu amigo há muitos anos e saber disso também de deixou mal.

— Você não é médico para dizer as chances dele, então não permito que se intrometa mais uma vez entre nós dois com seus comentários desgraçados.

Alertei segurando as lágrimas que caiam dos meus olhos entregando a minha insegurança com toda aquela situação ao meu redor.

Ele não vai morrer... Não pode!

— Sua reação é aceitável. Compreendo que é doloroso, mas precisa ser sensata.

— O que acha que está fazendo? — questionei — Quer me convencer de que eu deva ficar com você por esse motivo?

— Só quero a sua felicidade, já disse.

— Pois não parece. Isso para mim não passa de prepotência e machismo seu. Se te importa tanto a minha vida e o meu bem estar, porque me atormenta com comentários tão dolorosos e mentirosos?

O homem soltou o ar, cansado de repetir as palavras que fiz questão de ignorar, mantendo-as longe de mim. Lafaiete ficou silencioso por algum tempo, até o carro parar e a nossa conversa parecer ter chegado ao fim.

— Chegamos.

Estava tão concentrada no vazio e na discussão que nem reparei que fazíamos o trajeto da minha casa. Estávamos parados frente ao prédio, mas os meus pensamentos pareceram perdidos. Eu o encarei um pouco mais, da melhor forma possível para ser lida por ele.

— Já faz um tempo que sei onde mora.

Olhei pelo retrovisor e o meus olhos se encontraram com os de Matias. O motorista baixou a vista, envergonhado por ter me delatado.

O pobre homem não tinha culpa de depender daquele trabalho, e eu muito menos naquela altura dos fatos estava disposta a esconder minha casa. Não fazia mais diferença.

— Não quero mais te ver.

— Sinto muito por tudo. Mas quero que pense bem na sua vida, e no fato de que nós tínhamos uma boa ligação. Uma conexão.

— Era sexo Ricardo.

— Seja lá o que for Anahí... Eu mexia com você e sei disso. Não pode negar isso a si mesma.

— Não quero mais. Ver. Você — repeti, mas dessa vez mais devagar, quase em soletração.

Sai do carro e bati a porta. Andei depressa em direção ao elevador, rezando para que ninguém subisse junto comigo, e por sorte, quando a porta abriu ele estava vazio. Praticamente me lancei dentro daquela cabine de metal, recostando nas laterais, desesperada para chegar dentro da minha casa. Precisava deitar e liberar toda aquela agonia de palavras presas.

"Eu mexia com você e sei disso" Muitas pessoas eram capazes de mexer com os sentimentos de alguém. Mas o amor... Ele era único e eu só o sentia por Alfonso, mesmo que não pudesse negar que Lafaiete me atraia. Era normal. Um homem bonito, charmoso e de porte atrai qualquer mulher que tenha um par de olhos saudáveis. Não me culpei por sentir aquilo.

Enfim a porta do elevador abriu e eu destranquei meu apartamento, aliviada por estar num ambiente seguro e silencioso. Tirei os sapatos, segurando a amargura e fui pegar meu laptop. Entrei em várias páginas, sites, matérias, tudo que me falasse sobre a doença dele.

Quanto mais eu lia, mais o desespero me consumia sem piedade. Segurei a boca com as mãos, abafando o choro, por medo de as coisas que ouvi serem verdadeiras. Ricardo foi grotesco ao me abordar daquela maneira, quase que sem respeito pela minha dor, mas teria sido o único a ser sincero.

Não consegui fazer outra coisa que não fosse chorar.

Alfonso estava me esperando...

Me perguntei como eu ia conseguir vê-lo naquele momento? Daquela maneira? Era injusto com ambos, mas eu precisava digerir e pensar. Havia uma única esperança dele conviver com aquela doença, e foi nisso que me apeguei.

Ele não vai morrer...

Encolhi as pernas sobre a cama e abracei o travesseiro, adormecendo e acordando muitas vezes, sem manter um sono pleno. Era mais um descanso de alma, do que físico. Dormir parecia não fazer parte do resto do meu dia...

____________________________

Olá amoras(a)!

Viram que inédito eu postando três capítulos num dia só? "Hahaha"

Isso é para me redimir por todos esses dias que fiquei desaparecida. As férias andam conturbadas e eu acabo sem tempo para revisar e postar. Mas adiantei bem as coisas e fiz isso hoje.

Beijoos de luz :*

Possession Where stories live. Discover now