Capítulo 24

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Alfonso Herrera

A série de ligações perdidas de Alice em meu celular foram à primeira coisa que vi naquela manhã já que estava sozinho, na cama, e esperava uma visão bem melhor que aquela.

Pensei na possibilidade da mulher ter sumido mais uma vez sem avisar, porém logo descartei a hipótese quando ouvi barulhos vindos da cozinha. Ela devia estará lá.

Voltei a atenção para o celular e rapidamente escrevi uma mensagem justificando meu sumiço com trabalho. A última coisa que queria naquele momento era a histeria de Alice dentro do meu apartamento ao ver a minha companhia.

A sua cintura bem demarcada me deixou numa situação desastrosa. Anahí rebolava ao som da sua própria voz, me deixando mais excitado do que nunca. Aquela mulher não parava de me deixar afoito por sexo. Era estranhamente prazeroso. Depois de muito insistir, e tentar distraí-la de sua tarefa ela decidiu considerar a minha proposta.
Seria bom tê-la ao meu lado durante a ceia, tendo noção de que aquilo seria horrível com certeza.

Eu estava na escritório atolado de papéis, mas nem um deles conseguiu dispersar os meus pensamentos. A única coisa que permanecia na minha mente eram imagens aleatórias de Anahí pelo meu apartamento e na maioria delas ela estava sem roupa alguma.
Seu corpo nu jogado pelos cantos, ou sobre o meu peito. Seus gemidos, sua desenvoltura, suas curvas e toda a sua pele macia e perfumada como uma manhã de primavera.

Naquele momento eu estava jogado sobre a minha cadeira recostável, com os dedos entrelaçados analisando minha própria insanidade.

Eu tinha muito trabalho, mas não conseguia efetuá-los.

Com um semblante acomodado a minha secretária entrou se anunciando delicadamente.

- A senhorita Cecile está na recepção.

Revirei os olhos e apertei minhas mãos sobre a beira da mesa puxando a cadeira para fingir estar bem ocupado.
Eu deveria estar, de fato.

Assenti para ela deixar a tempestade invadir minha sala de uma vez, pensando que ganharia alguns segundos de vantagem, mas ela foi rápida como se esperasse próximo da porta.

Com as suas madeixas loiras e penteadas Alice entrou e ao contrário do que pensei, carregava uma expressão sorridente e tranquila.

Atuei folheando algumas pastas enquanto ela se aproximava devagar, acuada como se temesse algo.

- Como está?

- Devia ter avisado que viria - meu comentário matou o seu sorriso.

- Eu sei, mas resolvi fazer uma surpresa.

- No meu trabalho, Alice? - ela arqueou uma das sobrancelhas assim que ouviu minha alfinetada - Sabe que aqui não é um bom lugar. Corre o risco de vir e eu não estar.

- Hostil como sempre - sussurrou.

- Não provoque. Sinceramente tenho muitas coisas na cabeça nesta manhã.

- Tudo bem. A última coisa que desejo nessa vida é atrapalhar o seu trabalho inadiável. Tenha um belo dia, e se preferir, nós nos vemos outro momento.

Maldição.

Aquela mulher tinha o poder de me deixar extremamente indignado com a minha própria atitude. Pare de agir como um canalha com ela Herrera!
O meu subconsciente repetia uma repreensão em defesa de Alice várias vezes. Eu não era assim.
Não era esse tipo de homem.

- Alice, espere - minha abordagem fez a mulher parar no meio do seu caminho de volta.

Ela permaneceu de costas, sem olhar para trás.

Quando me levantei e cheguei perto dela, pude notar que seus ombros estavam caídos. O seu semblante não estava diferente. Ela parecia cansada e desanimada.

- Me desculpe.

- É sempre tão simples comigo - rebateu ainda me ignorando - Tenho escolha?

- Sabe que tem.

- Vamos fazer uma tentativa. - Alice se virou e eu firmei os pés esperando qual alternativa ela soltaria - Vou deixar você pensar bem sobre o que realmente quer no momento. Eu e você já tivemos uma vida juntos e isso nos da a vantagem de pensar bem em terminar algo antes que comece.

- Se acha melhor assim.

- Sim. Eu acho que seria uma boa coisa.

Senti o dever de acalmá-la com carinho e fiz isso passeando minha mão nas maças rosadas dela, enquanto a jovem apertava os olhos. Quando ela os reabriu eu senti vontade de tocar seus lábios, mas Alice recuou se afastando sem demonstrar desespero.

Ela apenas deu um passo para trás e me encarou firme e destruída.

- Não precisa fazer isso.

No fundo ela me conhecia o bastante para saber que aquela atitude não era nada mais que pura compaixão. Era deprimente imaginar a forma como aquela mulher devia ter se sentido sabendo tudo isso.

Eu apenas a assisti sair pela sala, fechando a porta devagar, deixando o seu perfume exalando o ambiente por longos segundos. Era o aroma doce de sempre. Alice nunca mudou seu cheiro.

****

A semana correu e os encontros com Anahí se tornaram mais frequentes. Nossos jantares quase sempre terminavam no meu apartamento, quando não terminavam com o sumiço repentino dela. O misterioso mundo daquela mulher parecia cada vez mais impossível de penetrar, e todas as vezes que eu praticava uma tentativa de invadir o seu espaço ela rapidamente se esquivava com agilidade.

Parecia treinada em esconder sua vida.

Houve situações em que realmente me incomodava o fato de saber tão pouco sobre alguém. Eu sabia que ela estava longe de ser ofensiva, mas como um advogado bem engajado me detive em conseguir aquelas informações. Seria muito abusivo da minha parte investigar sua vida privada através dos meus meios e contatos, mas de certa forma teria como desculpa a minha segurança.

Certo? Não. Eu era um homem adulto e podia muito bem lidar com a minha própria curiosidade. Ou pelo menos tentar.

O olhar sério de Suzy entrando na minha sala com mais uma das suas saias pretas e justas marcando as pernas de forma sufocante me chamou a atenção, ela carregava uma pilha enorme de papéis, maior que as de costume, se equilibrando para poder caminhar até mim.

Ela as largou próximo da minha mesa se desculpando pelo som que as pastas fizeram assim que bateram contra o vidro.

- O que é tudo isso?

- São os documentos da fundação. O senhor me pediu para separa-los.

- Claro. A declaração de renda é essa semana.

- O Dr. Roy, disse que pode ficar encarregado disso se o senhor quiser.

- Prefiro. Depois de amanhã já é Natal e não quero ter que me preocupar.

Eu não olhava muito para a imagem dela na minha frente, mas percebi que estava sendo observado fixamente. Levantei a vista devagar e confirmei o fato dela nem piscar.

Envergonhada, Suzy corou  e apertou as mãos contra o corpo se mantendo mais reta que uma parede.

- Algum problema? - Rebati incomodado com a reação dela.

- Sobre o Natal, Senhor. Teremos folga esse ano?

Baixando a caneta, encaixei meus dedos e encarei a mulher deixando ela sem reação.

Aquele comentário me fez refletir sobre o fato de eu tê-la feito sair da sua ceia de Natal para ir até a casa da minha mãe no ano passado, a fim de organizar alguns assuntos pendentes. O fato de eu odiar aquela data me fazia ser irracional, destruindo a de quem se importava.

- Terão - afirmei voltando a assinar os contratos em que me ocupava.

Mais uma vez não a olhei, mas pude sentir sua energia positiva quando os passos rápidos soaram após ela pedir licença para sair da sala.

Largando a caneta outra vez, sorri de mim mesmo ao perceber minha empolgação para que o dia passasse depressa.
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