Capítulo 42

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Alfonso Herrera

- Não faça isso com essa criança!

Era tarde demais... Quando me peguei e parei para pensar já estava defendendo aquele menino de olhos mareados, sofridos pelo crime que acabara de cometer.

- Você defende delinquentes? - praguejou o senhor de cabelos grisalhos, dono da loja de roupas.

- Os que roubam roupas de frio, sim.

- É dessa forma que todos começam! Não devia se sujar com isso!

- Quanto custa?

- Não justifique esse moleque...

- Eu perguntei quanto custa! - repeti pesadamente.

O olhar assustado do menino ia de mim ao homem, hora sim hora não, disfarçando o quanto ele se sentia inferior àquela discussão. Dado o valor, puxei minha carteira e paguei. O senhor que discutia comigo não fixou feliz em receber aquele dinheiro. Seu desejo, com toda certeza, era prolongar aquela briga a fim de humilhar ainda mais aquele pobre garoto.

Com o dinheiro em mãos ele contou e entrou dizendo algumas palavras que fiz questão de não dar ouvidos.

Puxando o celular, mandei um torpedo para Suzy com o endereço de onde estava pedindo que o motorista fosse me pegar.

Saindo da minha distração, voltei os olhos para o menino e algo me chamou a atenção. Ele tremia o queixo como se estivesse com frio, mas não era bem aquilo. O motivo estava longe de ser patológico.

- Não me culpe, por favor, senhor! - disse por fim, num grito medroso - Perdoe-me por induzi-lo a me dar o que não tenho e o que não é meu. Eu roubei.

O roubo... Que fins teriam aquele roubo. A definição desse termo está em pegar o que não é seu, mas o que exatamente definem as pessoas ladronas? Se aquele pobre e indefeso garoto era ladrão por furtar roupas de frio, contadas a dedo e numa quantidade pensada, eu também me considerava assim por roubar a minha 'chance', ou quando numa transação faço algo mais barato se tornar mais caro.

- Perceba o erro e serás perdoado. Não sou julgador, sou apenas mais um julgado por entre tantos.

O garoto me olhou, olhou e sorriu discretamente. Um riso agradecido. Como eu podia julgar alguém? Esse poder não era meu.

Por um segundo pensei na minha própria situação... Eu a julguei? Quanta hipocrisia minha.

- Onde você mora? - perguntei dando continuidade, passando a mão no seu rosto entristecido.

- Não sei. Mas dormimos no viaduto a dois quarteirões daqui.

Aquilo me destruiu... O termo "mas" foi o mesmo que "nós" Aquilo confirmou minha dedução sobre haver mais proprietários para aquelas roupas.

- Olhe para mim. - pedi me agachando para ficar no mesmo nível que a criança - Vou exigir que você vá até aquele prédio bem ali, amarelo, está vendo?

Ele se virou e confirmou timidamente com a cabeça.

- Lá você será acolhido, junto da sua família durante esse inverno.

- Como o senhor sabe que esses casacos são para os meus pais?

Dando um simples sorriso, apertei o ombro dele e o garoto também pareceu feliz.

- Eu não sei - respondi e ele abriu os olhos - Confiei em você.

- Mas eu não posso lhe dar nada em troca.

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