Capítulo 78

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Anahí

- As Plaquetas estão muito abaixo do nível aceitável na doença dele.

Colins não parecia disposto a falar claramente comigo, e como médico, aquilo era alguma forma que o homem tinha encontrado para fazer o seu trabalho.

 - Mas isso é tão ruim?

- A leucemia está se apropriando muito depressa. Não contávamos com ela, apenas com a doença hemolítica anterior... Mas uma coisa levou a outra e agora estamos enlaçados pelos dois lados.

- Colins, quero clareza. Sinceridade – exigi ao levantar da cadeira - Eu sou mulher dele.

- Anahí, você precisa se sentar. Está gravida e...

- Estou cansada de todos me dizerem a mesma coisa! Eu sei que estou grávida! Mas não estou morta, e preciso saber a verdade...

Meu semblante o fez parecer envergonhado. O olhar cabisbaixo deixava claro que a "tal verdade" também o entristecia.

- O coma foi pelo cruzamento das doenças. Herrera não produz anticorpos, não tem uma defesa imunológica eficiente, a leucemia se disseminou a nível incontrolável.

Foi aí que mais uma vez meus sentidos foram invertidos... Senti uma leve tontura, como se fosse cair ao chão, mas ela passou e eu apenas segurei firme na minha barriga. Eu estava com cinco meses. Meses essas que correram no meu relógio.
Deixei meus lábios terminarem de tremer para perguntar.

- Ele vai ver meu filho?

- O que?

- Vai dar tempo, Colins... Tempo de ele ver nosso filho nascer?

O médico me encarou perplexo. Nada profissional. Aquele homem parecia não ter aprendido a lidar com um familiar no meu estado. Ele devia saber! Devia me olhar com mais dureza, imparcial. Eu precisava de alguém que não sentisse pena de mim.

- A perda sanguínea está controlada através de medicamentos, e só posso garantir mais alguns dias... - apertando o papel que tinha em mãos ele os amassou fechando os punhos - Alfonso não verá o filho.

O meu silêncio calou a sua voz, mas fui aparada por ele assim que apoiei a mão sobre a mesa depois de a tontura retornar mais agressiva. Colins segurou meu ombro e me tocou de forma médica, analisado meu pulso, minha cor, minha força.

- Por favor, não se desespere, sua pressão não pode elevar Anahí. Se isso acontecer pode ser fatal para seu bebê e pra você.

Ele parecia mesmo preocupado.

- Não cuide de mim... Cuide do meu marido. Por favor! - supliquei antes de começar a surtar - Não... Você é um médico, imprestável! Não sabe de nada! Vou atrás de outro e ele não me dirá isso!

- Me olhe...

- Não! Você não entende... Não sabe qual a sensação de imaginar que nunca mais vai ver a pessoa que você ama. Nunca mais vai abraçá-la ou senti-la... Você não entende nada!

Ele apenas me abraçou como se quisesse me calar. Fazer a minha voz desaparecer. Sua mão apoiou minha cabeça, segurando-a em seu peito.

- Eu não posso... Eu pensei que conseguiria, mas não consigo. Não dá. Não há... Como... Conseguir.

- Eu perdi minha filha num acidente de carro... - a surpresa de ouvi-lo falar de repente me silenciou completamente - Ela tinha treze anos e sonhava em ser bailarina... Quando o transporte de urgência chegou ao hospital que eu trabalhava, era meu dia de plantão, mas simplesmente não pude fazer nada. Não consegui salva-la.

Minha cabeça ergueu lentamente para nossos olhares se cruzarem, e eu fui surpreendida pela força dele ao falar sobre aquilo. Não havia lágrimas, apenas vestígios de uma dor guardada.

- Eu entendo o que sente. A impotência é o pior sentimento de todos, e eu a sinto todos os dias no meu consultório, no hospital, quando vejo pacientes chegarem e outros partirem. Eu não era oncologista até a morte dela...

- Porque escolheu isso? Porque algo tão triste?

- Tem tristeza sim, eu concordo, mas aquelas pessoas me mostram o valor da vida... Das pequenas coisas, e graças a isso eu superei a minha dor. Assim como um dia você também irá superar a sua, mesmo que ache impossível.

- E sua esposa?

- Fez o mesmo que eu.

- É médica também?

- Não precisa ser médico para conhecer a superação, basta querer. Ela esteve ao meu lado, porque sabia que eu precisava. Ambos nos unimos. Basta você, Anahí, olhar um pouco mais para baixo e vai ver onde está a sua fortaleza.

- É lindo idealizar as coisas que você diz, mas não é simples.

- Claro que não, e sinto dizer que nunca vai ser. Ao invés disso tente pensar em como foi bom tê-lo ao seu lado.

Depois que Colins foi embora naquela manhã, os tais dias passaram.

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Oi amoras!

Estamos começando com o nada esperado Adeus... Sinto dizer isso, sinto ter que fazer isso... Espero que permaneçam comigo até o ultimo momento... não me deixem sofrer sozinha.

Beijos de Luz **

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