4ª parte do Capítulo XVII

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- Julgas que eu sou estúpido ou burro? Julgas que eu me dei ao trabalho de te capturar, porque não tenho mais nada para fazer? Julgas que eu sei como te chamas e que trabalhas para a Bruxa, por um mero acaso?

Esperei que ela me respondesse e nada.

- JULGAS? RESPONDE? – gritei tão alto que a fiz estremecer.

- Eu não sei do que está a falar.

- Não? Então, és mais burra do que eu pensava ao pensares que podes enfrentar um rei e por pensares que me podes enfrentar a mim sem ter consequências. Caso te falte inteligência deixa-me esclarecer-te que a tua vida ainda está nas minhas mãos, porque és minha prisioneira...

- Irá arrepender-se amargamente pela maneira que me está a tratar – disse ela, interrompendo-me.

- Chiu! – repreendeu-a a minha madrinha. – Vossa Graça está a falar, como ousas interromper?

Arabel calou-se e engoliu em seco a sua raiva. Ela odiava e podia lê-lo claramente no seu olhar.

- Vou dar-te esta noite para pensares melhor no queres fazer à tua vida, Arabel. Ou me contas tudo e colaboras comigo ou então serei obrigado a fazer coisas que não quero. Primeiro, mandarei arrancar-te as penas e mandarei fazer uma bela capa para mandar uma recordação tua à bruxa da tua dona. Depois, mandarei desfazer o feitiço de transfiguração e mandarei cortar-te as asas, porque nenhuma fada que se alie a uma bruxa tem a honra de usufruir do estatuto de fada. Eu próprio me encarregarei que te transformes numa bruxa. E a seguir mandar-te-ei cortar a cabeça. Como vês só te esperarão coisas boas! – ri-me.

Ela quis esconder o seu olhar aterrorizado de medo, mas falhou redondamente.

- Amanhã mal o sol nasça, mandar-te-ei buscar e espero que escolhas o melhor para ti. Percebeste?

Pela primeira vez, vi-a cabisbaixa.

- Percebeste? – insisti.

- Sim – respondeu ela, com um tom que parecia mais que me queria amaldiçoar.

Dei-lhe um sorriso de maldade para que ela percebesse que o sentimento era mútuo: eu odiava-a e amaldiçoava-a.

- Mais uma coisa, eu não gosto do teu tom de voz nem da maneira que te diriges a mim. Isso não são modos para falar nem comigo nem como a minha madrinha que é uma fada de bem, amada pelo seu rei e pelo seu povo. Tento na língua! Leva-a, madrinha, antes que eu a estrangule com as minhas próprias mãos.

Fiquei a mira-la no espelho.

- Faz uma vénia a Vossa Graça, que modos são esses rapariga?! Que educação é a tua rapariga?

Combinamos que para esconder a minha identidade seria tratado por "Vossa Graça", induzindo-a em erro de que eu já seria rei. Se alguma coisa corresse mal, ela não saberia a minha verdadeira identidade.

- Ele não é o meu rei! – respondeu ela, enfrentando-me.

Ela tinha mesmo atitude de bruxa. Independentemente a que reino pertencesse, as fadas deviam reverências a qualquer rei ou príncipe. Mas eu ia ensina-la a comportar-se! Virei-me para o corvo e arranquei-lhe umas quantas penas. Ele piou de dor e ela gritou no espelho. Sem dizer uma palavra, fixei o meu olhar feroz no dela, no espelho e acenei-lhe com a mão indicando-lhe que esperava pela sua reverência. Ela estava com as faces coradas como um tomate de raiva e hesitante pegou ligeiramente no seu vestido comprido em tons de dourado e fez-me uma vénia floreada.

Ergui a cabeça glorioso. Troquei sorrisos com a minha madrinha e sai do quarto para ir jantar com os meus pais. Amanhã saberia tudo sobre os planos maquiavélicos da Bruxa e do seu corvo bruxeado. A bem ou a mal, ela irá falar!

❤❤❤

Passei o jantar inquieto. Mal comi, não ouvi nem metade da conversa e coloquei um sorriso nos lábios para esconder a minha distracção. A Rosa não me saía dos pensamentos. Para além de estar cheio de saudades dela, estava com receio de que ela estivesse zangada comigo. Assim que pude vim para os meus aposentos. Passou-me uma ideia louca pela cabeça e o meu coração incentivava-me: "vai visita-la agora!". Não era uma hora adequada para uma visitar uma dama, mas eu precisava de a ver, de matar saudades e explicar-lhe o porquê de falhar na visita desta tarde. Fui à arca buscar a minha capa com capuz, coloquei-a e sai apressadamente para a estábulos para ir buscar o Vendaval.

 Continua...

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Espero amanhã escrever o encontro do Filipe e da Aurora e publicar  o mais depressa possível.

O que é que acharam da fada Arabel?

Pensei que os leitores podiam influenciar  a vida da fada/corvo. Deveria morrer ou viver?

beijos enormes





O AMOR NÃO DORMEWhere stories live. Discover now