2 parte - Capítulo XIV

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Olá, boa noite! Bruxa à vista, cuidado, meninas!!!

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Como não podia deixar de ser, observei-a desde a ponta do vestido até à ponta do cabelo. Oh, esta tinha aspecto de bruxa! Ela era impressionante como a Malévola no vestuário e na beleza. Trazia um vestido longo de veludo roxo, mas estava coberta por uma meia capa exuberante. Seria possível ser feita de penas? Com a magia tudo era possível! As penas eram tão brilhantes e negras como as do corvo. E uma ideia maléfica passou-me pela cabeça: podia oferecer uma igual à Bruxa feita com as penas da sua mascote! Ela caminhava calmamente, de cabeça erguida como se usasse uma coroa, o vestido varria o chão e emanava um aroma fresco dos campos na Primavera. Quando ficamos finalmente frente a frente, a capa abriu-se magicamente e ficou apenas suspensa nos ombros e adornava as suas costas. Então, foi revelado o vestido por completo. Tinha um decote quadrado, onde repousava um medalhão que suspendia de um colar de prata e as mangas eram rendadas. As mãos repousavam caídas ao lado do corpo e a do lado direito segurava a varinha. Ao ver aquele objecto um arrepio desceu-me pela espinha. Odiava varinhas, principalmente nas mãos das bruxas! Admirei o seu rosto. Os cabelos eram pretos como o carvão, e estavam presos num rabo de cavalo tornando os fios num único caracol, os olhos lembravam-me duas azeitonas, a pele parecia leitosa e o sorriso era... hesitante. Surpreendeu-me ao ver nela uma expressão reservada.

- Vossa Graça – fez uma profunda vénia que quase bateu com o nariz no chão.

Oh, ela pensava que eu era o rei. Não iria corrigir o seu engano. A verdade é que fez um cumprimento de acordo com o meu estatuto, ao contrário da bruxa Margarida, mas não me deixei impressionar. Dei-lhe um sorriso gelado.

- Querias ver-me? – perguntei.

- Sim, Vossa Graça. O meu nome é Morgana.

Tinha mesmo nome de bruxa, pensei.

- Chegou aos meus ouvidos que procura uma bruxa que tenha o conhecimento da juventude.

- É verdade – confirmei. – Possuís o que eu procuro?

- Absolutamente, Vossa Graça.

A primeira reacção da minha madrinha foi apertar o meu ombro. Eu mantive a minha expressão, o meu sorriso gelado, porque esta era a segunda vez que uma bruxa vinha ao meu encontro afirmando ter o que eu tanto desejava e no entanto tudo não passava ainda de um sonho. Mas estaria ela disposta ajudar-me em troca de um pagamento justo? Ela era uma bruxa e eu não confiava nas nelas!

- Espero que também te tenha chegado aos ouvidos que o pagamento para esse serviço são dois baús cheios de moeda de ouro – declarei eu, em alto e bom som, para deixar este assunto bem esclarecido.

- Foi exactamente o que ouvi, Vossa Graça.

- Será esse o teu pagamento – insisti, com um ar régio.

Ela assentiu com a cabeça. Até parecia mentira!

- Qual é a magia que pode devolver a juventude? – perguntou a minha madrinha, tomando as rédeas da conversa, porque era especialista em magia.

Fiquei nervoso. O meu coração entusiasmou-se, como não podia deixar de ser, e acelerou os batimentos cardíacos.

- Não é exactamente o que estão à espera... Na verdade, que eu saiba não existe um feitiço, uma poção ou uma maldição que possa devolver a juventude.

Eu sabia que não podia confiar em tanta bondade! Elas estão sempre a enredar-nos de alguma maneira. Mas o que ela pretendia com isto? Afirmava uma coisa e logo a seguir desmentia.

O AMOR NÃO DORMEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora