Capítulo IV

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Boa tarde!!! Mais um capítulo!!

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... Eu não estava sozinho no castelo!? Quem seria?

No outro lado da cama, estavam três criaturas minúsculas. Recordava-me bem delas, eram as três fadas de Olisipo: Lucy, Dulce e Fabiola. Eu, em criança, adorava-as, porque elas sempre me presenteavam quando vinha ver a minha prometida que era apenas uma bebé. A minha prenda preferida foi uma espada de madeira que deu muitas dores de cabeça ao meu pai, porque andava sempre a querer lutar com os soldados e às vezes magoava-os sem querer.

- Príncipe Filipe? – perguntou novamente.

- Sim, sou eu, Lucy.

- Oh! – exclamaram as três fadas, levando as mãos às suas pequenas bocas.

- Lamento muito, querido! – disse Dulce, voando até mim para me fazer uma carícia na minha face envelhecida. - Tem que sair daqui, Príncipe. Faltam poucos minutos para o feitiço se quebrar e a Aurora acordar.

- E a Aurora não me vai reconhecer – murmurei, com muita tristeza.

- Não, meu querido. Ninguém se vai lembrar que esteve a dormir por oitenta anos. Estes oitentas anos não passarão de uma lenda. Oh, como lamento, meu Príncipe! – disse Fabiola, meio chorosa.

- Temos que o tirar daqui, Príncipe – insistiam elas, preocupadas.

- Eu gostava tanto de a ver acordar. Podiam-me ajudar, por favor – pedi. – Mereço alguma alegria depois de tudo o que passei.

- O Príncipe merece a felicidade toda deste mundo – disse Fabiola, agitando a varinha sobre mim.

Vi um brilho cair sobre mim, mas não senti nada de diferente. O que é que ela me teria feito?

- Vai ficar invisível por algum tempo, Príncipe Filipe. Só nós o poderemos ver.

Parecia-me um feitiço genial. Eu estaria ao lado do meu amor para a ver despertar da maldição e seria o primeiro a ver os seus belos olhos voltarem à vida.

- Pu chim, pu chim! – enfeitiçaram as fadas a elas próprias.

As fadas normalmente gostam de ser pequeninas. Mas quando queriam ou necessitavam transformam-se e ficam da altura de qualquer humano. E foi isso que acabaram de fazer. Estavam mais altas do que eu, aqueles seres minúsculos!

Lucy era vaidosa e sorridente. Eu diria que ela era filha do sol! Porquê? Os seus cabelos ondulados eram loiros, mas ela deu-lhe brilho ao enfeita-lo com pequenos brilhantes. E era tão atenciosa que reparava sempre quando eu, em criança, tinha alguma ferida e curava-a.

Dulce era um doce. Era aquele tipo de fada madrinha que todas as crianças queriam ter. Fazia sair da sua varinha rebuçados e mais rebuçados... Eu adorava, quando o fazia só para mim. Ela era a mais redondinha das três. Não quero dizer que seja gorda, mas tem uma barriguinha saliente. Mas era a mais bonita das três. Tinha tudo em formato pequeno (até quando se transformava em adulta): a cara, os olhos, o nariz, os lábios, os dentes e as orelhas. Parecia uma boneca de longos cabelos castanho escuros.

Fabiola era distraída e cómica. Era a que falava sem pensar e adorava sempre dar a sua opinião, mesmo que não a tivessem pedido. Nunca me esqueci, uma vez, elas foram visitar os meus pais e a mim a Aragão e ela quis-me presentear, mas não sabia da sua varinha. Não fiquei triste, apenas me ri da sua expressão cómica ao descobrir que tinha perdido algo tão importante. Nessa altura, eu já era travesso, tinha uns doze anos. Ela era a fada mais engraçada para qualquer criança rir. Adorava a cor azul, por isso os seus vestidos eram sempre azuis. E de aspecto físico sobressaía os seus cabelos castanhos claros entrançados numa trança que caía sobre o seu ombro direito e os seus grandes olhos castanhos-esverdeados.

Quanto ao vestuário, por norma, todas as fadas gostavam de vestidos leves e esvoaçantes.

- E a minha fada madrinha? – perguntei, com saudade e curiosidade.

Sim, eu também tinha uma fada madrinha. Seu nome era Violeta.

A riqueza dos reinos também era influenciada pelas fadas que tinham, porque ajudavam os seus soberanos a reinar. Mas as fadas não se podiam comprar ou dar. Elas nasciam em manhãs de muito nevoeiro, em flores mágicas que desabrochavam e no seu interior repousava um ser ainda mais minúsculo do que costumam ser, nua e com asas. As fadas bebés não eram iguais aos outros bebés, porque cresciam depressa, aos dois anos atingiam a maturidade e viviam centenas de anos. As fadas pertenciam ao reino em que nasciam, era uma lei absoluta. Esta lei era das temidas e respeitadas pelos reis e o povo, pois a sua desobediência podia significar o pior: entrar em guerra.

Lembro-me tão bem de os meus pais rezarem muito nas manhãs de nevoeiro para receberem a notícia de que uma fada ou mais tinha nascido em Aragão. Mas tal, nunca aconteceu. O reino vizinho, o reino da minha prometida, tinha mais sorte nesse aspecto.

Olisipo era um dos reinos mais ricos em fadas, pois o rei Dinis tinha três fadas ao seu serviço. Mas ouvi contar que em outros tempos tinha tido quatro fadas. Nunca a conheci a quarta fada, nem sei o que lhe aconteceu.

- A Violeta está a guardar o reino de Aragão – respondeu Dulce. - Como sabe, Príncipe, por lá o tempo também parou e está tudo adormecido.

Eu anui com a cabeça. Será que ela ainda se lembra de mim? Será que ela sabe que é hoje que serei libertado e me procurará? Espero bem que sim! Agora mais do que nunca precisava da minha fada madrinha. No meu reino, só ela se lembrará do que aconteceu, só ela acreditará que eu sou o Príncipe. Preciso que ela me apoie e cuide de mim como quando eu era pequenino.

Lucy, Dulce e Fabiola sentaram-se, em fila indiana, na gigantesca cama da Aurora.

Percebi que a hora da maldição acabar tinha chegado! Aproximei-me de novo da cama, do lado oposto das fadas.

- Cheguei tarde demais – queixei-me, com desgosto. – Perdoa-me , meu amor!

- Oh, não! - exclamaram as três.

- Não pense mais nisso, meu Príncipe. A malvada da Malévola é que o impediu de salvar a Aurora – disse Lucy, com sinceridade.

- E ela também é culpada pela morte de tantos príncipes que tentaram salvar Aurora – acrescentou Dulce.

- Só o beijo do verdadeiro amor a poderia libertar do sono profundo – cantarolou Fabiola.

- Cala-te! – repreenderam as outras duas.

Debrucei-me sobre o rosto do meu amor, da minha princesa prometida, do meu mais que tudo para me despedir.

- Ah! – soltaram as três, com esperança.

Se pensavam que eu ia depositar um beijo nos lábios da Aurora, enganaram-se. Eu não me atreveria a tal. Não passava de um velho e ela ainda era uma menina. Guardava por ela o sentimento mais profundo e tinha consciência de que o nosso amor se tinha tornado impossível. Beijei-lhe a testa. Senti as lágrimas a correr-me pelo rosto, por mais que me esforçasse não era capaz de contê-las.

Algo aconteceu com a porta do quarto que chamou atenção de todos. Olhei para as fadas e elas ordenaram-me silêncio:

- Chiu! – levando o dedo indicador aos lábios.

Compreendi que tinha chegado o momento e não podia falar, nem fazer barulho. Eu não passava mesmo de um fantasma! Roubaram-me o meu tempo! Eu deveria estar deitado algures no castelo a dormir um sono amaldiçoado, cheio de pó e teias de aranha.


Continua...

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Contem-me tudo. O que acharam dos novos personagens?

Gostaram? Ou não?

beijinhos, até à próxima

O AMOR NÃO DORMEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora