5ª parte Capítulo XVI

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Olá, olá! 😉😆
Mais um capítulo! Boa leitura!

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Quando menos esperava, nos braços da minha amada, a minha visão foi me roubada. Tive uma visão dos infernos! Paredes de pedras frias e escuras erguiam-se, para lá de um fosso, para formar a fortaleza da Bruxa. Foi naquele lugar horrível que vivi ou perdi oitenta anos da minha vida. Através de uma janela suja de pó, vi a Bruxa a conversar com o corvo. A maldita ave estava empeloirada no parapeito da lareira, enquanto ela lhe falava, falava, falava... O timbre da sua voz era demasiado baixo para perceber fosse o que fosse. O Justiceiro encontrou-o e agora era uma questão de tempo para o ter no meu poder.

- Filipe, tenho que ir - desprendeu-se do meu abraço.

- Já? - quase gritei, tal foi o meu espanto. Ou tempo passou a correr e não dei conta ou... - Estás a fugir de mim, Rosa?

A minha visão estava turva e não a conseguia ver. Bolas! Pestanejei duas vezes com a esperança de recuperar a minha visão mais depressa.

- Claro que não! Hoje, prometi às minhas tias que as ajudava a escolher os tecidos para os novos vestidos da rainha. Tenho que ir mais cedo para casa. É só isso, Filipe.

Entristeci. Estivemos tanto tempo separados e agora que voltamos a reencontrar-nos, a estar juntos, o tempo voou e parecia que me doía a ideia da separação.

- Rosa - peguei-lhe nas mãos, carinhosamente -, quero te pedir que tenhas cuidado. Não converses com estranhos, não confies em ninguém...

Ela riu-se.

- Nesse caso, não deveria estar aqui a conversar contigo e pressuponho que também não deva confiar nas tuas palavras.

Sem dúvida que o meu pedido era irónico. Sorri-lhe.

- Vivemos tempos perigosos, Rosa. Eu apenas te quero proteger. Se vires algo estranho, o que seja, quero que me contes. Promete-me que vais ter cuidado.

- O que é que se passa, Filipe? - o seu tom de voz parecia assustado.

- Conflitos entre reinos - menti. - Aparentemente, vives afastada de tudo, mas na verdade vives na fronteira de Olisipo e Aragão. Podem passar por aqui pessoas com más intenções como espiões ou pássaros que nunca vistes antes...

- Pássaros? Que mal pode fazer um pássaro?

- Eles são portadores de cartas secretas. Não te aproximes de nenhum pássaro que nunca tenhas visto, porque se ele pousar aqui é porque o dono não deve estar muito longe.

- Devo ficar preocupada?

- Não. Apenas, deves ser cuidadosa e não confiar em ninguém além das tuas tias... e em mim, por mais irónico que pareça. Se algo te acontecer, Rosa, o que será de mim? Não te posso perder. Tu és a minha vida!

- Não digas essas coisas, Filipe - baixou a cabeça para fugir ao meu olhar, talvez por tímida. - Deves conhecer muitas raparigas... mais bonitas e requintadas.

- Sim, conheço. Mas nenhuma é tão bela como tu! - contraponho eu, com um sorriso.

Ela corou e ficou com um encanto enternecedor.

- Prometes-me que vais ter cuidado - insisti.

- Sim, eu prometo. Agora, devo ir.

- Oh, não - disse eu, com queixume.

- Tenho mesmo que ir, Filipe.

- Encontramo-nos, amanhã, à mesma hora?

Ela abanou a cabeça afirmativamente.

O AMOR NÃO DORMEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora