Estou disposta a ouvir...

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Emma não pensou duas vezes, sentiu-se tão mal ao ver aquela cena que sua única reação foi sair correndo, deixou as coisas lá mesmo e voltou para casa dos pais. Gretchen foi embora logo em seguida.
Emma estava sentindo seu coração quebrado, não podia acreditar que a pessoa que ela mais amou em toda sua vida fosse capaz de traí-la daquela forma, na casa que  elas conquistaram juntas, na cama que fizeram amor e brindaram o futuro juntas, tudo aquilo foi jogado pelo ralo. Sentou-se na porta de casa e desabou todas as lágrimas e dor que tinha por dentro. Regina era sua maior admiração, mas é das pessoas que amamos que vem as maiores decepções, porque nos importamos com elas, criamos expectativas com elas e quando essas expectativas são quebradas, nós quebramos junto.
David saiu lá fora, escutou soluços e foi ver o que estava havendo.
- Emma? – chamou David sentando-se do lado da filha que estava desolada.
Emma não conseguia falar, apenas chorar, se tentasse forçar uma palavra, choraria ainda mais.
- Você não estava indo para casa que comprou com Regina? O que aconteceu? – perguntou David.
- Não quero falar sobre isso! – disse Emma soluçando.
- Vocês brigaram? – perguntou David.
- Antes fosse só uma briga... – disse Emma deitando no ombro do pai.
- Me conta, desabafa... – disse David.
- Não posso, é a mesma coisa que enfiar uma navalha em meu peito. – disse Emma.
- Levante-se, vamos para o seu quarto. Se continuar aqui vai acabar ficando doente... – disse David.
- Deixa eu ficar aqui um pouco! – pediu Emma.
- Tudo bem... – disse David.
- Me abrace, pai! – pediu Emma.
Ficou ali por mais alguns minutos e foi para o seu quarto, precisava ficar sozinha, a todo momento as imagens de Regina com Gretchen na cama a perturbavam, quando lembrava, o choro vinha sem que pudesse controlar, não conseguiu dormir nem por um minuto naquela noite. Não conseguia nem imaginar Regina sendo de outra pessoa.
- Por que ela mentiu para mim?  - perguntou Emma a si mesma.
- Por que ela me traiu? Por que não foi sincera? – perguntou Emma em voz alta sozinha no quarto.
- Achei que me amasse... – repetia Emma a noite inteira.
Regina acordou mais do que atrasada, não viu Emma chegar, não soube o que havia ocorrido na noite anterior. Apenas ficou se perguntandoo o porquê de Emma não tê-la acordado. Percebeu que Emma havia largado as coisas na sala e não conseguia entender o que poderia ter acontecido. Pensou que talvez ela dormiu demais depois do analgésico e Emma chegou e não quis acordá-la, e pensou o mesmo sobre aquela manhã. Arrumou-se e foi para delegacia.
Gretchen percebeu a dor de Emma e não conseguia tirar o sorriso vitorioso do rosto. Emma não conseguia olhar na cara daquela mulher, estar no mesmo ambiente do que  ela e  Regina juntas era muita tortura. Tentava ser forte e ignorar toda aquela situação.
Ao ver Regina entrar, Emma levantou-se e foi ao banheiro para não encará-la, não tinha coragem ainda, olhava-se no espelho e perguntava-se onde havia errado... seu amor não era suficiente para Regina? Não era capaz de fazê-la feliz  e isso a levou procurar por outra pessoa? Não conseguia parar de chorar, a sua dor estava transformando-se em ódio, a vontade que tinha era de rasgar a cara de Gretchen ali mesmo.
Regina não entendeu o motivo de Emma ter virado as costas quando ela chegou, entrou em sua sala com um nó na cabeça.  Aguardou Emma voltar, estava demorado muito por sinal. Sentia que algo bom não seria, sua intuição dizia que o que viria pela frente não seria fácil.
Todos perceberam que os olhos de Emma estavam inchados de tanto chorar, mas não quiseram perguntar o que havia ocorrido.
- Emma, pode vir até a minha sala? – perguntou Regina.
Emma não levantou o olhar para encarar Regina. Não respondeu nem que sim e nem que não, ficou parada por alguns instaantes tentando reunir forças para olhar nos olhos de Regina novamente.
- O quê quer? – perguntou Emma secamente.
- Por que não me acordou quando chegou? – perguntou Regina.
Emma estava estarrecida com o cinismo de Regina, pelo menos era o que pensava  dela naquele momento.
Emma engoliu o nó que estava atravessado em sua garganta, respirou fundo e tentou falar.
- Você não percebeu quando cheguei? – perguntou Emma.
Pensou que Regina estaria bêbada demais na noite anterior para não ter tomado o cuidado de não ter sido flagrada. Emma fingiu que não sabia de nada, esperava uma confissão de Regina.
- Não percebi, acho que peguei no sono cedo demais. Que horas chegou? – perguntou Regina.
- Era quase meia noite! – disse Emma tentando esconder a sua dor.
- Por que está assim? Está se sentindo bem? – perguntou Regina.
- É apenas cansaço depois  de ter organizado tantas coisas... – disse Emma.
Estava tentando ver até onde Regina iria com aquela farsa.
- Por que não me acordou hoje de manhã? – perguntou Regina.
- Achei que precisava dormir mais. – disse Emma.
- Eu queria que tivéssemos jantados juntas. – disse  Regina.
“Como ela tinha coragem de me dizer aquilo depois do que fez? Falsa! “ – pensou Emma.
- Eu avisei que não teria horas para chegar. – disse Emma.
Regina aproximou-se e tentou beijá-la. Emma virou o rosto.
- O que está acontecendo com você? – perguntou Regina.
- Você é uma tremenda mentirosa! – disse Emma.
- O quê? Do que  está falando, Emma? – perguntou Regina.
- Pergunte a sua consciência! – disse Emma.
- O que eu fiz? – perguntou Regina.
- Não se faça de desentendida! – disse Emma.
- Por que  está falando assim comigo? – perguntou Regina.
- Eu não sou nenhuma idiota para você estar gosando da minha cara! – disse Emma.
- Eu não estou te entendendo! Fiquei te esperando chegar e agora me trata assim? – perguntou Regina.
- Percebi o quanto estava me esperando, estava muito ansiosa para a minha chegada, tanto que não pôde controlar-se e procurar uma distração até que eu chegasse! – disse Emma colocando todo o peso na voz.
- Emma... eu não sei o que está acontecendo, eu realmente não sei! Estávamos tão bem e agora você está falando coisas que estão me deixando confusa, onde quer chegar? – perguntou Regina.
- Vai continuar com seu cinismo e continuar com seu teatro fingindo que não sabe o que fez? – perguntou Emma.
- Não, eu realmente não sei o que  está havendo! Eu não sou cínica e nem estou fazendo teatro algum, ainda mais para você que tanto amo. – disse Regina.
- Claro! Tive um deslumbre  de todo o seu amor para comigo ontem a noite! – disse Emma deixando uma lágrima escorrer.
- Você está louca? De que me acusa se nada fiz! – disse Regina.
- Tudo que eu sentia por você, amor, admiração, paixão, desejo... acabou! – disse Emma.
- Emma, você está jogando fora tudo que construímos juntas? A possibilidade de um futuro lindo, de um amor  que jamais senti por outra pessoa? Você está me trocando por alguém?  Eu não consigo compreender! – disse  Regina.
- VOCÊ JOGOU FORA TUDO! – gritou Emma saindo.
Regina ficou parada por alguns instantes tentando processar tudo aquilo.
August, Killian  e Kristin não tiveram coragem de entrar no meio, ficaram apenas quietos em seus cantos. Gretchen não podia estar mais feliz, o seu plano saiu perfeitamente bem, só estava no aguardo para aproximar-se se Regina como boa samaritana novamente.
Regina sentiu um peso tomar conta de si. Por mais que tentasse não conseguia compreender aquela situação. Será que Emma estava com outra pessoa  e estava arrumando motivos para brigas? Isso que passava em sua cabeça.
Emma a desprezou e a ignorou pelo resto do dia. Aquilo a feria profundamente. Tinha vontade de sair correndo dali.
Emma não sabia se odiava Gretchen ou Regina em maior intensidade, não poderia explodir ali por ser seu ambiente de trabalho.
Regina foi embora mais cedo, quis ficar sozinha  um pouco, lembrou-se que Gretchen a havia levado para casa e começou a pensar na possibilidade de que  Emma pudesse ter visto e imaginado coisas. Não conseguiu ter uma conversa amigável com ela, não estava aberta, estava extremamente ferida e não conseguia raciocinar direito. Emma ficou ali até mais tarde, queria extravasar a sua raiva trabalhando.
Gretchen ficou  esperando Emma sair. Queria ferí-la ainda mais.
- Deve estar imaginando o que eu e Regina fizemos ontem a noite... – disse Gretchen a Emma ao lado de fora da delegacia.
- DESGRAÇADA! – gritou Emma partindo para cima de Gretchen mas controlou-se por um instante.
- É, eu a vi chegando! Mas Regina já estava dormindo como um anjo depois de tanto prazer que  eu lhe causei! – disse Gretchen.
- CALA A BOCA! EU NÃO QUERO OUVIR VOCÊ LATIR MAIS! – gritou  Emma.
- Regina é maravilhosa! Achei que ela te amasse, mas na minha primeira proposta ela aceitou deitar-se comigo quando estava presa, estava ali tão sozinha e carente, não recusaria uma bela noite de prazer com uma mulher como eu. – disse Gretchen.
Emma virou-se para ir embora mas Gretchen não permitiu.
- Sabe o que  ela falava no meu ouvido? “Me fode mais”, “Você fode muito gostoso”... – disse Gretchen.
- Vadia! Eu não quero ouvir nenhuma palavra sequer. Você me dá nojo! – disse Emma.
- Ela me disse que adora fazer amor comigo! – disse Gretchen.
Emma não suportou mais aquelas provocações, partiu para cima de Gretchen com tudo, deu-lhe um soco na boca mas Gretchen revidou. Era mais alta e mais forte que Emma, mas a  loira não era ruim de briga, derrubou Gretchen no chão e a socou o máximo que pôde.
- SAIA DE CIMA DE MIM! – gritou Gretchen tentando empurrar Emma.
- PUTA! – gritou Emma arrancando sangue do nariz de Gretchen.
- Me solte  sua loira aguada! – disse Gretchen conseguindo livrar-se de Emma.
Emma empurrou Gretchen contra a parede e apertou o deu pescoço.
- Isso, me mate! – disse Gretchen com dificuldade na voz.
- Isso é pra você aprender a não se meter com mulher alheia! – disse Emma dando-lhe um soco no estômago.
Gretchen contorceu-se de dor, mas não se arrependia do que havia feito.
Emma foi embora com a boca cortada, seu lábio estava sangrando e colocou um gelo ao chegar em casa.
Ingrid preparou um belo jantar para Cora, arrumou-se bem e perfumou-se. Já eram 20h e Cora não havia aparecido. Passaram cinco, dez, quinze minutos e nada de sua amada aparecer. Apagou as velas com um pouco de saliva na ponta dos dedos e deitou a cabeça sobre a mesa. Sua companhia tocou.
- Pensei durante o dia inteiro se viria ou não, mas acabei decidindo que sim. Talvez eu esteja sendo idiota novamente, mas... – tentou dizer Cora.
Ingrid a agarrou e a beijou sem aviso prévio, a domou e não a deixou falar ou pensar em mais nada. Beijaram-se até seus fôlegos acabarem.
- Não acredito que veio... – disse Ingrid.
- Depois de ter sido recebida com esse beijo, não me arrependo de ter vindo. – disse Cora.
- É claro que não! – disse Ingrid.
- Esse banquete todo é para mim? – perguntou Cora observando a mesa.
- Especialmente para você! – disse Ingrid.
- Orquídeas? – perguntou Cora.
- Sim, meu amor! – disse Ingrid.
- Você não se esqueceu... – disse Cora.
- Como poderia? Você sempre amou essas flores! – disse Ingrid.
- Fico feliz por lembrar-se. – disse Cora.
- Sente-se... – pediu Ingrid afastando a cadeira para que Cora pudesse sentar-se.
- Obrigada! – disse Cora.
- Acho que  esquecemos de algo... – disse Ingrid.
- O quê? – perguntou Cora.
- Prazer, sou Ingrid! – disse Ingrid.
- Oh! Claro... prazer, eu sou Cora! – disse Cora.
- Você realmente é a mulher mais bela que conheci em toda a minha vida! – disse Ingrid.
- Me sinto lisonjeada. É muito bom receber esse tipo de elogio de uma mulher como você. – disse Cora.
- E a senhora gosta de vinho tinto ou branco? – perguntou Ingrid.
- Tinto. – respondeu Cora.
- Suave ou seco? – perguntou Ingrid.
- Suave, de seco basta a minha vida! – disse Cora.
- Mas podemos molhá-la, não acha? – perguntou Ingrid.
- A senhora está muito libidinosa para um primeiro encontro. – disse Cora.
- Me desculpe, prometo tentar me conter, mas é difícil manter  a compostura diante de tão bela dama! – disse Ingrid.
- Nossa, está tão galanteadora! – disse Cora.
- Aqui está o seu vinho, bela dama! – disse Ingrid beijando a mão de Cora.
- Quando cavalheirismo! Ou seria damismo? Essa palavra existe? – perguntou Cora.
- Acho que não, mas deveria existir! Nosso vocabulário é tão machista... – disse Ingrid.
- Mas podemos reinventar! - disse Cora.
- Sempre podemos começar do zero. – disse Ingrid.
- Que banquete cheiroso, posso? – perguntou Cora.
- Deve! – disse Ingrid.
- Hum... está maravilhoso! – disse Cora.
- Não mais do que você! – disse Ingrid.
- Que linda! – disse Cora.
- Temos um futuro juntas ? – perguntou Ingrid.
- Ah... Ingrid! Queria poder dizer que sim, mas tenho o Henry... – disse Cora.
- Henry, Henry, sempre o Henry! Pense um pouco em nós! – disse Ingrid.
- Não posso simplesmente apagar a vida que tenho com ele! – disse Cora.
- Ele está sempre no nosso caminho... como podemos nos libertar da sombra dele? Você me ama e eu sei disso, você sabe disso! – disse Ingrid.
- Não fique nervosa, eu sei que  propomos vivermos  nós três juntos e você não quis. Estava certa, não daria certo. – disse Cora.
- E? – perguntou Ingrid.
- Eu não sei... – disse Cora.
- Que providências terei que tomar para que você possa decidir? – perguntou Ingrid.
Regina procurou Zelena , precisava dos abraços da irmã mais velha. Chegou desolada na casa dela e percebeu também que Zelena não estava nada bem.
- O que houve? – perguntou Zelena.
- Emma está me tratando mal, está sendo indiferente comigo... – disse Regina.
- Estamos no mesmo barco,  Ruby não quer mais saber de mim! – disse Zelena.
- Eu sinto muito! Sei o quanto gosta dela... – disse Regina.
- Eu também sei o quanto ama Emma, o quanto queria dividir o resto de sua vida com ela, me conter o que aconteceu exatamente. – pediu Zelena.
Regina deitou-se no colo da irmã  e contou toda a história. Zelena também desabafou.
- Eu te amo, Zelena! – disse Regina.
- Eu também te amo! – disse Zelena acariciando os cabelos de Regina.
- Você não está sozinha! – disse Regina.
- Sei que a gente quase não tem tempo de ficarmos juntas, mas não me esqueço de você! – disse Zelena.
- Nem eu de você. – disse Regina.
Emma pegou uma garrafa de uísque e mexeu em uma caixa que estava em seu quarto, um pequeno pedaço de papel caiu. Estava escrito o número de Lily. Pensou e repensou, onde será que ela esteve durante o tempo que a abandonou, gostou muito dela no passado e começou a despertar a sua curiosidade. Será que Lily teve um bom motivo para sumir de sua vida sem avisar? Por que não perguntou antes? Talvez porque estava cega pelo amor que sentia por Regina, sempre foi fiel mas foi apunhalada pelas costas. Discou aquele número pelo seu celular.
- Alô?! – atendeu Lily.
- Lily, estou pronta para ouvir o que tem a dizer... – disse Emma.


FixaçãoWhere stories live. Discover now