5ª parte do Capítulo XI

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Em vez de ofendida, ela parecia divertida.

- Pai, não! Eu não quero que lhe declares a guerra. Por favor, pensa em Aragão. Não há melhores reinados que os de paz – digo eu. A minha voz é tão baixa para que apenas ele ouça.

- Mas eu tenho que te vingar! Ela precisa pagar pelo que te fez!

- Não assim. Confia em mim, pai – continuo a falar baixinho.

Ele calou-se, por uns segundos, para ponderar. Sentou-se enervado e acariciou a barba. A sobrancelha continuava erguida, sinal da sua desconfiança, da sua dúvida. Tinha de o convencer!

- Pensa na mãe – digo, baixinho. – Ela não aguentará perder o marido na guerra. Não há nada que eu mais queira do que me vingar da Bruxa, mas temos que ser mais inteligentes do que ela. Ela veio claramente para nos provocar, quem sabe com intuito de começar uma guerra. Uma guerra em que ela nos acusará pelo seu começo e poderá gritar aos sete ventos que nós, reis e príncipes, é que somos maléficos e trazemos sofrimento ao povo para satisfazer as nossas vinganças pessoais.

Ele olhou-me admirado. Aos poucos, a sua sobrancelha foi baixando como a dúvida que morava dentro dele. Tê-lo-ia convencido?

- Tens razão, Filipe. Agora sei, serás um bom rei! – elogiou-me e percebi alguma emoção nas suas palavras que ele quis esconder.

Suspirei de alívio. Voltei a pousar a mão que tinha livre no trono para me apoiar. As minhas pernas estavam cansadas por estar de pé há bastante tempo. Uma ligeira dor surgia-me na zona do joelhos. Mas não era hora para dores, mas sim para resolver aquele dilema que era o mais importante! Fiz-me de forte.

Voltei a prestar atenção ao resto do salão. As fadas mantinham-se no mesmo lugar: na defensiva. O rei e a Bruxa entreolhavam-se de morte. Agora tudo dependia do pai de Aurora. Ele era um rei, senhor do seu nariz e de todas as terras de Olisipo e nem eu, nem qualquer homem, podia interferir na vida política do seu reino. Mas faria o que estivesse ao meu alcance para evitar o pior.

- Vais matar-me, Dinis? – perguntou ela, fingindo um ar incrédulo.

- Eu para ti sou Vossa Majestade – cuspiu ele, mantendo a espada em riste.

- Dói? Dói-lhe assim tanto, ele saber a verdade?

Saber o quê? O que é que a Bruxa me contou que eu não estou associar a esta conversa? Lembra-te, Filipe!

- É tarde demais! – exclamou ela. – Ele sabe – disse quase a cantarolar.

Como se o braço direito dele estivesse a perder a força, a espada foi baixando lentamente até ficar apontada para o chão.

- Contaste-lhe? – murmurou ele, quase num assobio.

- Sim. Tudo – respondeu ela, com um ar régio.

De repente, o pai de Aurora desatou a rir às gargalhadas como estivesse a ver o bobo da corte a fazer as suas acrobacias.

- Qual é a graça? - perguntou a Bruxa, desconfiada.

Ele para além de desnorteado, agora parecia louco.

- Bem dita a hora em que Olisipo deixou-a de a ter como fada. Ela respira maldade por todos os poros! – comentou o meu pai comigo, em tom baixo.

O quê? Oh, meu Deus...

- Ela é a quarta fada de Olisipo? – perguntei baixinho, com os olhos arregalados de espantado.

- Sim – sussurrou ele. – Não foi isso que ela te contou?

Até me esqueci de respirar, tal foi o meu choque. Desenhei um O com os lábios de grande admiração, mas a certa altura tive necessidade de permanecer assim para respirar todo o oxigénio que precisava. A Bruxa era a quarta fada de Olisipo! Parecia inacreditável! Ela nunca mencionou tal assunto. Mas, afinal o que é que eu sabia? Estaria ela a mentir para nos enganar?

"Tudo o que te contei é verdade, apenas não revelei nomes...", soou no meu pensamento. As peças do puzzle juntaram-se e... Oh! Não pode ser! Sim, agora tudo fazia sentido!

- Mentiste-me – acusei-a.

- Eu? – mostrou-se indignada. – Nunca faria tal coisa!

- Mentiste-me, sim! Durante oitenta anos, fizeste-me acreditar que o príncipe que te trocou por uma princesa foi o meu pai.

- Eu nunca mencionei nomes, meu querido. O Príncipe é que tirou mal as suas conclusões!

O rei Dinis ficou branco, mais uma vez.

- Como? Mas como é que te atreves a inventar uma barbaridade dessas? – perguntou o meu pai, tão indignado que se levantou do trono tão veloz como um relâmpago.

- Pergunte ao seu filho. Eu nunca disse tal coisa, nunca mencionei o seu nome tão pouco.

- Então... se o príncipe não era o meu pai, quem era? – perguntei, para confirmar o que eu agora já sabia.

Movi o meu olhar para o rei Dinis. A minha pergunta era como uma facada para ele. As cores no seu rosto misturavam-se entre o pálido de choque e o vermelho de raiva. Ele fechou os olhos talvez para fugir à vergonha que sentia ou apenas para se acalmar. Era visível que tentava controlar a respiração que estava visivelmente descontrolada. Não sabia o que dizer. Eu estava tão chocado quanto ele!

Vejo, rapidamente disfarçado nela, o cintilar do triunfo

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Vejo, rapidamente disfarçado nela, o cintilar do triunfo. Ela sabe que saiu vitoriosa!

- Eles sabem, Dinis! Agora, todos sabem!

O corvo voa do ombro para o bastão piando para ela como quisesse parabenizá-la. E a dona agradece-lhe com um par de festas e um sorriso de glória estampado no rosto.

Malditos sejam, os dois! Mais uma vez, ela ganhou! Algum dia, ela iria perder?

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Alguém sabe a resposta para a pergunta do Príncipe? E o que me têm a dizer sobre esta paixão entre a rainha Malévola e o rei Dinis no passado?

Uma espécie de bónus: Hoje, quero contar-vos algo. Estamos a chegar, cada vez mais próximos do desenrolar da acção mais importante da história. Será uma reviravolta! Um novo personagem irá aparecer... Quem será?

Desde que imaginei esta história, esta é a parte principal e surgiu logo na minha imaginação, mas para lá chegar um grande caminho e percurso foi escrito. Quero muito terminar a história para vocês a conhecerem, para eu me sentir realizada e depois logo se verá... Às vezes, nós autores também temos as nossas dúvidas e perguntamos: Será que os leitores gostam tanto como nós do que estamos a escrever? Espero que consigam viver este conto de fadas contado de uma maneira bastante diferente, com um Príncipe velhinho, mas querido.

Um abraço a todos

O AMOR NÃO DORMEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora