3ª parte do Capítulo XI

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O rei Dinis pousou uma das suas mãos no meu ombro, como um amigo, e disse:

- És um príncipe destinado a ser rei. Que Deus permita que o veja! Mas, para teres um reino para herdar precisas mantê-lo e protege-lo. É isso que povo espera do seu rei.

Porquê é que ele sente tanto medo? O que se passará na cabeça daquele homem?

Um trovão soou. Arrepiei-me dos pés à cabeça. Tive um mau pressentimento.

"É apenas um trovão", pensei.

O som de algo a bater no chão ecoou pelo castelo. O que seria aquilo? A segunda vez que voltou a soar a minha memória lembrou-me do que se tratava. Oh não!

- Não, não, não... – falei baixinho para mim próprio, pegando na bengala.

- Mas o que é isto? – interrogou-se o meu pai.

Virei costas e dirigi-me para a saída do salão.

- É ela, madrinha! É a Bruxa! – murmurei.

- Mas o que é que ela faz aqui? – perguntou ela, muito baixinho e preocupada.

- Já iremos descobrir.

- Filipe... Onde é que vais? – perguntou o rei Dinis. – Temos uma conversar séria para terminar.

Nem me dei ao trabalho de responder. Só o tentar andar depressa me cansava.

Soou novamente aquele barulho estridente. Ela caminhava pelo meu castelo! O que é ela estará aqui a fazer? Se veio contar o que me aconteceu chegou tarde demais! Será que ela sabe que estou em Aragão? Será possível que o maldito corvo me continue a vigiar?

Apressei-me. Mesmo velho e sem forças, eu queria proteger os meus. Ainda bem que as madrinhas de Aurora cá estavam. Erámos maior em número e por mais poderosa que seja a Bruxa não será invencível.

- Mas o que é que se passa neste castelo, hoje? – interrogou-se o meu pai e caminhou para saída do salão, ultrapassando-me sem qualquer dificuldade.

Que tristeza a minha!

- Pai, espera!

Ele nem me deu ouvidos e continuou a andar para descobrir o que se estava a passar.

- Eu protejo-o – acalmou-me a minha madrinha que passou por mim como uma flecha acompanhada pelas três fadas de Olisipo.

O meu coração começou a bater descompassadamente. Por mais que me quisesse acalmar, era impossível. Afinal, o meu pressentimento estava certo! O tempo mandou-me um sinal: mudou e arrepiou-me para me comunicar de que algo menos bom estaria para acontecer. O sol quis esconder-se da Bruxa para não a ver a maldade que ela estava prestes a cometer comigo ou com algum dos meus. O meu pai? Oh Deus, o que ele sentiria ao voltar a revê-la? Ela ia-lhe partir o coração se lhe contasse o que me fez.

- Pai – murmurei, aflito.

Até o rei Dinis me ultrapassou, sem qualquer dificuldade, indignado por aqueles sons estridentes interromperem a nossa conversa.

- Rei Dinis, espere – pedi eu.

- Eu vou ver o que se passa.

Definitivamente, eu não prestava para nada. Não conseguia ser o primeiro a enfrentar a Bruxa e a pô-la no seu devido lugar. Suspirei de desgosto. O que me aliviava era saber que as quatro fadas estariam ao lado do meu pai e do rei Dinis.

Sem nunca parar, obrigando-me a não descansar, consegui chegar ao salão dos trono não muito depois deles. Lá estava ela! Bela, jovem, incrivelmente elegante e com o seu típico sorriso cínico. Engoli em seco e abri a boca para respirar todo o oxigénio que precisava, porque estava extremamente cansado pelo esforço que fiz.

- Ma-lé-vo-la – sussurram eles, em coro

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- Ma-lé-vo-la – sussurram eles, em coro.

Tanto o meu pai como o de Aurora estavam brancos como à parede. Não era para menos! A Bruxa era responsável pela maldição dos seus filhos.

As quatros fadas estavam transformadas em adultas, ao fundo da pequena escadaria que separava os tronos do chão brilhante que pisavam os convidados que visitavam os meus pais, e seguravam firmemente nas suas varinhas. E nós estavam no piso de cima, eu do lado do trono do meu pai e eles do lado do trono da minha mãe.

Mal entrei, ela fixou o olhar em mim. Um olhar de falcão. Apoiei-me na bengala e com a outra mão no braço do trono para me manter direito. Odiava mostrar-lhe as minhas fragilidades.

- Ah, que bem recebida que sou, não podia ser melhor! – exclamou a Bruxa, com um grande sorriso e dando alguns passos em frente, fazendo soar por duas vezes o bastão em contacto com o chão.

Ela estava mais linda que nunca! Trajava com um vestido preto, como sempre, ricamente trabalhado e decorado com jóias. Mas não seguia os nossos padrões de moda como uma bruxa verdadeira que era. A cauda era excessivamente grande fazendo-me lembrar os vestidos das noivas e cobriu uma boa parte do chão claro à sua volta. O cabelo estava muito bem penteado e enfeitado com a coroa de rainha do reino de Aranis. Na mão direita, segurava o seu bastão como se tratasse de um acessório de moda. E o seu bicho de estimação onde estava? Não o teria trazido? Provavelmente, ele já se encontrava em Aragão e estaria a vigiar-me para a sua dona.

- Rei Dinis, Rei Carlos... - disse ela, pausadamente.

O que o meu pai estaria a sentir? O que é que aquela bruxa significaria para ele? Pelo canto do olho, olhei para o meu pai que continuava imóvel e pálido, mas com a cabeça erguida.

- Filipe – chamou-me amorosamente.

Consegui reconhecer o cinismo disfarçado na sua voz. Sim, ela estava alegre por me ver, mas para comprovar que a sua maldição tinha triunfado. A Bruxa adorava destroçar-me o coração! E muito ela gostava de me tratar como um conhecido, um amigo... Que raiva! Maldita sejas, mil vezes!

- Príncipe Filipe – emendei-a, de imediato. – Filho e herdeiro do rei de Aragão.

E fiz questão de bater com os dedos no trono provocando um som chamativo para mostrar à Bruxa que tinha recuperado o meu lugar e a minha identidade, porque à direita do trono do rei só o príncipe herdeiro pode estar. Aquele era o meu lugar desde o dia que nasci e continuaria a ser até ao último dia da minha vida. Poderia nunca vir a ser rei, mas príncipe seria para sempre. E desta vez, fui eu que lhe lancei um olhar de falcão e se tivesses poderes para isso tinha lançado fogo pela boca como um dragão para lhe dar a morte que ela merece.

- Oh, pensava que eramos amigos! Eu hospedei-te no melhor quarto do meu castelo, dei-te as melhores refeições, o melhor criado... Não sabes como me entristeces por não corresponderes aos bons sentimentos que sinto por ti.

Falsa! Cerrei os dentes de raiva. O que é que ela pretendia com isto?

Continua...

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Meus queridos leitores, espero que estejam a gostar do desenvolvimento da história. Não se esqueçam de deixar estrelinhas ✨✨ para ajudar a história a crescer.

E como terminará isto tudo? O que é que a Bruxa terá ido fazer a Aragão? Não se esqueçam que o Filipe ainda não conseguiu um sim do rei Dinis para continuar o prometido de Aurora.

beijos

O AMOR NÃO DORMEWhere stories live. Discover now