Eles saíram e eu me preparei.

- Subi a pouco minutos do seu estado.

- Estou bem.

- Fiquei preocupada, e pensei que tinha feito àquelas loucuras mais uma vez.

- Todos se uniram para achar que vou me matar? - perguntei em tom icônico.

- Isso não tem graça.

- Sei que não, mas não tenho muito que fazer por aqui além de rir de tudo.

- Você está pálido... - ela parecia assustada.

- Como sempre, você conhece todo o processo.

- Porque queria se casar comigo se você pretendia partir logo em seguida?

A pergunta caiu de paraquedas sobre a minha cama e em minhas mãos. Não foi algo que quis responder, por isso me mantive calado.

- Preciso que me fale.

- Por quê?

- Porque é importante!

- Isso não está em discussão.

- Seus pais sempre quiseram algo de você... Talvez uma família e um filho fosse uma espécie de legado.

- Veio para falar do nosso noivado? Tem certeza?

- Não - disse limpando o rosto - Vim para saber se estava bem. E já vi.

- Obrigado por vir - retruquei seco e fadigado.

- Não se preocupe.

O som dos sapatos ecoou e ela saiu.

Alice tinha mesmo todos os poderes, até mesmo de me interrogar. Sempre conseguia arrancar pensamentos anulados meus e deixar a minha cabeça latejando de culpa.

Que porra!

No resto do dia, recebi todas as visitas possíveis. Entre minha mãe, meus irmãos e os médicos e enfermeiros do hospital. Menos a de Anahí. Ela parecia ter sumido e com o anoitecer, percebi que não viria mais.
Tive me convencer do fato dela estar cansada por passar tanto tempo ao meu lado cuidando de mim, e que merecia aquele descanso. Devia ter dormido e esquecido das horas. Mesmo que no fundo me preocupasse com o bem estar dela, sua presença conseguia me revigorar e me arrancar uma força fora do comum.

Algo que há muito tempo eu desconhecia.

Meus olhos exaustos de tantos remédios fortes se deleitaram no curto sono que me foi oferecido...

Eu estava deitado na cama, sozinho no apartamento depois de mais uma noite de dores e analgésicos fortes, mas nada parecia amenizar a forte dor na cabeça e a latência dos meus ossos, esmagados pela doença que habitava em mim. Só podia ser um pecado muito bem pago. Mas qual?

As imagens da minha mãe, drogada e jogada no chão da sala daquele minúsculo apartamento, rondavam a minha mente como as cenas de um filme de terror. Ela gritava por socorro, assim como eu naquele instante. Éramos parecidos a final. Ambos condenados pelo desespero.

No fundo a minha doença doía menos que as surras que levei de cinto e de materiais duros que na época, pela minha idade era impossível destingir ou lembrar. Nada se comparava a rejeição.

A pior parte teria sido vê-la definhar, desgraçar sua vida como um animal sem rumo. Era revoltante. Uma mulher tão bela, bem sucedida, acabar com tudo o que tinha para poder permanecer num mundo sem saída. Infelizmente ela não tinha mais saída

Então, qual era o sentido de eu ter sido salvo por um pai que descobriu sua paternidade pelo acaso?

Ele morre, eu morro, todos morrem no fim.

Tendo isso como objetivo, as dores que ali eu sentia, sobre aquela cama coberta por um lençol branco de seda, nada mais eram que as consequências de dois meses sem os meus remédios.

Há quem diga que morrer sentindo dor é triste, mas no meu caso, a dor era o inicio de um alivio eterno. Um que eu jamais teria em vida.

Quando meus olhos se abriram novamente, o som do monitor era ainda mais incessante e mais alto que de costume. Acordei atordoado, eufórico, com os batimentos rápidos e com um suor volumoso.

O Dr. Colins me olhava enquanto a enfermeira inseria alguma medicação na minha veia.

- Está tudo bem. Foi só um sonho ruim.

Olhei para o lado e notei que Christopher foi quem falou aquelas palavras.

Simplesmente a pessoa que eu menos esperava estava do meu lado tentando me acalmar.

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