Mas o riso foi pausado quando antes de chegar na porta do meu quarto ela cambaleou e caiu no chão. Me levantei tão depressa que minha cabeça deu um leve giro. Quando cheguei do lado de Dulce, chamei por seu nome, mas ela estava desacordada e não respondeu a nem um dos meus estímulos. Meu coração acelerou e o desespero me consumiu. Liguei para a emergência, sendo tranquilizada por eles.

Enquanto esperávamos a ambulância, me sentei no chão e pus ela sobre as minhas coxas, tentando acorda-la.

- O que aconteceu com você? - perguntei chorosa - Dulce, acorde.

Já haviam se passado mais que trinta minutos...

A falta de notícias e explicações estava me matando aos poucos. Ficar ali, naquela sala de espera era um martírio. Pessoas entravam e saiam a todo o momento, mas era como se não houvesse ninguém. Levantei e sentei várias vezes, indo na recepção a cada cinco minutos perguntar pelos médicos, mas em torna sempre recebia a mesma resposta irritante da mulher "espere um pouco mais, logo virão lhe informar". Esse logo parecia infinito.

Voltei a sentar, e de repente uma sensação estranha me percorreu.

Aquele lugar era familiar para mim. Mas hospitais não eram um lugar que eu frequentava, na verdade nunca mais tinha ido num durante anos. Minhas consultas sempre eram feitas em clinicas e longe daquele ambiente que, particularmente eu odiava. Hospitais me lembravam do quanto nós éramos frágeis. Ali só abrigava pessoas com esperanças de viver. Pensando nisso voltei a imaginar como Dulce devia estar. O que houve? Ela estava feliz, sorridente e parecia saudável.

Recostei na cadeira nada macia e esperei por mais trinta minutos até uma mulher, de certa idade e vestida de branco surgir na minha frente com o seu semblante cansado de um fim de plantão. Ela parecia ter muitos anos ali, e o seu cansaço físico demonstrava isso.

- Boa tarde. Você que esta com a paciente... - perguntou checando o prontuário antes de dizer o nome dela - Dulce Saviñon?

Ouvir o sobrenome de Dulce foi estranho para mim. Às vezes eu o esquecia.

- Sim.

- Não se preocupe. Ela esta bem e em observação. Demoramos um pouco por causa dos exames que são necessários fazer de acordo com o protocolo, mas se quiser vê-la agora pode me acompanhar.

Concordei de imediato e segui a mulher. No meio de percurso ela me fez preencher uma ficha de acompanhamento com os meus dados e informações sobre mim. Passei um tempo em cima da pergunta de "qual sua profissão" será que podia escrever "garota de programa" ou "destruidora de sentimentos". Rindo de mim mesma pela falta de noção pus "autônoma".

Entreguei de volta os papéis para ela e a porta do elevador abriu no corredor que supus ser o meu. A senhora andou alguns metros a mais parando na frente do apartamento 305.

- Aqui estamos.

- Obrigada - Agradeci mesmo incomodada com a forma como ela me olhava desde que saímos da sala de espera.

Quando empurrei a porta, vi Dulce deitada sobre a cama recebendo alguma medicação pelo pulso. Ela parecia abatida e menos corada que ha algumas horas quando conversávamos no meu quarto. Ela me olhou e então eu percebi que seus olhos estavam vermelhos e inchados. Desconfiei que estivesse chorando antes de entrar e aquilo me deixou desnorteada.

Fui para o seu lado e coloquei minhas mãos sobre as dela. Em silêncio. Dulce voltou a chorar incessantemente perante a minha falta de fala. Temi que aquilo pudesse ser por qualquer um dos milhões de motivos que pairavam na minha mente, menos o que ela revelou depois de alguns minutos silenciosa, apenas derramando lágrimas.

- Eu estou grávida.

Aquele sim era o fim do mundo. Grávida? Tudo menos isso naquele momento. Eu sabia que o seu maior medo era o fato de Christopher ser um caso recente demais e que ele talvez não recebesse a noticia tão "feliz". Não a julguei por estar aflita e muito menos questionei a sua falta de cuidado. Ela explicou que os exames teriam revelado isso, e que o seu desmaio não teve relação com a gravidez, e sim com uma anemia recorrente.

- Já falou com ele?

- Eu liguei e ele esta vindo aqui.

- Mas sabe o motivo?

- Não.

Preferi não deduzir mais nada, apenas permaneci ao lado dela até que ele chegasse. Christopher pareceu preocupado, e seu semblante assustado me intrigou de certa forma. Talvez eu esperasse muito pouco dele, baseada apenas nas implicâncias de Alfonso. Estava na hora de eu formar minhas próprias opiniões a respeito.

Depois de me cumprimentar o homem foi para o lado dela, lhe proporcionar conforto, e foi nesse momento que decidi sair. Eles precisavam ficar sozinhos.

No lado de fora, aproveitei para sentar um pouco e descansar. Porque hospitais tinham o poder de nos deixar abatidos daquela maneira? Eu me sentia doente só de estar ali.

De olhos fechados, respirei aliviada com um sorriso discreto assim que ouvi o som das risadas altas que Christopher deu. Ele ficou feliz com a notícia da paternidade e eu por saber que minha amiga não estaria sozinha.

- Posso estar velha, mas a minha memória nunca falha! - abri os olhos assim que a voz tremula da mulher de branco me surpreendeu.

A enfermeira, que antes me noticiava sobre Dulce, agora falava coisas sem sentido algum, seguidas e apressadas. Não subi como acompanha-las no raciocínio, mas fiquei calada deixando que ela terminasse de falar para poder vir com os meus questionamentos...

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