Aquela sensação me fez sentir como se estivesse despida no meio de todas aquelas pessoas.

Ele andou um pouco mais para me alcançar pegando uma das minhas mãos, e dando um beijo em seu dorso. Seu cheiro era forte, cítrico, mas de uma forma muito agradável.

Voltando à vista para mim, sua ação foi rápida. Ricardo segurou na minha cintura e assumiu seu posto de posse. Naquele momento eu já era a propriedade instantânea do ser homem galante que me apalpava as costas.

Havia fotógrafos por todos os lados, deixando gravado cada um dos convidados ilustres que entravam naquele coquetel. Confesso que fiquei surpresa, já que pensei que aquele seria um evento mais reservado.

Posamos para algumas fotos antes de adentrar.

Com a boca próxima ao meu ouvido ele me surpreendeu sussurrando pausadamente:

- Já falei alguma vez o quanto adoro quando está de cabelo natural?

A sensualidade daquela voz me fez perder a noção do espaço. A vontade era de ordenar que ele me pegasse bem ali e tirasse toda a minha roupa usando o meu corpo sem nenhum receio.

Ricardo sabia da real cor do meu cabelo, mas isso não lhe fazia tão especial.

Não era nada além da consequência do inevitável tempo em que mantínhamos aquele caso corriqueiro.

- Você também está muito atraente - Rebati, apertando um pouco as pernas a cada passada nos degraus da escada que levava até a entrada.

Ele me olhou sedutor e sorriu mostrando como seus dentes eram brancos e comportados em suas fileiras.

Passada uma porta de vidro com duas entradas, finalmente chegamos no tão esperado salão de festas. Havia muita gente, e mais uma vez me assustei, principalmente pelo meu breve desconforto perante eles. Eu era acostumada a lidar com pessoas de outra maneira, não daquela forma.
Admiti uma postura idêntica aos demais convidados, mesmo sob todos os olhares voltados a nós.
Eu estava sendo agarrada na cintura pelo homem responsável por tudo aquilo, o anfitrião estava junto de mim e era óbvio que a suspeita de um possível relacionamento estava pairando na cabeça daqueles jornalistas.

Ricardo me levou até uma rodada de homens acompanhados por suas esposas para saudar cada um deles, de forma educada. Eu tive que participar para fazer complemento o meu papel de boa acompanhante.

Enquanto ele conversava algo sobre mercado exterior, me propus a olhar ao redor. No meio do salão havia uma passarela baixa cercada de cadeiras, como num palco, que com certeza seria usada pelas modelos na hora da apresentação das peças novas. Espalhados por toda parte, também fazia composição, alguns painéis de mulheres usando lingeries.

A mais bonita em minha opinião, era uma em exclusivo. Ela era uma peça que remetia um rosa claro e que estava vestida sobre uma modelo de pele bem negra e brilhante. A mulher parecia reluzir como uma pedra de ônix olhando para um céu fictício na beira de uma praia. Ela agarrava os cabelos volumosos e molhados de uma forma sensual sem vulgaridade alguma. Era admirável.

- Madness - sai do meu devaneio e olhei para o lado, notando que Ricardo me encarava agradável com duas taças de champanhe na mão.

Olhando ao redor percebi como havia me afastado dele sem nem ao menos me dar conta disso. Eu quis tanto analisar aquela fotografia de perto que não senti meus passos irem ao sentido contrário.

- Estava fugindo de mim?

- Ela me encantou.

- A roupa ou a moça?

- As duas.

Nossas bocas se abriram num sorriso confortável. Ele me entregou uma das taças e encostou a sua na minha, finalizando o brinde. Ingerimos a bebida sem desfazer nossos olhares provocativos. Ricardo pegou a minha taça e junto da sua pôs sobre uma bandeja que passava ao nosso lado na mão de um garçom.

- Preciso saber se está disposta a me ajudar hoje.

- Ajudar você?

O homem voltou a segurar meu braço e me guiou passando de todas as pessoas. Enquanto andávamos ele distribuía cumprimentos até sumirem todos e restar apenas nós dois. Entramos numa sala distante, cheia de sofás e poltronas reclináveis.

Sentando em uma delas, ele parou do meu lado e se juntou a mim.

- Agora podemos conversar melhor.

- Sobre a ajuda. - Resgatei - Você dizia...

- Eu quero que você desfile esta noite.

Arregalei os olhos e engoli em seco. Do que ele acha que está falando? Ricardo só podia ter perdido o juízo naquele exato momento, porque não havia outra explicação.

- Está louco? Eu não sou modelo.

- Não precisa ser, basta subir lá e fechar a apresentação, Madness.

- Não vou fazer isso, Ricardo. Esqueça.

- Deixe de modéstia, por favor, você está acostumada com coisas desse tipo.

- Sou uma dançarina de boate e não uma modelo! - Respondi visivelmente chateada.

- Escute - Pediu tranquilo, segurando meu rosto - Você é perfeita para fechar essa noite, minha querida. Não vejo ninguém melhor e nem mais bela.

- Quer mesmo me convencer.

- Deixamos as burocracias de lado. Nós dois sabemos que adora ser admirada em público e faz isso muito bem. Não será nada além de uma demonstração de roupas.

Repensei na possibilidade daquela proposta, várias vezes antes de respondê-lo. Talvez ele tivesse razão. Não ia ser nada demais afinal.

- Apenas uma vez.

- Somente uma.

****

No camarim as mulheres me encaravam de forma incomoda, deixando evidente que minha presença ali não era tão agradável ou familiar. Ricardo ficou do meu lado durante toda a produção e isso as deixou ainda mais chateadas. Lidar com mulheres invejosas não era novo para mim também.

Na boate isso sempre acontecia com clientes e homens que iam exclusivamente para me ver. Sempre ganhei mais e isso é motivo de revolta. Busquei ignorá-las e continuei sendo produzida pelos maquiadores e estilistas.

Depois de algum tempo Ricardo me pediu para aguardar alguns segundos e eu assenti observando que ele puxava o telefone de dentro do bolso do paletó. Mesmo com o barulho de todos, eufóricos pelo desfile, pude ouvir apenas uma pequena frase antes dele se afastar mais. "Dr. Herrera! Me diga que está no caminho até aqui ou irei atrás de você com todos ou meus convidados".

Devia ser alguém muito importante para ele, já que exigiu a presença daquele homem ali. A distância entre nós aumentou e não foi possível ouvir o restante da conversa, e nem era minha intenção.

De repente começou a entrar várias pessoas carregando caixas nas mãos. Uma das embalagens escuras chegou até mim, por um dos homens que me arrumava e ele fez questão de que eu a abrisse para ver qual seria minha peça escolhida. Cada uma das modelos havia recebido uma.

Abri a embalagem devagar e assim que puxei a cruzeta meus olhos brilharam. Não posso acreditar! A mesma peça da foto que eu tanto admirei estava nas minhas mãos, pronta para se encaixar no meu corpo.

Olhei para Ricardo que de longe admirava meu sorriso bobo e previsível. Ele piscou um dos olhos e mandou um beijo solto no ar, me arrancando uma risada satisfeita.

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