Prólogo

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Passado...

A nuvem negra e densa se formava sobre o céu da capital da Itália, deixando claro que nos próximos minutos o chão ficaria completamente úmido e as pessoas por hábito correriam para se abrigar. Dentre elas estava Anahí, coberta por um fino casaco marrom de Cashemir, um dos poucos que tinha trago na sua minúscula mala de viajem.
Quando se foge de casa, roupas e acessórios eram banais demais.
Ela olhou para cima admirando cada espaço daquele lugar percebendo a quantidade exorbitante de prédios altos e lojas, tão diferente da sua realidade no interior simples e pacato onde cresceu, onde basicamente era formado por casas aconchegantes e pequenas.

De repente as gotas de chuva começaram a cair sobre o seu rosto fazendo-a fechar os olhos antes de cobrir a cabeça com um jornal que tinha sobre as mãos.

A menina de apenas dezesseis anos, buscava nos classificados uma oportunidade de trabalho.
Mas quem empregaria uma pessoa menor de idade? Essa era a principal questão.

Além da incerteza de emprego, ela não tinha onde ficar e muito menos passar a noite.
Era possível contar nos dedos os trocados que havia conseguido com as aulas particulares de piano dadas a uma de suas vizinhas.
Ao menos isso Anahí tinha de bom para compartilhar consigo mesma. A música.

Em um movimento de olhos a jovem pôde notar que alguém se aproximava vagarosamente pela sua lateral, despistando-se das pessoas que também se abrigavam de baixo da parada de ônibus.

Mesmo pelo canto dos olhos, foi possível para ela mentalizar os cabelos grisalhos e o terno alinhado.

- Com licença - Virando o rosto, Anahí retraiu o corpo assustada pela abordagem do desconhecido - Não se preocupe. Não vou lhe fazer nada, mocinha.

Mesmo arisca ela virou para fitá-lo.

Realmente os cabelos dele pareciam bem cuidados e brilhosos. Eram de um branco sedoso, e que obviamente escorregaria por entre os dedos dela se decidisse passar as mãos ali, algo que com certeza não faria.
O homem parecia ter dinheiro suficiente para não ter de ficar na chuva. Mesmo assim, a sua guarda não foi baixa. Ela sabia que por mais que tivesse pouco tempo de vida e pouca experiência, eram claros os riscos da falsa boa aparência.

- Em que posso ajudar?

- Desculpe ressaltar isso, mas percebo que está aparentemente perdida.

- Não estou - retrucou nervosa. Ela não queria ser descoberta.

- Mesmo assim eu insisto que não lhe farei mal. Apenas desejo ajudar.

- Muito obrigada senhor, mas não é necessário.

- Como seria mesmo o seu nome?

Ela parou por um segundo e pensou se deveria responder com a verdade ou se usaria algo para manter sua identidade.
Porém, nada parecia vir na sua mente, e a falta de criatividade em inventar algo era agoniante.
O fato daquele homem não parar de olhá-la nem por um segundo sequer não melhorava as coisas.

Depois de várias tentativas ela sentiu que uma luz parecia surgir no fim do túnel.

- Madness... Esse é meu nome - respondeu num aparente gaguejar.

Com um sorriso secreto, ele tirou algo do bolso interno do terno cinzas e guardou dentro da palma da mão. Anahí só soube do que se tratava quando ele lhe entregou aquele cartão retangular.

- Pessoas vêm para este país todos os dias, toda hora, com muitos sonhos e em busca de muitas coisas, mas a realidade nem sempre é glamurosa como Milão demonstra ser, Madness.

Silenciosa, ela permaneceu apenas encarando o estranho enquanto ele fazia questão de exibir seu conhecimento.

- Aqui está o meu contato. Caso queira ajuda, não hesite. Estarei no seu aguardo.

Foi suave e repentino.
Da mesma forma estranha que se aproximou, se foi. Ele andou para longe seguindo até um táxi amarelo que parecia lhe esperar, para então sumir em meio ao trânsito engarrafado.

A chuva não tinha cessado e isso a intrigou. O homem se molhou bastante até chegar ao veículo, e os seus passos calmos demonstravam que "preocupação" não parecia ser um dos seus tormentos. O que era comum nos moradores dos grandes centros urbanos.

Depois de passar um tempo em aguardo da tempestade, Anahí procurou um lugar para comer e assim que achou, preferiu pedir algo bem recheado e exorbitante. Não importava se as gorduras escorressem pelos lados, o objetivo era ficar saciada o máximo que pudesse com apenas alguns dólares. E ela conseguiu, mas ainda não era o fim daquele dia, o frio da noite chegava tortuoso demais, sem dó nem piedade. Arrependimentos não lhe vinham no pensamento, já que estar em qualquer lugar era bem melhor que em sua casa.
Perambulando pelas avenidas, ela decidiu soltar os cabelos que antes estavam amarrados em um rabo de cavalo, para ver se soltos o frio na sua nuca iria diminuir.

O fluxo de carros se tornava menor a cada minuto seguinte, e a solidão a assolava notando como as mães brincavam com seus filhos e como os pais pulavam orgulhosos de ter que retirar as rodinhas da bicicleta.
Aquela pracinha onde estava não parecia perigosa ou intimidadora, por isso ela decidiu se sentar ali enfiando as mãos nos bolsos do casaco a fim de aquecê-las.
Anahí sentiu algo espetar sua pele e ao puxar o objeto de dentro, notou que era o cartão que havia recebido. Se prontificando a lê-lo pela primeira vez.

Miguel Pontesvilla Lessa.
Não havia nem uma propaganda naquele cartão, apenas o nome e telefone do estranho.

Anahí segurou a papel olhando por diversas vezes, sem pausa, pensativa, refletindo no que fazer com aquilo em suas mãos.
Respirando com dificuldade, o frio pareceu ter congelado suas ideias, porque nada conseguiu explicar sua atitude.

Levantando, ela andou até o telefone público mais próximo.
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NOTAS

Olá novos e velhos leitores, Amor(a)s...

Eu gostaria de começar agradecendo pelo simples fato de "você ai que está lendo isso" ter pensado em começar essa história. Espero de coração que goste, comente (independente dela ter finalizado ou não), vote, compartilhe, sei lá... Faça o que quiser! Ela é minha, sua, nossa. Ela é de todos!

Seja Bem Vindo, quantas vezes, e todas as vezes que vier

S A M I A G R E E N

Possession Where stories live. Discover now