Não havia ninguém.

Me aproximei dele, levantando um pouco os calcanhares e dei um selinho rápido, meio envergonhado.

— Só isso? — ele perguntou, me provocando mais ainda.

— Sim. Você quer me comer aqui no meio da rua?

A gargalhada dele foi alta, sincera, e ele me empurrou com cuidado para dentro do carro.

— Você está ficando com a boca suja. Está aprendendo só coisa errada comigo.

Ele entrou logo em seguida, ainda rindo, e deu partida no carro. Eu virei o rosto para a janela, tentando disfarçar o sorriso idiota que insistia em não sair.

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O carro parou em frente a um prédio tão imponente que eu precisei confirmar se Choi realmente sabia onde estava me levando. Olhei pela janela, depois virei o rosto para ele, ainda dentro do carro.

— Isso aqui é um restaurante?

Ele abriu um sorriso pretensioso.

— Uhum.

— Você que escolheu?

Ele apenas saiu do carro com um "vem logo" nos olhos. Desci também, ainda em choque e antes que eu pudesse perguntar mais alguma coisa, ele entregou a chave do carro ao manobrista como se fosse uma coisa que fazia todo dia.

Acompanhei ele até a entrada. O lugar era todo de vidro e mármore e logo à frente havia uma escadaria ampla com degraus iluminados por baixo.

No topo da escada, uma recepcionista nos recebeu com um sorriso elegante. Choi disse o nome dele em voz baixa e ela assentiu, fazendo sinal para que a seguíssemos.

Atravessamos o salão principal do restaurante e eu senti cada olhar pousar sobre nós. A maioria por curiosidade ou talvez por reconhecimento.

Ela nos levou até uma porta lateral e abriu, revelando um corredor mais discreto, com menos luz, menos som.

— Por aqui — disse, parando em frente a uma porta de madeira escura.

Ela abriu e nos deixou à vontade.

A sala era silenciosa, decorada com flores frescas e uma iluminação suave que dava vontade de sussurrar. A janela de vidro mostrava parte da cidade, mas de um jeito tão distante que dava a sensação de estar em outro mundo.

Entrei devagar, observando o lugar todo.

Sentamos um de frente para o outro, naquela sala silenciosa e bem iluminada, com uma vista absurda da cidade lá fora. A mesa era enorme para duas pessoas, mas estava impecavelmente posta, com flores no centro e taças de cristal brilhando sob a luz. Choi apoiou os braços na mesa e me olhou como se estivesse prestes a dizer alguma coisa séria.

— Você sabia que polvo tem três corações?

Franzi o cenho, confuso.

— Quê?

— E que quando eles se apaixonam... não muda nada, continuam molengas e estranhos — completou, com a cara mais séria do mundo.

Soltei uma risada, meio sem acreditar no rumo da conversa.

— O que você está dizendo?

— Eu senti que estava ficando tudo muito tenso. — ele deu de ombros. — Só quis aliviar o clima.

— Funcionou — admiti, ainda rindo.

Nesse momento, o garçom bateu discretamente à porta e entrou. Entregou o cardápio com as duas mãos e eu peguei, começando a folhear só para ter uma noção do que serviam ali. Mal cheguei na segunda página e o cardápio sumiu da minha mão.

Olhei para Choi, que já o fechava com uma das mãos e entregava de volta ao garçom.

— Eu vou fazer o pedido.

Assenti mentalmente e o observei começando a falar de forma toda polida com o garçom, escolhendo pratos como se fosse cliente fixo do lugar. Não sei se deveria me preocupar.

Assim que o garçom saiu, me virei para ele:

— Você está exalando uma vibe CEO bilionário que resolve tudo com uma ligação.

Ele sorriu, satisfeito com a comparação.

— Fico lisonjeado. Quer que eu compre o restaurante agora para você?

Revirei os olhos, mas não consegui segurar a risada.

— Não dá para ter um momento normal com você, não é?

— Normal é chato — ele respondeu, se recostando na cadeira e cruzando os braços. — E você fica muito mais bonito rindo.

Parei um pouco. Meu sorriso vacilou, só por um segundo, porque ele não disse aquilo como brincadeira.

Mas antes que eu respondesse, ele pegou a taça de água e deu um gole, como se não tivesse dito nada demais. Como sempre, deixava o efeito das palavras comigo.

E eu ficava ali, sentindo tudo.

Tempo depois, a porta se abriu novamente. O garçom entrou com os pratos, equilibrando tudo com uma calma impressionante. Primeiro colocou a entrada — uma salada que definitivamente parecia cara — e depois os pratos principais, que vinham em um aroma absurdo.

— Bon appétit — disse o garçom e saiu discretamente, fechando a porta atrás de si.

Olhei para o prato e depois para Choi.

— Isso aqui tem nome?

— Claro que tem — ele disse, pegando os talheres. — Mas eu esqueci.

Soltei uma risada curta e balancei a cabeça.

— Então você pediu só porque parecia bonito no menu?

— Pedi porque sabia que você ia gostar — respondeu, simples assim, enquanto começava a cortar a carne com a calma de quem fazia isso todos os dias em restaurantes desse nível.

Experimentei o primeiro pedaço, tentando não parecer impressionado e falhando um pouco.

— Está muito bom — murmurei, depois de engolir.

— Eu sei — ele disse com um sorrisinho convencido. — Eu também tenho bom gosto para isso.

— Isso, se elogia mais. Não se segura, não — falei, provocando.

Ele levantou a taça de vinho que o garçom havia deixado e me ofereceu um brinde silencioso. Encostei minha taça na dele, ainda sorrindo de canto.

Me forcei a olhar de volta para o prato e continuar comendo. Porque se eu ficasse mais alguns segundos encarando aquele olhar dele, talvez acabasse dizendo coisas que eu ainda não estava pronto para falar.

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