A lenha estalava baixo na lareira. O som da madeira queimando era o único ruído na sala, além da respiração leve de Ji-hoon ao meu lado no tapete. O calor do fogo aquecia nossos rostos e mãos, contrastando com o frio que ainda dominava o resto da casa.
Estávamos os dois ali, sentados com as pernas cruzadas, cada um segurando uma caneca quente. A bebida já havia esfriado, mas nenhum de nós parecia preocupado em beber. O silêncio entre nós não era incômodo, mas havia um peso nele... como se ambos soubéssemos que estava na hora de parar de fingir que não havia nada a ser dito.
Eu olhei para ele. A luz alaranjada da lareira projetava sombras suaves em seu rosto, destacando o brilho nos olhos e o pequeno vinco entre as sobrancelhas.
— Você está pensando muito. — falei.
— Sempre penso muito. — ele respondeu, sem me olhar.
Soltei um riso baixo, voltando a olhar para as chamas.
Silêncio de novo.
— Posso testar uma coisa? — perguntei, depois de alguns segundos.
Ji-hoon virou o rosto devagar. Os olhos me analisando com cautela.
— Que tipo de coisa?
— Só uma coisa. Prometo que se for estranho, a gente finge que não aconteceu.
Ele hesitou, mas assentiu devagar. Então, eu estendi a mão entre nós, com a palma voltada pra cima, esperando.
Por um instante ele apenas olhou. Depois, devagar — bem devagar — colocou a mão dele sobre a minha.
Entrelacei nossos dedos e ficamos ali. Pele com pele. Um contato leve, mas cheio de tudo que a gente não conseguia dizer.
— Tá estranho? — perguntei, sem olhar pra ele.
— Não sei. — ele respondeu. — Talvez.
— Quer tirar?
— Não.
Outra pausa. O fogo estalou. Um vento lá fora assobiou entre as frestas da janela.
Eu virei meu rosto um pouco, observando o dele. O cabelo levemente bagunçado, a pele com pequenos brilhos da luz do fogo. Ele não desviou. Só me olhou de volta, como se estivesse esperando alguma coisa ou se perguntando o mesmo que eu.
Devagar, eu soltei sua mão e toquei de leve o braço, puxando ele um pouco mais para perto. Ele se moveu, sem resistência, até que nossos ombros se encostaram.
Depois de um tempo, ele encostou a cabeça no meu ombro. Parecia um gesto simples, mas meu coração bateu mais forte. Senti a respiração dele no meu pescoço e aquilo... aquilo não era só amizade. Mas também não dava para chamar de outra coisa. Ainda não.
— Tá estranho? — foi a vez dele perguntar, num sussurro.
— Não sei. — respondi. — Mas não quero sair daqui.
Sorri sem mostrar os dentes. Apoiei meu queixo de leve na cabeça dele. Ficamos assim por minutos inteiros ou horas, eu nem saberia dizer.
Em algum momento, senti o nariz dele encostar no meu pescoço. Depois a ponta do queixo. Ele parecia curioso, como se estivesse se perguntando se aquela proximidade faria o corpo gritar "não".
Mas não gritou.
Eu virei um pouco o rosto e o canto do meu lábio encostou no dele. Ji-hoon se afastou só o suficiente para me olhar.
E aí... devagar, ele levou uma das mãos até o meu rosto. Os dedos gelados, contrastando com o calor da minha pele.
— Ainda não sei o que isso é. — ele sussurrou. — Mas não parece errado.
A distância entre nossos rostos diminuiu, não num impulso, mas como se estivéssemos sendo puxados por alguma coisa que não dava pra resistir. Quando nossos narizes se tocaram, ele parou.
— Podemos parar aqui. — eu disse, a respiração um pouco mais rápida. — Se for demais.
Eu balancei a cabeça devagar, só o suficiente para roçar meu nariz no dele.
— Não acho que está sendo demais.
E então... nossos lábios se encostaram. Sem urgência. Sem pressa. Só um toque. Como quem diz: "só quero ver se isso também faz sentido".
E, por algum motivo, fazia.
Quando nos afastamos, não havia sorriso. Só olhos brilhantes, silenciosos, sem resposta pra nada. Era como descobrir um novo sentimento.
— Deita aqui. — pedi, baixinho, batendo com a palma no meu colo.
Ji-hoon hesitou. Me olhou como se quisesse entender o que exatamente eu queria com aquilo. Mas acabou se mexendo, ajeitando o corpo no chão e deitando devagar, a cabeça repousando no meu colo.
Me ajeitei também, tentando não respirar tão alto. Ele estava ali. Tão perto. Com o rosto virado para mim, os olhos ainda abertos, meio desconfiados, meio entregues.
Levei uma das mãos até o rosto dele. Acariciei com a ponta dos dedos, do queixo até o alto da bochecha. A pele dele era quente e mesmo com a pouca luz, dava para ver os cílios abaixando, os olhos se fechando devagar.
Ele não disse nada.
Então me inclinei.
Beijei a testa dele, depois o canto da sobrancelha, depois, outra vez, os lábios.
Me afastei alguns centímetros, o suficiente para olhar nos olhos dele de novo, que agora estavam entreabertos, calmos.
— Você não vai se assustar... quando a gente voltar para o mundo real? — perguntei baixinho, contra seus lábios.
Ji-hoon demorou para responder.
Olhou para o teto por um instante, depois fechou os olhos e suspirou pelo nariz.
— Acho que vou. — ele admitiu.
— E se você querer se afastar?
Ele abriu os olhos e me olhou.
— Então... só me espera, espera passar.
Fiquei em silêncio, mas minhas mãos continuaram no rosto dele. Fazendo carinho devagar, como se aquilo fosse o único jeito que eu conhecia de dizer "tudo bem". Até porque, no momento, era.
— Eu espero. — murmurei.
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Fora do Script
FanfictionNos bastidores de uma das séries mais comentadas da Coréia, dois atores com carreiras em ascensão tentam manter os pés no chão enquanto tudo ao redor parece prestes a desmoronar. Ji-hoon e Hyun-wook interpretaram personagens inesquecíveis e a químic...
