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Eu havia acordado às seis. Maquiagem às sete. Roteiro às oito.

Agora era quase quatro da tarde e eu ainda estava com fome, suando dentro de um figurino que parecia feito para alguém que não se move.

A gravação do comercial era externa e o calor parecia mais interessado em me testar do que em fazer parte da estação.

Pedi água pela terceira vez e, quando entregaram, ela já estava morna.

— Mais cinco minutos — o assistente gritou. Ou seja, pelo menos mais vinte.

Encostei em uma sombra qualquer e, pela primeira vez no dia, enfiei a mão no bolso de trás e puxei o celular. Desbloqueei rápido, automático. Como quem não espera nada, mas ainda assim olha.

Notificações demais. Muita coisa irrelevante. Só queria ver uma.

E ela não estava ali.

Visualizado por último: há 15 horas.

Soltei um riso curto, sem humor.

Ji-hoon não tinha respondido. Nem um emoji. Nem um ponto final. Nada.

A mensagem ainda estava ali, parada.

Guarda um dia pra mim. Algum. Qualquer um.

Nem parecia grande coisa quando mandei. Na minha cabeça, tinha sido só direto. Simples. Uma ideia. Mas agora, com o tempo passando, o silêncio dele ganhava um peso idiota e a mensagem também parecia idiota.

Talvez ele só estivesse ocupado.
Ou cansado.
Ou... escolhendo ignorar.

Suspirei fundo e coloquei o celular de volta no bolso. Não dava para pensar naquilo agora. Havia uma câmera apontada, gente esperando, diretor gritando meu nome como se eu fosse surdo.

— Hyun-wook, posição! — gritou alguém.

Assenti com a cabeça e fui. Sorriso no rosto, marcação no chão, pose ensaiada.

Ator é isso, não é?

Você entrega tudo até quando não está sentindo nada ou finge que não está. Mas tinha uma parte de mim que estava, sim.

E não era pouca.

A gravação terminou às oito da noite. Tarde o suficiente para a cidade parecer menos barulhenta e mais real. O carro da produção me deixou na portaria e eu subi direto para o apartamento sem passar pela cozinha e nem acender as luzes da sala.

Fui até a geladeira, peguei uma lata de chá gelado e voltei para a sala com o controle na mão. Liguei a TV por inércia. Só queria algum som no ambiente. O vazio era barulhento demais.

Me joguei no sofá e comecei a mudar de canal. Um talk show, um noticiário, um drama antigo. Até que, sem querer — ou talvez querendo — entrei no YouTube. A primeira sugestão na tela foi inevitável:

Park Ji-hoon e Choi Hyun-wook no SALON DRIP — química real?

Soltei um riso nasal e cliquei.

A vinheta começou. O barulho de palmas. A apresentadora entrando.

Me vi sorrindo, meio envergonhado, meio satisfeito. Era bizarro se ver de fora, como se fosse outra pessoa. E, às vezes, era mesmo.

A câmera cortava de mim para ele o tempo todo.

Ji-hoon com aquela cara de "estou aqui contra minha vontade", mesmo quando a boca dele dava aquele sorrisinho para baixo.

A parte da fanart apareceu e eu ri de novo. Aquele momento em que empurrei o ombro dele...

"Isso aí é só sua cara normal", eu disse.

Fora do Script Where stories live. Discover now