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Não foi fácil dormir naquela noite.

Nem nas próximas.

As palavras de Choi continuavam ecoando dentro da minha cabeça, como se tivessem sido tatuadas por dentro do meu crânio. A forma como ele me olhou, o jeito que segurou meu rosto, o toque quente da mão dele dentro do casaco, o corpo colado no meu...

Virei de um lado para o outro na cama, travesseiro prensado contra o peito, tentando ignorar o arrepio que surgia toda vez que lembrava do beijo. Do olhar dele. Da ousadia com que falou como se já soubesse de tudo o que eu sentia.

E o pior é que ele sabia mesmo.

Só quando coloquei um desenho qualquer, colorido, leve, infantil até, consegui finalmente respirar fundo e deixar o sono me vencer. Foi a primeira noite de paz que tive desde aquela do parque.

Depois disso, consegui focar no trabalho.

Gravei o dia inteiro sem errar falas. Entreguei as cenas com precisão. Minha equipe me elogiou, e até a Minji — mesmo só por mensagem — mandou um "finalmente voltou a si".

Na saída do estúdio, um pequeno grupo de fãs me esperava. Eram poucas, mas estavam animadas, sorrindo mesmo sob o frio e a garoa fina que caía.

Olhei para o segurança, que já se preparava para abrir caminho para mim direto até a van. Mas parei.

— Espera — falei, baixinho.

Tirei o boné, ajeitei a máscara no queixo e fui até elas.

Os olhos de todas se arregalaram quando perceberam que eu estava indo na direção delas. Uma delas até deixou o celular cair.

— Oi — falei, um pouco sem graça. — Vocês estão aqui há muito tempo?

— Aaaah, ele falou com a gente! — uma delas gritou, escondendo o rosto no cachecol. — Não acredito!

Sorri pequeno, meio tímido, mas sincero. Comecei a dar autógrafos, tirei algumas fotos e ouvi elas me chamarem de fofo umas trinta vezes em dois minutos.

Uma delas, baixinha e de cabelo castanho claro, segurava um lightstick antigo da série.

— Você e o Choi... — ela começou, mordendo o lábio. — Desculpa se for falta de respeito, mas... eu shippo muito vocês dois. Tipo, muito mesmo.

Congelei.

Olhei pra ela, depois para o lado, tentando conter a vermelhidão no meu rosto.

— Ah... é... — murmurei.

— Desculpa! — ela se apressou. — É que, tipo, a química de vocês... é surreal. Dá pra ver que tem alguma coisa. Vocês são muito naturais juntos. Tipo alma gêmea mesmo.

Alma gêmea?

— E, tipo... mesmo que não seja real — ela continuou, olhando para as outras meninas com um sorriso conspirador — Só de ver vocês dois juntos já deixa o dia melhor. Sério.

Agradeci em silêncio, com um aceno e prometi tentar postar mais nas redes. Sorri mais do que deveria e talvez meu rosto tenha ficado quente demais também. Mas era bom ouvir aquilo. Era bom ver que, mesmo sem saber de nada, as pessoas conseguiam sentir. Como se estivéssemos passando alguma coisa que nem a gente ainda tinha coragem de dizer em voz alta.

Quando me despedi e voltei para a van, sentei no banco com um suspiro longo e deixei a cabeça encostar no vidro.

Alma gêmea, ela disse.

Fechei os olhos, ainda com o sorriso bobo grudado no rosto e só pensei nele.

Choi.

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Fora do Script Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ