Cheguei cedo no estúdio, como de costume.
Minji já estava ali, andando de um lado para o outro com o cronograma do programa nas mãos. Ela cochichava com alguém da produção e, ao me ver, apontou pra uma cadeira vazia com uma garrafinha d'água e meu nome em uma etiqueta colada.
— Vai ser tranquilo — disse, como se estivesse tentando me convencer.
— Só uma pintura em um tênis, não é?
— E perguntas.
— Óbvio.
Me sentei e puxei o capuz sobre a cabeça, observando a movimentação em volta. Câmeras sendo testadas, staff correndo com fita adesiva, o som de alguém testando microfone: "um, dois, três".
Meu celular vibrou no bolso. Ignorei.
Não queria me distrair. Nem pensar muito.
Nem lembrar do motivo pelo qual eu estava ali.
Mas não deu tempo de nada.
— Tá ocupado?
Levantei os olhos e vi Choi parado a poucos passos, com o microfone já preso na gola e um sorriso que tentava parecer casual, mas tinha aquele brilho nos olhos que ele não conseguia disfarçar.
— Não sabia que você já tinha chegado — murmurei, ajeitando o capuz.
— Quis vir antes para ver se o tênis era do meu número. Se for para desenhar, eu vou usar, pelo menos.
Sorri de canto, tentando esconder que estava nervoso. Ele se sentou na cadeira ao lado. Como sempre, confortável demais pra alguém que estava sob holofotes.
— Tá preparado para se expor comigo diante do país inteiro? — ele brincou, apoiando o braço no encosto da minha cadeira.
— Acho que minha carreira aguenta mais um desastre. — segurei o riso. — Não é como se a gente nunca tivesse aparecido juntos antes.
Ele riu, e foi só isso.
Mas mesmo sem nenhuma fala ousada ou toque suspeito, o clima já estava instaurado.
A produção chamou todos pra se posicionarem. O apresentador explicou as regras que não era complicado: cada um teria que personalizar um par de tênis com canetas coloridas, enquanto respondiam perguntas sobre a série Weak Hero Class.
Perguntas pessoais também, claro. Porque o público não queria só saber da série.
Queria saber deles.
De nós.
Começamos e eu segurei o pé esquerdo do tênis com uma das mãos e a caneta azul com a outra.
Do meu lado, Choi já estava fazendo algum tipo de raio com letras que pareciam garranchos estilizados.
— Isso é arte moderna? — perguntei.
— É energia. Su-ho tem energia. Eu sou a energia.
Balancei a cabeça, sorrindo.
A apresentadora, animada como sempre, nos chamou atenção:
— Ji-hoon, o seu personagem é bem introspectivo, mas você parece mais leve hoje. A que se deve esse humor bom?
Olhei pro tênis por um segundo antes de responder.
— Talvez seja o cheiro de tinta.
Choi soltou uma risada baixa, mas não comentou.
— E vocês têm se visto bastante ultimamente, não é? Por conta da série voltando a ganhar força. Como é reencontrar o elenco da primeira temporada?
Sabíamos que não era uma pergunta inocente.
— É sempre divertido. — respondi, mantendo o tom neutro. — Fico feliz que as pessoas ainda se lembrem da história. E dos personagens.
Choi completou:
— A química continua, né? O pessoal gosta quando aparecemos juntos.
A apresentadora sorriu.
— É verdade. Os fãs adoram! Aliás, você viu aquele vídeo que viralizou? O da entrevista em que você morde a boca olhando pro Ji-hoon? O que foi aquilo?
Ele fingiu pensar por um segundo.
— Vi, vi. Mandaram até no grupo da família.
— E o que você tem a dizer?
Ele me olhou de lado, com aquele brilho irritante nos olhos.
— Eu estava com sede. Boca seca. Normal, né?
Soltei uma risada abafada e continuei pintando a lateral do tênis com linhas que não faziam sentido nenhum.
— E você, Ji-hoon, percebeu?
— Eu estava ocupado tentando parecer inteligente. Não tava prestando atenção na boca do Hyun-wook.
A apresentadora se curvou de tanto rir.
— Amei essa resposta. Mas vocês têm consciência de que, hoje em dia, as pessoas enxergam vocês quase como uma dupla inseparável?
Choi respondeu primeiro:
— A gente se acostumou com isso. E eu acho bom. Gosto de trabalhar com o Ji-hoon.
Aquilo me pegou de leve. Fiquei em silêncio por dois segundos a mais do que devia.
Depois só completei:
— É recíproco.
A gravação seguiu com brincadeiras, alguns desafios e mais pintura do que conversa. Mas a tensão... ela nunca saiu.
No fim, mostramos os tênis para a câmera. O meu parecia algo feito por um adolescente entediado. O dele, por algum motivo, tinha escrito "Su-ho" numa lateral. Com uma chama em volta.
— Isso é egocentrismo? — provoquei.
— Isso é marketing. — respondeu.
Nos despedimos do público com acenos ensaiados e a equipe aplaudiu.
Caminhamos juntos pelo corredor que levava até os camarins, lado a lado, em silêncio. O som dos nossos passos preenchendo o vazio.
— Aquele "recíproco" ali no fim foi sincero? — ele perguntou, ainda olhando pra frente.
— Você acha que eu mentiria no ar?
— Não é o que estamos fazendo? Marketing?
Silêncio.
Quando chegamos à bifurcação que separava os camarins, ele parou por um segundo.
— Vai levar seu tênis?
— Vou esconder no fundo do armário — falei, com um sorriso fraco. — Ninguém nunca vai ver isso.
— Uma pena. O meu vai para a exposição na sala de casa.
— Vai assustar as visitas.
— Melhor assim.
Nos olhamos por um segundo. Aquele segundo longo.
— Foi bom te ver, Ji-hoon.
— A gente se vê.
— A gente se vê — ele repetiu.
E seguiu pelo corredor oposto, as mãos no bolso, o andar calmo como sempre.
Fiquei ali parado por alguns segundos, tênis na mão, o coração esquisito no peito, como se tudo tivesse sido só mais uma cena bem ensaiada.
Mas não foi.
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Fora do Script
FanfictionNos bastidores de uma das séries mais comentadas da Coréia, dois atores com carreiras em ascensão tentam manter os pés no chão enquanto tudo ao redor parece prestes a desmoronar. Ji-hoon e Hyun-wook interpretaram personagens inesquecíveis e a químic...
