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— Tá vivo?

Abri os olhos devagar, sentindo como se minha cabeça tivesse sido atropelada por um caminhão. Minji estava agachada do meu lado, com o cabelo desgrenhado e a cara mais julgadora do mundo.

Pisquei algumas vezes, tentando entender onde eu estava, até perceber que ainda estávamos no meio da sala do novo apartamento... no chão.

— Que horas são? — murmurei, com a voz rouca e o gosto de cerveja velha na boca.

— Hora de repensar todas as escolhas da noite passada — ela respondeu, se jogando no chão com um suspiro.

Me arrastei para me sentar, os ossos estalando de leve. Do meu lado, o caos: garrafas vazias, embalagens de comida, travesseiros jogados, uma almofada que aparentemente tinha servido de cama para alguém. E mais à frente...

— Ele está respirando? — perguntei, apontando com o queixo.

Choi estava jogado no canto da sala, encostado na parede feito uma estrela morta. Braços abertos, cabelo bagunçado, expressão em paz como se estivesse dormindo em um spa cinco estrelas, não em um chão duro de madeira.

Minji se levantou com esforço, caminhou até ele e cutucou seu ombro com o pé.

— Tá vivo, astro?

Choi abriu os olhos devagar. Parecia confuso. Muito confuso.

— Onde...?

— Inferno da ressaca — ela respondeu antes dele terminar a pergunta.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Três adultos largados no chão de um apartamento recém-alugado, cercados de lixo e decisões questionáveis.

E então, começamos a rir.

Primeiro um riso fraco, meio preso na garganta... mas aí, sem controle, virou gargalhada. Eu ri até as bochechas doerem, até meus olhos lacrimejarem. E por um instante, ali naquele caos, tudo pareceu leve.

Mas claro que a vida sempre dá um jeitinho de lembrar que a paz tem prazo.

Ding-dong.

A campainha tocou.

Minji soltou um gemido longo, tipo uma alma saindo do corpo.

— Se for um exorcista, vou dizer que é tarde demais — ela resmungou, se levantando como se o peso do mundo estivesse grudado nas costas.

Eu e Choi trocamos um olhar cúmplice, esperando.

De longe, escutamos uma voz masculina e formal demais para o horário.

— Senhora, viemos falar sobre o barulho da madrugada. Houve várias reclamações. O regulamento não permite festas nesse horário, especialmente com esse volume...

Fechei os olhos.

Merda.

Minji voltou pouco depois com um envelope branco na mão, a expressão entre o choque e a derrota.

— Ótimo. Primeiro dia de apartamento novo e a gente já conseguiu uma multa.

Ela largou o envelope no chão e se jogou ao lado dele, de braços cruzados, encarando o teto como se esperasse que o universo pedisse desculpas.

Choi ainda estava no chão, agora com um travesseiro na cara.

— Eu vou morar aqui — ele falou, a voz abafada. — Nesse canto. Ninguém vai me achar aqui.

Me joguei de novo no tapete, o riso voltando sem que eu pudesse impedir.

É. Definitivamente, o começo mais caótico possível.

Fora do Script Where stories live. Discover now