• 19 •

381 59 10
                                        

Acho que a parte mais difícil de fingir é continuar sentado.

A sala inteira aplaudia o nome dele e eu estava ali, tentando não transparecer absolutamente nada. A câmera virou para mim e eu vi meu rosto estourar no telão gigante atrás do Ji-hoon.

Na hora, ele travou. Mesmo no palco, mesmo com um prêmio na mão, ele travou.

Foi só um segundo. Mas eu vi.

E isso me atravessou de um jeito que não dava para explicar.

Eu tentei fazer o certo esse tempo todo.

Ficar na minha.
Não mandar mensagem.
Esperar o momento certo — se é que ele existe.

Mas quando ele subiu ali em cima... quando agradeceu sem olhar para mim... quando saiu do palco com o olhar perdido...

Eu não pensei.

Simplesmente na festa, saí do salão, fui atrás. Passei por gente demais, portas demais, vozes demais. E quando vi que ele tinha entrado no banheiro, meu corpo agiu por conta própria.

A porta mal tinha fechado e eu já estava lá dentro.
Fechei o trinco e puxei ele para a cabine sem pensar duas vezes.

E foi ali que tudo me atingiu.

O espaço minúsculo.
O perfume dele.
A respiração curta.
O olhar confuso.

O meu próprio coração descompassado.

A boca dele... tão perto.

Ele me perguntou por que eu olhava daquele jeito.

E eu não soube o que dizer. Talvez porque fosse a primeira vez que eu olhava de verdade.

Os olhos dele pareciam pedir uma resposta.
Mas como é que eu ia responder algo que nem eu entendo?

Eu só sabia que, por mais estranho que parecesse, estar ali com ele fazia sentido. Mesmo com o medo. Mesmo com o mundo assistindo.

Quase encostei.

Por um segundo, quase cedi.

Mas ele se afastou um pouco.
E eu também.

A gente não podia.
Ou talvez só não conseguia.

Quando saí daquele banheiro, minhas mãos tremiam. Meu peito parecia que ia estourar.

Aquela proximidade me tirou o ar de um jeito que nem os maiores palcos fizeram.

Fui embora logo depois.
Passei por fotógrafos, flashes e fãs, mas nem lembro do caminho até em casa.

Só lembro de deitar na cama, olhar para o teto e me perguntar:

"O que foi aquilo?"

A madrugada passou arrastada.

Me virei de um lado para o outro, sem pegar no sono.

Minha cabeça só repetia a cena do banheiro, o olhar dele, a tensão no ar, os olhos presos nos meus lábios, o quase que, quase foi.

E, pela primeira vez desde que tudo isso começou, eu pensei que talvez a gente nunca tenha sido só amigos.

Na manhã seguinte, dormi mal.
Ou melhor... não dormi.

Quando o celular despertou, meu corpo se levantou antes da mente entender o que estava acontecendo. Entrei no banho como um zumbi e fiquei lá, sob a água quente, tentando apagar da pele a memória da noite anterior.

Mas era inútil.

Quando entrei na van, Jeong já estava no celular, resolvendo algo, e me lançou aquele olhar lateral rápido, como se tentasse adivinhar meu humor.

— Dormiu bem? — perguntou, ajeitando o óculos.

Pigarreei.

— Mais ou menos. — Resposta padrão.

Ele olhou o tablet no colo, deslizou umas telas e então perguntou, casual:

— E a festa ontem? Vi umas fotos suas saindo. Teve pós?

— Hm... — forcei um bocejo, só pra preencher o silêncio. — Foi tranquilo. Normal. Não fiquei muito.

Jeong não respondeu, mas eu senti o olhar atravessar minha nuca.

O dia foi no automático.

Primeiro, uma sessão de fotos com roupas que pinicavam e sorrisos que doíam.

Depois, uma gravação promocional que exigia que eu parecesse animado quando tudo o que queria era um quarto escuro e nenhum ser humano por perto.

No intervalo, sentei com uma garrafinha d'água e fiquei encarando o chão por alguns minutos. Jeong apareceu do nada e deixou uma marmita em cima da mesa.

— Come alguma coisa. Você parece meio... fora do ar.

— Tô bem — menti.

Ele franziu a testa, mas não insistiu. Me conhecia o suficiente pra saber que, se pressionasse, eu me fechava mais ainda.

Peguei o celular e havia um fã-clube postando uma montagem de nós na premiação. Tinha zoom no telão, no momento em que apareci enquanto ele discursava. A legenda era algo tipo:

"Só eu vi os olhos do Choi brilhando?"
#SuHoSiEunForLife
#ActingOrSomethingMore?

Bloqueei a tela rápido.

Alguém ao lado comentou alguma coisa sobre como os shippers estavam indo longe demais, mas eu nem consegui rir.

Porque... estavam?

Ou só estavam vendo o que a gente não queria enxergar?

À noite, voltei para casa cansado. Mais do corpo emocional do que do físico.

Deitei no sofá sem nem tirar o casaco.

E fiquei ali, encarando o teto.
Querendo mandar mensagem.
Querendo saber se ele também estava assim.

Mas a verdade é que... talvez ele tivesse esquecido tudo. Talvez para ele, aquele momento no banheiro tivesse sido só um lapso.

E eu era o único idiota que não conseguia mais parar de pensar.

Fora do Script Where stories live. Discover now