Acho que a parte mais difícil de fingir é continuar sentado.
A sala inteira aplaudia o nome dele e eu estava ali, tentando não transparecer absolutamente nada. A câmera virou para mim e eu vi meu rosto estourar no telão gigante atrás do Ji-hoon.
Na hora, ele travou. Mesmo no palco, mesmo com um prêmio na mão, ele travou.
Foi só um segundo. Mas eu vi.
E isso me atravessou de um jeito que não dava para explicar.
Eu tentei fazer o certo esse tempo todo.
Ficar na minha.
Não mandar mensagem.
Esperar o momento certo — se é que ele existe.
Mas quando ele subiu ali em cima... quando agradeceu sem olhar para mim... quando saiu do palco com o olhar perdido...
Eu não pensei.
Simplesmente na festa, saí do salão, fui atrás. Passei por gente demais, portas demais, vozes demais. E quando vi que ele tinha entrado no banheiro, meu corpo agiu por conta própria.
A porta mal tinha fechado e eu já estava lá dentro.
Fechei o trinco e puxei ele para a cabine sem pensar duas vezes.
E foi ali que tudo me atingiu.
O espaço minúsculo.
O perfume dele.
A respiração curta.
O olhar confuso.
O meu próprio coração descompassado.
A boca dele... tão perto.
Ele me perguntou por que eu olhava daquele jeito.
E eu não soube o que dizer. Talvez porque fosse a primeira vez que eu olhava de verdade.
Os olhos dele pareciam pedir uma resposta.
Mas como é que eu ia responder algo que nem eu entendo?
Eu só sabia que, por mais estranho que parecesse, estar ali com ele fazia sentido. Mesmo com o medo. Mesmo com o mundo assistindo.
Quase encostei.
Por um segundo, quase cedi.
Mas ele se afastou um pouco.
E eu também.
A gente não podia.
Ou talvez só não conseguia.
Quando saí daquele banheiro, minhas mãos tremiam. Meu peito parecia que ia estourar.
Aquela proximidade me tirou o ar de um jeito que nem os maiores palcos fizeram.
Fui embora logo depois.
Passei por fotógrafos, flashes e fãs, mas nem lembro do caminho até em casa.
Só lembro de deitar na cama, olhar para o teto e me perguntar:
"O que foi aquilo?"
A madrugada passou arrastada.
Me virei de um lado para o outro, sem pegar no sono.
Minha cabeça só repetia a cena do banheiro, o olhar dele, a tensão no ar, os olhos presos nos meus lábios, o quase que, quase foi.
E, pela primeira vez desde que tudo isso começou, eu pensei que talvez a gente nunca tenha sido só amigos.
Na manhã seguinte, dormi mal.
Ou melhor... não dormi.
Quando o celular despertou, meu corpo se levantou antes da mente entender o que estava acontecendo. Entrei no banho como um zumbi e fiquei lá, sob a água quente, tentando apagar da pele a memória da noite anterior.
Mas era inútil.
Quando entrei na van, Jeong já estava no celular, resolvendo algo, e me lançou aquele olhar lateral rápido, como se tentasse adivinhar meu humor.
— Dormiu bem? — perguntou, ajeitando o óculos.
Pigarreei.
— Mais ou menos. — Resposta padrão.
Ele olhou o tablet no colo, deslizou umas telas e então perguntou, casual:
— E a festa ontem? Vi umas fotos suas saindo. Teve pós?
— Hm... — forcei um bocejo, só pra preencher o silêncio. — Foi tranquilo. Normal. Não fiquei muito.
Jeong não respondeu, mas eu senti o olhar atravessar minha nuca.
O dia foi no automático.
Primeiro, uma sessão de fotos com roupas que pinicavam e sorrisos que doíam.
Depois, uma gravação promocional que exigia que eu parecesse animado quando tudo o que queria era um quarto escuro e nenhum ser humano por perto.
No intervalo, sentei com uma garrafinha d'água e fiquei encarando o chão por alguns minutos. Jeong apareceu do nada e deixou uma marmita em cima da mesa.
— Come alguma coisa. Você parece meio... fora do ar.
— Tô bem — menti.
Ele franziu a testa, mas não insistiu. Me conhecia o suficiente pra saber que, se pressionasse, eu me fechava mais ainda.
Peguei o celular e havia um fã-clube postando uma montagem de nós na premiação. Tinha zoom no telão, no momento em que apareci enquanto ele discursava. A legenda era algo tipo:
"Só eu vi os olhos do Choi brilhando?"
#SuHoSiEunForLife
#ActingOrSomethingMore?
Bloqueei a tela rápido.
Alguém ao lado comentou alguma coisa sobre como os shippers estavam indo longe demais, mas eu nem consegui rir.
Porque... estavam?
Ou só estavam vendo o que a gente não queria enxergar?
À noite, voltei para casa cansado. Mais do corpo emocional do que do físico.
Deitei no sofá sem nem tirar o casaco.
E fiquei ali, encarando o teto.
Querendo mandar mensagem.
Querendo saber se ele também estava assim.
Mas a verdade é que... talvez ele tivesse esquecido tudo. Talvez para ele, aquele momento no banheiro tivesse sido só um lapso.
E eu era o único idiota que não conseguia mais parar de pensar.
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Fora do Script
FanfictionNos bastidores de uma das séries mais comentadas da Coréia, dois atores com carreiras em ascensão tentam manter os pés no chão enquanto tudo ao redor parece prestes a desmoronar. Ji-hoon e Hyun-wook interpretaram personagens inesquecíveis e a químic...
