Fora do Script

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Alguns dias de descanso fizeram mais por mim do que qualquer remédio. Dormir no meu próprio quarto, acordar com silêncio e tomar café sem pressa parecia coisa de luxo.

Naquela manhã, acordei leve. Sem olheiras profundas, sem ressaca moral, sem olhar torto da Minji.

Pelo menos até ela me chamar no corredor:

— Ji-hoon, Soo-min pediu uma reunião com você hoje.

— O diretor?

— Sim. Quer te ver na produtora às 11h. Parece urgente.

Levantei a sobrancelha.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não sei. Só disseram que é sobre a série. Talvez alguma campanha. Talvez... coisa de elenco.

Me arrumei com calma e fui até lá com a cabeça tranquila.

Mas bastou Yoo Soo-min me cumprimentar com aquele sorriso de canto e os olhos cheios de intenção para eu saber que tinha algo estranho vindo.

— Ji-hoon, você sabe o quanto Weak Hero cresceu desde o lançamento, certo? — ele começou, sentado de frente pra mim, os dedos entrelaçados sobre a mesa. — Mas nas últimas semanas, a audiência antiga voltou com tudo. E, curiosamente, não é só por causa da segunda temporada.

— Como assim?

Ele girou o notebook na minha direção.

Mostrou gráficos, comentários, tweets, vídeos editados. Fãs analisando olhares. Compilações de interações.

"Suho olhando pro Si-eun por 3 minutos seguidos — versão sem cortes".

Suspirei.

— Achei que a série era sobre violência escolar, não análise de linguagem corporal.

— O público vê o que quer ver. — ele riu. — Mas a verdade é: as pessoas querem ver vocês dois juntos de novo. Fora das cenas. Em bastidores, em fotos e em conteúdos promocionais.

Minji, que estava encostada perto da porta, cruzou os braços com força.

— Isso é marketing?

— Isso é... oportunidade. — Soo-min respondeu, ainda sorrindo. — Não estou pedindo para vocês encenarem nada. Só... estarem juntos em mais eventos. Fãs, marcas, patrocinadores e serem amigos, como já são.

— Isso não vai gerar mais boatos? — Minji rebateu, firme.

— Os boatos já existem. — ele respondeu, calmo. — Só estamos abraçando o que já está sendo falado. Não é nada demais, vão são amigos, não são?

Fiquei em silêncio por um momento, observando as imagens no notebook.

Era estranho me ver assim... analisado. Como se meu rosto, meu corpo, minha forma de olhar tivessem se tornado uma extensão de um personagem que eu já nem sabia mais onde terminava.

— E o Choi? — perguntei. — O que ele acha disso?

Soo-min não hesitou:

— Já conversei com ele. Ele topou. Disse que está tudo bem pra ele, contanto que você também esteja.

Desviei o olhar.
Claro que ele já tinha topado.
Claro que ele não se incomodaria.

Suspirei.

Minji me olhou com aquele olhar que gritava "pensa bem", mas eu só balancei a cabeça.

— Então... tudo bem. Eu topo.

Soo-min sorriu largo, satisfeito.

— Ótimo. Já tenho alguns eventos e vídeos em mente. Vai ser bom para todo mundo. Confia em mim.

Levantei, sem saber se confiava mesmo.

Enquanto caminhava para o elevador ao lado de Minji, ela me cutucou com o cotovelo.

— Tem certeza?

— Não. — respondi. — Mas... já topei.

Ela suspirou.

— Só não esquece que "parecer natural" é um campo minado.

Sorri fraco.