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Foi uma ideia péssima.

Péssima e impulsiva. Como a maioria das coisas que envolvem o Ji-hoon.

Eu estava com o celular na mão fazia quase meia hora, encarando a conversa travada entre mim e a Minji. Ela tinha me ignorado nas primeiras tentativas, como sempre fazia quando percebia que eu estava tentando cavar informação demais. Mas depois de uma sequência irritante de mensagens minhas, um "Por favor" sincero e um emoji dramático, ela finalmente cedeu:

"Academia C+ Studio, Itaewon. Não inventa moda."

Inventar moda? Imagina. Eu só estava indo "dar um oi". Como se fosse casual. Natural. Amistoso.

Ridículo.

Mas quando vi, já estava no carro, com o endereço no GPS e a cara de pau bem vestida em uma camiseta larga, boné e óculos escuros. A desculpa que repeti mentalmente até entrar na recepção da academia era que eu precisava treinar também. Que estava com tempo livre. Que era coincidência total.

Tudo mentira.

Logo que entrei, senti alguns olhares. Dois caras perto da escada me encararam por tempo demais. Uma mulher que saiu da sala de funcional parou no corredor como se tivesse visto um fantasma bonito. Dei um aceno discreto, sem muita paciência. Eu estava ali por um motivo só.

Fui andando devagar, desviando das máquinas, dos olhares, tentando parecer mais casual do que me sentia. O espaço era amplo, bem iluminado, com janelas grandes e espelhos por todos os lados. E foi justamente num desses espelhos que eu vi Ji-hoon.

Ele estava de costas para mim, vestindo uma camiseta preta justa, cabelo grudado na testa, rindo de alguma coisa que o personal dizia. Rindo. De verdade. Aquele sorriso que ele raramente mostrava para mim. Aquela risada leve, descuidada.

Aquilo me fez parar. Um segundo. Dois. O suficiente pra sentir o estômago revirar com algo que eu, até então, não queria admitir.

Ciúmes. Era isso. E estava me engasgando.

Sem pensar mais, fui até lá, passando por dois caras que mal disfarçaram o olhar curioso.

— Olha quem está aqui — soltei, sorrindo, ao me aproximar.

Ji-hoon se virou, surpreso, limpando o suor da testa com a toalha. Abriu um meio sorriso, claramente confuso.

— Choi?

— O próprio.

Antes que ele dissesse qualquer coisa, passei o braço pelo ombro dele, puxando devagar. Ele ficou rígido por um instante, depois me olhou de lado, sem entender nada.

— Como está o treino? — perguntei, apertando de leve o ombro dele e olhando diretamente para o personal, que nos observava com expressão neutra. Neutra demais.

O cara era alto. Braço tatuado. Camiseta da academia colada no corpo, daqueles que nem precisa abrir a boca para intimidar.

Ótimo.

— Ah... estava tranquilo. Estamos terminando — Ji-hoon respondeu, ainda desconfiado. — O que você está fazendo aqui?

— Vim treinar. Coincidentemente na mesma academia que você. — Sorri. — O mundo é pequeno, né?

Ji-hoon arqueou a sobrancelha, claramente não acreditando em nada do que eu dizia. Mas antes que ele tivesse tempo de reagir, eu soltei o ombro dele e me virei para o personal.

— E aí, parceiro. Dá pra incluir mais um nesse treino?

O homem olhou para Ji-hoon, depois pra mim. Mediu minha altura, meu corpo, talvez meu tom de voz.

Fora do Script Where stories live. Discover now