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Na vida real, não existe crédito de encerramento.

Não tem aquela música bonita subindo enquanto você encara o nada, com o rosto carregado de sentimentos. Na vida real, o que tem é uma assistente de produção batendo na porta do camarim, dizendo que você tem que trocar de roupa em cinco minutos porque o fotógrafo já estava esperando no estúdio ao lado.

Foi isso que aconteceu depois da entrevista.
Nenhum tempo para processar. Nem para respirar.

Saí do estúdio direto para uma sessão de fotos promocionais de outro projeto: um drama que nem tinha nome ainda, mas que precisava de "imagem forte" pra gerar engajamento online.
Me entregaram três roupas diferentes. Nenhuma delas parecia comigo.

Mas eu vesti todas.

Fiz as poses. Olhei direto para a lente. Inclinei o queixo do jeito que mandaram. Sorri quando pediram e fechei a expressão quando o diretor disse: "Mais intensidade, Ji-hoon. Isso, mais vazio no olhar."

Engraçado.

Vazio não era o problema.

O problema era ter coisa demais ali dentro, tudo empilhado em silêncio.

Quando terminou, entrei na van da agência e já havia outra agenda me esperando no celular.

Leitura de roteiro às 17h.
Ensaio com dublê às 19h.
Reunião com estilista às 21h.

Nada disso me surpreendeu.

Fama não vem com glamour, vem com cronograma.

— Está cansado? — perguntou Minji, minha manager, enquanto me passava uma marmita com arroz e frango dentro da van.

Assenti devagar.

— Só mais um dia, né?

Ela riu.

— E amanhã tem ensaio da campanha de outono. Vão me mandar o briefing hoje à noite.

— Ótimo — murmurei, enfiando o garfo na comida sem fome.

Meu celular vibrou no colo.

Grupo do drama novo.

Mais atualizações.

Vibrou de novo.

Fã-clube oficial. Postaram um trecho da entrevista de hoje.

Comentário: "A química do Ji-hoon com o elenco antigo ainda é surreal!! Olha esse olhar pro Choi 😭😭😭"

Desbloqueei a tela. Assisti o vídeo. Era um trecho pequeno. A gente rindo. Eu desviando o olhar. Ele sorrindo.

Parei de assistir e bloqueei de novo.

Não porque não queria ver, mas porque não dava tempo.

À noite, cheguei no dormitório provisório da agência. Aquele que uso quando não compensa voltar pra casa.

Joguei a mochila no chão, tirei o casaco e fui direto para o chuveiro. A água quente parecia boa demais pra durar pouco, mas eu tinha cronograma até no banho.

Cinco minutos, no máximo.

Saí, vesti a roupa mais larga que achei, me joguei na cama sem nem apagar a luz. O celular vibrava em algum lugar do quarto, mas eu não alcancei.

O corpo pedia pausa. E a cabeça... a cabeça ainda guardava uma memória.

"Fico feliz que você ainda fique sem graça quando eu olho para você."

Fechei os olhos. Amanhã tem outro dia cheio. Outro set. Outra pose. Outro personagem.

Mas antes de dormir, pela primeira vez no dia inteiro, deixei a mente vagar só por cinco segundos.

Fora do Script Where stories live. Discover now