Saímos do café sem pressa, mas sem saber para onde olhar. Eu fui na frente. Ele ficou uns passos atrás. A rua estava vazia, só umas folhas secas passando com o vento e um cachorro dormindo embaixo de um carro.
Coloquei a máscara antes de empurrar a porta. Ele também.
Ficamos parados ali na calçada, perto da esquina.
Cada um com o capuz meio puxado para frente, os olhos escondidos atrás dos óculos escuros.
Dois homens que podiam ser qualquer pessoa. E, ao mesmo tempo, ninguém.
— Você chamou um motorista? — perguntei, só para quebrar o silêncio.
— Ele já está vindo.
Assenti.
Tentei pensar em algo útil pra dizer. Algo que fizesse sentido. Mas a cabeça estava vazia.
Não foi um encontro estranho. Mas também não foi simples.
Era o tipo de coisa que, se alguém me perguntasse depois, eu não saberia explicar o motivo.
Ele mexeu na manga do casaco, como se quisesse ocupar as mãos com alguma coisa.
— Não sei quando vou ter outro dia livre — disse, baixo.
— Eu também não — respondi.
— Mas valeu ter vindo.
— É.
Poderia ter dito mais. Mas se tem uma coisa que aprendi com o tempo, é que silêncio às vezes diz o que a gente não consegue.
O carro dele virou a esquina. Parou bem na nossa frente.
Ele abriu a porta, mas hesitou.
Virou pra mim e soltou um:
— A gente se vê... quando der.
— Quando der — repeti.
E foi só isso.
Ele entrou no carro e não olhou pra trás. Eu fiquei ali por alguns segundos, até o carro sumir da rua.
Guardei o celular no bolso da calça, enfiei as mãos no bolso do casaco e comecei a andar devagar pelo bairro.
Dei dois passos.
O celular vibrou.
Olhei a tela.
Minji.
Suspirei antes mesmo de atender.
— Onde você está?! — foi a primeira coisa que ouvi. Sem oi, sem pausa.
— Estou voltando para casa — respondi, como se fosse óbvio.
— Voltando? Você não deveria ter saído! Ji-hoon, você está de folga! Fol-ga. Isso significa o quê?
— Descansar?
— Exatamente! E por que o GPS do seu celular me mostra você andando no meio do mundo, com o fígado provavelmente tremendo de frio?
— Eu só... fui tomar um café.
— Sozinho?
Pausa.
— Uhum.
— Eu deveria rastrear seu cartão de crédito também, sabia? Aposto que foi no Café Hayeon, aquele buraco que você jura que ninguém conhece.
Sorri de canto. Minji era... insuportavelmente boa no que fazia.
— Eu já estou indo para casa — falei, manso.
— Você deveria estar em casa há duas horas, Ji-hoon! Quer que eu vá aí te buscar de coleira?
— Minji...
— Eu cancelei seu compromisso de hoje de tarde para você descansar. Se eu soubesse que você ia sair andando por Seul feito zumbi com crise existencial, eu não teria feito nada.
— Eu não estou tendo crise existencial — respondi, sem conseguir segurar o riso.
— Está sim. Dá para ouvir pela sua voz que você está todo filosófico.
— Eu só fui respirar um pouco.
— Respira na varanda da sua casa! Na cama! No banho quente! Não no meio da cidade fria!
— Tá. Já entendi. Estou indo.
— Eu juro por tudo, se algum fã tirar uma foto sua na rua hoje, eu mesma sumo com você da internet.
— Então você se importa...
— Eu me importo com a minha sanidade mental, seu ingrato. Agora vai embora antes que eu apareça aí na sua frente.
Desliguei antes que ela continuasse.
Guardei o celular, rindo muito sozinho enquanto dobrava a esquina.
A Minji sempre sabia das coisas. Até quando eu não sabia o que estava fazendo.
E apesar da bronca, era bom ter alguém que cuidasse assim de mim. Só não dava para explicar o porquê de eu ter precisado sair hoje.
Nem pra ela.
Nem pra mim.
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Fora do Script
FanfictionNos bastidores de uma das séries mais comentadas da Coréia, dois atores com carreiras em ascensão tentam manter os pés no chão enquanto tudo ao redor parece prestes a desmoronar. Ji-hoon e Hyun-wook interpretaram personagens inesquecíveis e a químic...
