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O bar era pequeno, quase vazio, em uma rua onde a imprensa raramente encostava. Eu só estava ali porque Kyung insistiu — e porque, por uma hora, eu queria fingir que nada estava acontecendo.

Ele falava alguma coisa sobre um novo roteiro, um projeto de drama. Eu fingia escutar. Tinha uma cerveja quente na frente e um celular escondido entre a perna e o banco, vibrando de vez em quando.

Deslizei o dedo na tela discretamente.

Nada dele.

Respirei fundo. Eu odiava esperar.

Jeong já havia brigado comigo três vezes no mesmo dia. Uma por causa de um compromisso que recusei, outra por ter sido visto no carro errado e a última por estar "estranho demais desde aquele vídeo."

Mas eu não estava estranho. Eu estava no limite.

— Cara, você está ouvindo? — Kyung cutucou o copo contra o meu. — Acorda aí.

— Estou ouvindo — menti, encostando na cadeira.

Foi aí que ouvi.

Vinha da mesa ao lado. Dois caras, um pouco mais velho que eu, rindo baixo. Um deles falava meio bêbado, mas não o suficiente para que eu ignorasse.

— Você viu o tal vídeo do garoto? O atorzinho lá... o delicado? — a risada dele era seca, debochada. — Nem tentam mais esconder, né?

O outro riu também.

— Aquele que parece uma mocinha? É. E o outro, o que carrega ele nas costas? Aquilo é homem?

Meus dedos se fecharam com força em volta do copo.

Pedi para meu corpo ficar sentado. Pedi para minha cabeça virar pro outro lado. Mas alguma coisa explodiu antes.

Levantei devagar, me aproximando da mesa como quem pede licença. Eles mal notaram.

— Repete — falei, calmo demais para ser real.

O da direita franziu a testa, confuso. O da esquerda me reconheceu só depois.

— Eita... você é o...

Não terminou.

Meu punho fechou contra o rosto dele com um som seco. A cadeira caiu. O outro tentou levantar, mas tropeçou com a pressa.

— Fala de novo — repeti, já sendo puxado por Kyung . — Fala de novo se você for homem.

— Hyun-wook! — ele me segurava pelo casaco, nervoso. — Para com isso, vai dar ruim.

Os caras estavam no chão. Um tossia, o outro xingava. Mas ninguém encostava em mim.

Saí do bar com o sangue queimando.

Do lado de fora, no frio, abri o celular de novo.

A mensagem ainda não havia sido respondida.

Mas o gosto de ter defendido ele, mesmo que do jeito errado, fez tudo dentro de mim tremer um pouco menos.

O frio lá fora me acertou como um tapa. Mas não doía tanto quanto a merda toda dentro de mim... e a minha mão.

Kyung veio logo atrás, segurando meu braço com força.

— Você está maluco? — perguntou, já abrindo a porta do carro. — Entra logo.

Joguei o corpo no banco do carona e bati a porta com mais força do que precisava. Me afundei no casaco, os olhos ainda queimando.

Ele entrou, ligou o motor e ficou em silêncio por um tempo, como se estivesse tentando entender por onde começar.

— Hyun-wook...

Fora do Script Where stories live. Discover now