• 24 •

437 61 11
                                        

A luz que atravessava as cortinas finas foi o primeiro incômodo que me tirou do sono. A cabeça estava tranquila, mas o coração... ainda parecia bater no ritmo da noite anterior.

Abri os olhos devagar, tentando organizar os pensamentos. Por um instante, quis acreditar que tudo tinha sido um sonho — não porque eu me arrependesse, mas porque parecia surreal demais pra ser verdade.

Nós nos beijamos.

Nunca tinha feito aquilo antes, com outro homem. E mesmo sem ter pensado muito sobre isso antes, mesmo sem saber que tipo de resposta dar se alguém me perguntasse o que eu sentia... ontem à noite eu só quis sentir. E gostei. Muito.

Só que agora vinha a parte difícil. O depois.
O que a gente faz com o que aconteceu? A gente fala sobre? Ou finge que nada mudou?

Levantei, me vesti devagar, evitando qualquer barulho desnecessário. A cada peça de roupa que eu colocava, parecia que eu ia me afastando da noite passada. Me preparando para voltar a ser só o Ji-hoon que todos conhecem.

Desci as escadas e encontrei o Choi na cozinha, encostado no balcão, com uma caneca nas mãos. Ele me olhou, e por um segundo hesitei. Tive vontade de sorrir, mas me contive.

— Bom dia... — murmurei.

Ele retribuiu o olhar, tranquilo, e disse:

— Bom dia. Dormiu bem?

Assenti. O silêncio que se seguiu foi estranho.
Eu me sentia diferente e talvez estivesse esperando que ele também estivesse. Mas ele parecia sereno.

— Sobre ontem... — comecei, sem saber exatamente o que queria dizer.

Ele me interrompeu antes que eu complicasse tudo.

— Não precisa ficar sem graça, Ji-hoon.
Ontem foi um dia bom. Só isso. E está tudo bem.

Eu respirei fundo, sentindo uma pequena onda de alívio, mas também confusão. Eu queria que fosse simples assim, e talvez fosse. Só que, dentro de mim, nada estava simples.

— É... foi bom mesmo — admiti, mais para mim do que para ele.

Terminamos de arrumar nossas coisas sem falar muito. Cada um no seu canto, organizando a bagunça do final de semana.

Choi me acompanhou até lá fora. O ar da manhã era fresco, mas minhas mãos estavam suadas. Ficar do lado dele em silêncio fazia meu corpo inteiro ficar em alerta.

Diante do carro, ele parou. Me olhou. Havia algo naquele olhar... como se ele quisesse dizer mais, mas estivesse escolhendo não complicar.

— Se cuida Ji-hoon — ele disse.

— Você também.

Eu já estava abrindo a porta do carro, tentando me livrar daquele momento estranho de despedida, quando senti sua mão segurar a minha. Firme, mas com cuidado.

Antes que eu dissesse qualquer coisa, ele se aproximou, abaixou a cabeça um pouco e... beijou minha mão. Rápido, quase discreto. Mas meu coração explodiu no peito.

Fiquei ali, parado, com a porta aberta, sem saber o que fazer. Ele sorriu de leve e disse:

— Vai tranquilo. A gente se fala.

E então se afastou.

Entrei no carro, ainda tentando entender o que tinha acontecido. Olhei pela janela enquanto ele voltava lentamente para dentro da casa, e me dei conta de que o difícil não era entender o que aconteceu ontem.

O difícil era lidar com o que estava nascendo agora.

O caminho de volta foi mais longo do que parecia no mapa. Talvez porque minha cabeça não conseguia ficar quieta.

Fora do Script Where stories live. Discover now