O ar estava gelado demais para ser manhã, mas o sol já começava a esquentar o chão devagar. Abri a porta com a caneca fumegante de café na mão e deixei que a luz batesse direto no meu rosto.
Não era comum eu acordar antes de alguém. Ainda mais em um lugar calmo como aquele. Mas hoje... não sei. Só acordei.
Talvez tenha sido o silêncio. Ou talvez o simples fato de ele estar dormindo ali dentro.
Me sentei no banco de madeira da varanda da casa. Aquela casa era velha, mas bem cuidada. Nunca pensei que traria alguém, se soubesse, teria cuidado mais.
Tomei um gole do café. Ainda quente.
Fechei os olhos por um segundo e deixei o sol bater nas pálpebras. Sentia o frio nas mãos e no nariz, mas o calor se espalhava devagar.
Não pensei em nada. Ou talvez pensasse em tudo.
O som da porta se abrindo tirou meu foco.
Abri os olhos devagar e vi Ji-hoon saindo, com moletom grosso e o cabelo meio bagunçado, tropeçando levemente nos próprios passos como se ainda estivesse acordando.
Sorri, sem dizer nada.
Levantei a mão e fiz um gesto pra ele vir até onde eu estava.
Ele hesitou por uns segundos, olhou para o chão, depois olhou pra mim de novo. E veio.
— Você acorda cedo? — perguntou, a voz ainda rouca de sono.
— Não. Só hoje mesmo.
— Por quê?
— Não sei. Silêncio demais, talvez.
Ele se sentou ao meu lado, os joelhos quase encostando. Ficamos ali, por uns minutos, sem dizer nada. O sol batia no nosso rosto e ele fechava os olhos de vez em quando como se estivesse absorvendo a luz toda. A mão repousando sobre o joelho, relaxada. Por um instante, me peguei reparando demais. Olhando demais.
Desviei antes que ele percebesse.
— Vai querer café? — perguntei, para quebrar o silêncio.
— Daqui a pouco.
— Ji-hoon...
— Hum...
— Você gosta de mim? — perguntei na lata.
Ji-hoon me encarou assustado, certeza que se ele não medisse tanto suas palavras, diria agora "Tá maluco, essas horas?"
— Hyun-wook... — ele soltou um riso e desviou o olhar.
Me surpreendi, achei que ele iria me ignorar.
— Que pergunta é essa?
Ele não estava bravo. Só... perdido. E com razão.
Mas eu não ia fingir que não tinha dito.
— Uma pergunta sincera. — dei de ombros, tentando parecer despreocupado. Tomei um gole de café.
Ji-hoon soltou um suspiro leve, como quem estava tentando encontrar alguma resposta segura que não entregasse nada. Não respondeu de imediato. O silêncio voltou, mas dessa vez era diferente. Um pouco mais tenso.
— Não sei. — ele disse por fim, sem me encarar. — Quer dizer... sei lá. Você é meu amigo.
"Você é meu amigo."
Aquela frase que serve pra tudo, inclusive para evitar qualquer coisa que não se quer encarar.
— Eu também sou seu amigo. — falei, tentando sorrir. — Mas você já pensou nisso? Em... gostar de alguém assim?
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Fora do Script
FanfictionNos bastidores de uma das séries mais comentadas da Coréia, dois atores com carreiras em ascensão tentam manter os pés no chão enquanto tudo ao redor parece prestes a desmoronar. Ji-hoon e Hyun-wook interpretaram personagens inesquecíveis e a químic...
