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As luzes do estúdio foram desligando aos poucos.

Cumprimentei a equipe, agradeci à Do-yeon, que me abraçou com força, dizendo "vocês dois precisam vir de novo, o público vai pirar" e segui pelo corredor em silêncio.

Minji andava logo atrás de mim, mexendo no celular, provavelmente respondendo à produção, avisando que já estávamos indo embora.

Quando cheguei ao camarim, entrei primeiro. A sala ainda estava meio bagunçada: roupas penduradas, copos descartáveis esquecidos, os tablets da produção largados num canto.

Suspirei fundo e comecei a tirar o microfone do casaco.

A porta se abriu de novo.

Choi.

— Posso? — ele perguntou, sem esperar resposta.

Assenti com a cabeça, me afastando para o canto da sala.

Minji parou na porta, mas não entrou. Ficou ali, encostada no batente, os braços cruzados. Observando.

Hyun-wook tirou o blazer, colocou sobre a cadeira e pegou uma garrafinha de água na bancada. Tomou um gole. Depois outro. Depois me olhou.

— Você foi bem — disse ele, sem rodeios.

— Você falou demais — respondi, com um meio sorriso. — Como sempre.

Ele deu de ombros, sem negar.

— A timidez é sua marca registrada. Eu precisava equilibrar.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

A sala parecia pequena demais e o ar meio abafado.

Choi encostou na bancada, tirando o microfone devagar, como se quisesse ganhar tempo.

Minji estava parada no corredor, no canto da porta, braços cruzados, só observando. Não interferia, mas estava ali. Como uma lembrança de que não estávamos sozinhos de verdade.

— Faz tempo que a gente não se vê fora dessas coisas — ele comentou, sem olhar diretamente pra mim.

— É... — murmurei, enquanto tirava minha blusa do cabide. — A agenda está cruel.

— Eu pensei... — ele hesitou um pouco, depois continuou. — Que talvez a gente pudesse sair. Um dia. Jantar, ou só... andar por aí.

Me virei devagar. Não respondi de imediato.

— Ia ser bom — falei, sincero.

Ele sorriu, mas o sorriso tinha um quê de derrota antecipada.

— Mas vai ser difícil, né?

Assenti, devagar.

Ele deu uma risada baixa, sem humor.

— Bom, se acontecer... avisa — ele disse por fim, já se afastando.

— Se acontecer, eu aviso — repeti.

Ele pegou o blazer da cadeira, passou a mão pelo cabelo como quem tenta reorganizar os pensamentos e então foi em direção à porta.

Minji se afastou levemente, deixando ele passar.

— Boa noite, Ji-hoon — ele disse, sem olhar para trás.

— Boa noite.

Minji me olhou de lado.

— Vai negar até quando?

Fingi que não entendi.
Ela também não insistiu.

Só me entregou meu celular e saiu na frente.

E eu fiquei mais um minuto ali, sozinho, me perguntando quando, ou se, a gente conseguiria parar de viver só pelas entrelinhas.

A van me deixou em casa pouco antes das onze.
Desci em silêncio, com o boné puxado até os olhos e os ombros mais pesados do que quando saí.

Subi sozinho. O corredor estava escuro, como se o prédio inteiro estivesse dormindo. Abri a porta do apartamento e fui direto para o quarto, sem nem acender as luzes da sala.

Tirei o casaco, larguei a mochila no chão e me joguei na cama sem pensar muito.

Estiquei o braço e peguei o celular do bolso da calça. Tinha algumas mensagens não lidas, e no topo, uma notificação com o nome dele.

Choi Hyun-wook:
Guarda um dia pra mim. Algum. Qualquer um.

Fiquei olhando a tela, sem desbloquear.
A luz azul do visor piscava no meu rosto, mas não dizia nada além do que já era.

Eu não sabia o que aquilo significava. Talvez fosse só um amigo querendo ver outro amigo.

Respirei fundo.
Bloqueei a tela sem responder.

Coloquei o celular virado para baixo e encarei o teto escuro por longos minutos.

Fora do Script Where stories live. Discover now