A noite estava caótica, mas eu já estava acostumado com isso.
Era a quarta premiação do mês. Ensaios, gravações, entrevistas. O terno pinicava na gola e eu só queria uma garrafa d'água. Ou talvez algo mais forte. Mas sorri para os flashes como sempre.
"Um mês", pensei.
Já fazia um mês desde aquela conversa.
Desde que ele apareceu no meu corredor, me puxou para a realidade e depois foi embora sem dizer mais nada.
Um mês inteiro.
Sem contato.
Sem mensagens.
Sem coragem.
Me sentei na mesa designada pela produção, ajeitei o paletó e respirei fundo. Estava exausto, mas manter a pose era parte do jogo.
Foi aí que olhei ao redor e encontrei os olhos dele.
Choi Hyun-wook. Algumas mesas à frente.
Ele desviou o olhar rápido.
E eu também.
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Quando o prêmio de Melhor Atuação em Drama de Ação foi anunciado, o nome soou no alto-falante como se não fosse meu.
— Park Ji-hoon!
Aplausos.
Levantei meio em transe, agradeci com a cabeça e caminhei até o palco, ouvindo meu próprio nome ecoar junto com as palmas e gritos do público. Peguei o troféu com as duas mãos e me aproximei do microfone.
— Ah... — dei um sorriso fraco. — Primeiro... muito obrigado. A todos que acreditaram em mim. A produção. À equipe. Aos meus fãs...
Enquanto falava, levantei os olhos. E congelei.
A câmera tinha virado para o Choi.
Ele estava na tela gigante atrás de mim.
Seus olhos... focados em mim.
Foi coisa de dois segundos. Mas foi suficiente.
Meus olhos vacilaram. Minhas mãos suaram.
Desviei o olhar, tentando disfarçar.
— É um trabalho difícil, mas muito gratificante. Obrigado por me permitirem crescer com ele. E... é isso.
Abaixei a cabeça e saí do palco.
Na pós-festa da premiação, fiz o possível para parecer social.
Conversei com dois colegas de elenco, tirei fotos com um diretor antigo, aceitei um drink que eu nem pretendia beber. O ambiente era bonito, luxuoso, com música alta. Uma balada da alta sociedade.
E então, de longe, vi.
Choi estava do outro lado do salão, encostado perto do bar, copo na mão, olhar... em mim.
Virei o rosto, rápido. A taquicardia voltou sem convite.
— Vou ao banheiro — murmurei para ninguém específico e me esgueirei pelo salão até achar o corredor lateral.
O banheiro estava vazio, só com a música da pista de fundo. Caminhei até a pia, joguei água no rosto. Respirei fundo.
Mas antes que pudesse enxugar o rosto, ouvi a porta abrir atrás de mim. Antes que pudesse reagir, uma mão me puxou com força pelo pulso.
— Ei! — protestei, mas a voz morreu quando percebi quem era.
Choi trancou a porta da cabine atrás de nós. O espaço minúsculo. O ar rarefeito. Ele estava tão perto que podia sentir sua respiração quente.
Fiquei sem reação. Encostado contra a porta, com o coração batendo mais alto que a música da festa.
Ficamos nos olhando por longos segundos, eu tentando entender o que estava acontecendo e Hyun-Wook reparando em todas minhas feições.
— Parabéns pelo prêmio — disse, baixinho, a voz rouca.
Engoli em seco.
— O-obrigado... — respondi, mais nervoso do que gostaria.
Era muita proximidade. Muita coisa reprimida. Eu nem sabia mais o que pensar. Só que os olhos dele estavam nos meus.
E não desviavam.
Ele se aproximou mais um pouco, o rosto a centímetros do meu.
— Nem pra me dar um oi?
Fechei os olhos por um instante.
— Choi...
— Não somos desconhecidos, Ji-hoon — ele sussurrou. — Você pode pelo menos fingir que não me odeia.
Abri os olhos.
— Eu não te odeio.
— Então por que parece que eu sou o vilão da sua história?
Fiquei em silêncio.
Não sabia como responder.
Talvez porque não fazia ideia de como lidar com tudo isso. Talvez porque, no fundo, a minha maior raiva era de mim mesmo.
— Me desculpa — soltei, finalmente. — Eu só... não sei como agir.
Ele abaixou os olhos, suspirando.
— É. Eu também não. — ele disse e por um instante o silêncio se estendeu como se o tempo parasse ali dentro.
O ar estava pesado.
A respiração dele batia no meu rosto.
E por mais que eu tentasse me manter firme, minha mente estava indo longe demais.
Choi me encarava.
Não como amigo.
Não como colega de elenco.
Mas como se estivesse tentando entender alguma coisa que nem ele mesmo sabia explicar.
Seus olhos baixaram, por um segundo, para a minha boca. E aquilo me fez prender a respiração.
A gente não se encostava.
Não se movia.
Mas alguma coisa no ar começou a vibrar.
Foi um daqueles momentos em que tudo ao redor parece sumir.
A festa, o barulho, o lugar apertado, os motivos que me faziam ter medo...
Tudo foi substituído por uma única dúvida que martelava dentro de mim:
"E se...?"
Choi piscou devagar, mas não desviou o olhar.
Seus olhos voltaram para os meus, intensos, carregados de uma vontade que ele claramente estava tentando esconder — sem sucesso.
Minha garganta secou.
— Por que você está me olhando assim? — sussurrei, sem pensar.
Ele não respondeu.
Mas ficou ali.
Tão perto.
Meus olhos foram parar na curva do maxilar dele. No jeito como ele respirava pela boca agora, devagar.
— Por que eu não sei o que fazer com você. — respondeu depois de segundos.
Era absurdo como tudo parecia gritar sem som ali dentro.
— Choi...
Ele soltou o ar com força e, finalmente, destrancou a porta do box com um estalo que soou como um rompimento.
Antes de sair, parou, ainda de costas pra mim.
— Não me ignora, só isso.
E saiu.
Me deixou ali, com o corpo pulsando e a alma tremendo.
Encostei a cabeça na porta do box e fechei os olhos.
Eu queria gritar.
Ou sumir.
Ou voltar no tempo.
Mas tudo o que fiz foi respirar fundo, me recompor e sair dali como se nada tivesse acontecido.
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Fora do Script
FanfictionNos bastidores de uma das séries mais comentadas da Coréia, dois atores com carreiras em ascensão tentam manter os pés no chão enquanto tudo ao redor parece prestes a desmoronar. Ji-hoon e Hyun-wook interpretaram personagens inesquecíveis e a químic...
