• 15 •

416 64 28
                                        

O silêncio dentro do carro não era desconfortável.
Era quase... necessário.

Lá fora, a cidade continuava fria e sem pressa.
Lá dentro, o calor do aquecedor nos fazia esquecer que estávamos encostados em bancos de couro com cheiro de novo, escondidos do mundo, como dois adolescentes que fugiram da aula para respirar.

Hyun-wook se ajeitou no banco, reclinando levemente para trás e esticou as pernas. Olhou para frente por um tempo, depois virou o rosto devagar.

— Posso perguntar uma coisa?

Assenti com a cabeça, sem pressa.

— Por que você cancelou o último compromisso?

Respirei fundo.

— Porque eu não gostei.

— Não gostou do quê?

— De como tudo estava se tornando... encenação. Roteiro. Como se a gente fosse um casal de fanfic e tivesse que representar isso ao vivo, na frente das câmeras.

Ele soltou um suspiro leve e assentiu. Esperou que eu continuasse.

— Eu sei que tudo isso ajuda a série, ao engajamento, que é bom pra imagem. Mas... se fosse para sair com você, que fosse assim.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos. Depois sorriu.

— Então você gosta de sair comigo?

— Não estraga.

Ele riu.

Ele mudou de posição, girando o corpo na minha direção.

— Quando eu te vi naquele desfile, em Paris... eu achei que você fosse me ignorar pro resto da vida.

Olhei pra ele.

— Eu achei que você nem lembrava do meu nome mais. Você mal tinha respondido minha mensagem depois da gravação anterior.

— Eu vi. — Ele sorriu com o canto da boca. — Mas você também não respondeu a minha.

— Porque eu estava tentando não parecer ridículo.

— A gente já passou desse ponto, Ji-hoon.

Soltei uma risada curta.

— É, talvez.

— E você achou ruim eu ter ido pro seu quarto?

— Não — respondi, rápido demais. — Quer dizer... me pegou de surpresa. Mas... não achei ruim.

— Que bom. Porque eu gostei.

Demorei um pouco para reagir. Fiquei encarando as janelas embaçadas. O vidro começava a pingar nas bordas e o contraste do frio lá fora com o calor dentro criava uma névoa suave. Um mundo à parte.

— Por que você respondeu aquela mensagem como se fosse brincadeira?

Ele franziu a testa, sem entender.

— Qual?

— Aquela do boné.

— Ah... — Ele riu. — Porque eu estava com saudade de conversar com você, mas não sabia como começar.

Demorei um segundo antes de falar.

— Eu fiquei com seu boné de propósito.

Ele me olhou, rindo mais ainda.

— Tá vendo? Você é pior do que eu.

— E eu não ia devolver.

— Agora é questão de honra, então. Vai devolver.

Fora do Script Where stories live. Discover now