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— Anda logo, Jihoon, você tá muito velho pra demorar assim! — reclamou Ryeoun, me esperando encostado no capô de seu carro, de touca e casaco largo.

Revirei os olhos e apressei o passo, enfiando as mãos nos bolsos.

— Você me chamou em cima da hora! Nem tive tempo de escolher uma roupa decente.

— Você é o Ji-hoon, cara. Vai de pijama que o povo ainda vai querer tirar foto — ele riu, empurrando meu ombro com o cotovelo.

Fiz uma careta e entrei no carro.

Na verdade, eu quase disse "não" para esse encontro. Ainda me sentia meio aéreo. Desde a premiação, desde aquela noite no banheiro, desde aquele olhar que durou tempo demais. Mas Ryeoun era meu amigo de verdade. Alguém que conhecia antes da série explodir.

O bar escolhido era discreto. Estilo izakaya coreano moderno, luz baixa, mesas de madeira, gente que não olhava duas vezes pra ninguém: o tipo de lugar que atores vão quando só querem ser gente normal por umas horas.

Quando entramos, Min-jae já estava lá, rindo alto com o garçom, uma garrafa de soju quase vazia à frente.

— Ji-hoon! Finalmente! — ele se levantou e me puxou pra um abraço rápido, cheirando a shampoo cítrico e álcool.

Sentei no canto, deixei o celular virado pra baixo.  

A conversa fluiu fácil.

Falamos de novos roteiros, projetos frustrados, da gravação desgraçada que Min-jae fez no frio com roupa de verão. Ryeoun contou uma história sobre uma fã que tatuou o rosto dele na coxa. Eu gargalhei tanto que quase engasguei com o frango frito.

Eu não me sentia assim tinha um tempo.

A bebida descia devagar. Eu não exagerava mais. Não depois da bronca da Minji pós-Paris. Mas deixei me aquecer com duas doses. Só o suficiente pra relaxar os ombros.

No meio de uma história absurda do Min-jae, sobre quase cair do palco num fanmeeting, meu celular vibrou.

Peguei sem pensar.

Hyun-wook.
Uma mensagem.

"Triste que não fui convidado."

Eu olhei pra tela como se ela tivesse me xingado. Depois olhei ao redor, tentando parecer normal.

Ryeoun estava falando alguma coisa sobre fogos no Japão. Min-jae fazia um vídeo de si mesmo com a garrafa.

Disfarcei e deslizei o celular com a tela virada pra baixo de novo, engolindo seco.

Como ele soube?
Alguém postou?
Ou era só intuição?

Na volta pra casa, Ryeoun percebeu meu silêncio e perguntou:

— Tá tudo bem mesmo?

Fiz que sim com a cabeça. Dei um sorriso fraco.

— É só cansaço. Final de semana foi puxado.

Ele não pareceu muito convencido, mas não insistiu. Ainda bem.
       
Quando cheguei em casa, tomei banho rápido e me joguei no sofá com o celular na mão. Fiquei olhando para a mensagem por vários minutos.

Escrevi uma resposta. Apaguei.
Escrevi outra. Apaguei também.

Joguei meu celular longe e virei para o lado, tentando dormir.

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Acordei com uma leve dor de cabeça. Mais cansaço acumulado do que qualquer outra coisa. Nem tinha bebido tanto assim ontem. Só... emocionalmente drenado.

Fora do Script Where stories live. Discover now