O difícil não foi o beijo.
Nem o depois. Nem o "o que isso significa?".
O mais difícil... tem sido não ver ele.
Mesmo que eu tentasse agir normalmente, meu corpo me entregava. Eu sentia. A saudade vinha disfarçada, quieta, mas não me deixava. Era o olhar no espelho procurando algo que lembrasse ele. O toque no celular a cada cinco minutos. A ansiedade de ouvir um plim que fosse o nome dele na notificação.
A gente tentou continuar se falando. E até conseguimos. Mensagens rápidas, frases curtas, um ou outro emoji.
"Dormiu bem?"
"Boa sorte nas gravações."
"Hoje foi puxado, né?"
E às vezes nem isso.
Às vezes, só uma mensagem visualizada. Ou respondida horas depois.
A agenda dele parecia tão lotada quanto a minha. Gravações em outra cidade, reuniões, ensaios. Quando ele tinha um intervalo, eu estava entrando em cena. Quando eu ficava livre, ele estava no meio de um compromisso. Era como tentar segurar a água entre os dedos.
Teve um dia que ele mandou:
"Queria te ver."
E eu demorei tanto para responder que ele só mandou, mais tarde:
"Deixa pra quando der."
Eu li aquilo tantas vezes que perdi a conta. Não tinha cobrança. Só um cansaço silencioso. Um carinho que não encontrava espaço.
Na terça-feira, minha agenda parecia ter sido montada por alguém que me odiava. Duas sessões de fotos, três entrevistas, uma gravação surpresa para um programa online. Tudo cronometrado. Tudo exaustivo.
E mesmo assim, lá estava eu, a cada minuto livre, com o celular na mão.
Minji já tinha reclamado duas vezes.
— Ji-hoon, você tem que se concentrar.
— Ji-hoon, deixa o celular um pouco.
— Ji-hoon, os fotógrafos estão esperando!
Na terceira vez, ela perdeu a paciência.
Estávamos em um camarim, esperando o próximo figurino, e eu estava ali, no canto, com a cabeça baixa, rindo sozinho de uma resposta boba do Choi. Minji entrou, pegou o celular da minha mão sem aviso e o colocou no próprio bolso.
— Ei!
— Já deu. Você está atrapalhando seu próprio trabalho, Ji-hoon. Não é possível que alguém que vive falando que ama atuar esteja tão desligado assim.
— Eu não estou desligado — protestei, levantando. — Só... estou tentando equilibrar as coisas.
— Equilibrar? — ela me olhou com aquele olhar sério de manager que eu sempre respeitei. — Você não come direito, não dorme direito, está com olheiras e ainda fica rindo para o celular no meio do estúdio. Isso não é equilíbrio, Ji-hoon. Isso é distração.
Cruzei os braços, tentando manter a calma.
Fiquei em silêncio.
Ela não estava errada.
— Só até a gravação acabar — ela disse, mais gentil. — Depois eu devolvo.
Assenti.
Me sentei, tentando focar no texto que teria que gravar a seguir.
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Não estava nos meus planos.
Nem na agenda que a Minji me mandou três vezes naquela manhã.
Só soube que iria quando entrei na van e ela disse, sem tirar os olhos do celular:
— Te colocaram no evento da revista Marie Claire, hoje à noite. Vai ser coisa rápida, só presença mesmo. Entrevistas leves.
Você entra, sorri, responde meia dúzia de perguntas, posa para umas fotos e vai embora. Sem complicação.
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Fora do Script
FanfictionNos bastidores de uma das séries mais comentadas da Coréia, dois atores com carreiras em ascensão tentam manter os pés no chão enquanto tudo ao redor parece prestes a desmoronar. Ji-hoon e Hyun-wook interpretaram personagens inesquecíveis e a químic...
