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O camarim estava silencioso, só o som baixo do secador funcionando no outro canto. Eu já tinha decorado as falas da próxima cena e, por algum milagre, minha cabeça não estava girando em mil direções — coisa rara ultimamente.

Tava tudo mais leve, quase normal.

Até a porta abrir.

Minji entrou sem dizer nada.
Sem bater. Sem sorrir.

Eu conhecia aquele andar, aquele olhar neutro.
A última vez que ela entrou assim, eu tinha sido escalado para fazer três comerciais no mesmo fim de semana.

Mas dessa vez, ela não veio com planilha nem roteiro. Só estendeu o celular para mim.

Peguei. Olhei a tela.
E o estômago virou.

Fotos.

Granuladas, tremidas, meio tortas...
Mas mesmo assim: a gente.

Eu. Nas costas dele. Na rua. Claramente bêbado. Claramente carregado. Claramente nós.

Uma risada escapou antes mesmo de eu perceber.

— Quem tirou isso, um pombo?

Minji cruzou os braços.

— Engraçado. Vai rir quando isso sair no Dispatch também?

Meus dedos deslizaram para ver o resto das fotos.
A qualidade era uma piada. Mas não precisava estar nítido. Quem quisesse, entendia.

— Já está rolando? — perguntei, mais sério.

— Fórum underground. E crescendo. — ela apontou o celular com a cabeça. — Isso está indo para o Reddit coreano, Twitter, X... whatever.

Respirei fundo. Não consegui responder de imediato.

A garganta travou. Não era medo.
Era... cansaço?

A gente vivia fugindo. Se escondendo, mentindo com o corpo e sorrindo com a boca.

E mesmo assim, não adiantou.

Ela continuou:

— Até agora, ninguém confirmou que é você. Nem ele. Mas se compararem roupas, horários... não precisa ser gênio. Na verdade, nem precisa confirmar nada. Até um bebê saberia que são vocês.

Fiquei em silêncio.

Segurei o celular um pouco mais, como se isso fosse apagar as fotos. Meu rosto não aparecia. Mas a silhueta... o jeito como ele me segurava...
Não precisava mais do que aquilo.

— Eu só estava... cansado — murmurei.

— Cansado não é sinônimo de inconsequente, Ji-hoon.

Ela não estava brava. Estava preocupada. Era diferente.

— Eu só queria respirar — continuei. — Sair com meus amigos...

Minji se aproximou, abaixou um pouco o tom.

Ela estava tentando manter a compostura, mas... não sabia o que fazer. E se até ela não sabia, alguma coisa estava realmente errada.

— É real isso? — ela perguntou, mais baixo do que antes. — Vocês estavam mesmo na rua assim?

Assenti devagar.

— Estava tarde. A rua estava vazia. Achei que não tinha ninguém vendo.

Ela passou a mão no rosto, exausta.

— Ji-hoon, você está no topo. Tudo que você faz é visto, mesmo quando acha que ninguém está olhando.

Me calei.

Fora do Script Where stories live. Discover now