— E você? Está bravo também?

Olhei para frente, sem foco. A TV ainda ligada, mas o programa já havia terminado.

— Não. Se era isso que você queria... — pausei, engolindo em seco. — Tudo bem para mim.

Silêncio.

Por um segundo achei que ele tivesse desligado ou que a ligação tivesse caído.

— Choi?

— Estou aqui — ele respondeu. A voz estava mais baixa. — Estou sorrindo.

— Por quê?

— Porque você acabou de dizer que está tudo bem. E isso... — ele deu um suspiro. — Isso significa mais do que você imagina.

Fiquei quieto. Não precisava dizer nada. Ele já sabia.

Do outro lado da linha, ouvi um leve som de notificação.

— Espera... — ele murmurou. — A Na-yeon está me ligando agora. Acho que ela quer me arrancar o couro também.

Eu ri, abafado.

— Atende logo.

Mas antes de atender, ele falou, com a voz mais calma:

— Você quer sair mais tarde comigo?

Demorei um segundo. Só pra deixá-lo esperando um pouco e talvez, só talvez, porque meu coração deu um pulo besta no peito.

— Quero.

Ele não disse nada, mas eu ouvi o sorriso na respiração dele. Aquela pausa que ele fazia quando queria guardar um momento pra si, antes de entregar de volta.

— Te mando mensagem depois, ok?

— Ok.

Ele desligou.

Fiquei olhando para o celular por mais tempo do que deveria, com a sensação de que alguma coisa tinha mudado. Talvez já tivesse mudado antes mesmo de eu perceber.

E, estranhamente, estava tudo bem.

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Eu estava terminando de ajeitar a gola da jaqueta quando Choi enviou uma mensagem dizendo que havia chegado. Borrifei mais perfume e sai de casa.

Quando saí de fora, vi Choi parado em frente ao carro, me olhou dos pés à cabeça e deu aquele sorriso torto dele.

— Você está bonito — disse, do jeito mais casual e sem-vergonha possível.

Rolei os olhos, mas sorri de volta. Senti meu rosto quente. Ele sempre falava essas coisas como se fosse a coisa mais normal do mundo e, para ele, talvez fosse mesmo.

Passei por ele e ia levando a mão até a maçaneta do carro para abrir.

— Ei — ele disse. — Onde você pensa que vai?

Fiquei confuso.

— Entrar no carro?

Ele inclinou a cabeça, provocando.

— Não está esquecendo nada?

Franzi a testa, sem entender. Levei a mão ao bolso da jaqueta, depois ao de trás da calça, checando celular, carteira... tudo certo.

— Eu... não?

Ele revirou os olhos, impaciente e apontou para a própria boca.

Demorei um segundo para entender. Assim que caiu a ficha, soltei um riso nasalado e dei uma olhada rápida para os lados da rua, só para garantir.

Fora do Script Where stories live. Discover now