E eu me mantive imóvel. Olhar fixo na mesa, fingindo estar ouvindo Min-young falar alguma coisa sobre um programa novo de variedade.

— Mas e aí, Choi — começou Ryeoun, rindo — Você está muito misterioso ultimamente. Não vai contar se tem alguém especial na sua vida?

Min-young se juntou:

— É, estamos em minoria aqui. Só homens solteiros. Você podia dar uma esperança, né?

Choi sorriu, ainda olhando para o próprio copo.

— E se eu dissesse que já tenho alguém em mente?

Minha respiração falhou por um segundo.

Não olhei. Não mexi um músculo.

Os outros começaram a rir, fazer piadas, empurrar ele de leve.

— Olha, tá apaixonado!

— Quem é? Conta, vai!

— É alguém do meio? A gente conhece?

— Não é ninguém — disse Choi, rindo, jogando os ombros pra frente. — Estou brincando.

Mas quando ele disse aquilo, virou o rosto de leve. E eu vi. Vi o jeito que os olhos dele estavam em mim de novo. Silenciosos. Firmes. Quase como um aviso.

E, pela primeira vez, eu não desviei.

Segurei o olhar por um segundo. Só um segundo. E depois voltei a fitar a mesa, disfarçando com um sorriso pequeno, levantando o copo para mais um gole.

Meu rosto esquentava por dentro. E não era da bebida.

A noite foi se encerrando aos poucos. Um por um, os amigos começaram a se levantar, alegando compromissos no dia seguinte, ressaca iminente ou simplesmente o cansaço de uma semana longa.

Min-jae e Ryeoun foram os primeiros a sair, seguidos por Kyung e Min-young, que ainda tentaram marcar mais uma rodada em outro bar, mas ninguém teve energia para acompanhar.

Quando vi, só restávamos eu e Choi na calçada, cada um parado do lado oposto do poste de luz. A cidade ao redor seguia seu ritmo noturno, mas ali, naquela bolha de silêncio, tudo parecia mais devagar.

— Vai de táxi? — ele perguntou, com as mãos nos bolsos do casaco.

Assenti.

— Sua van já está por aqui?

Ele apontou com o queixo para o carro parado do outro lado da rua.

Eu me mexi, pronto para atravessar e chamar o carro pelo aplicativo, mas ele falou antes.

— Você ficou quieto depois daquela ligação — comentou, como quem diz qualquer coisa. — Algo te incomodou?

— Não — respondi rápido demais. Depois tentei consertar: — Só... bebida. Sono.

Ele riu, mas não disse nada por um momento. Olhou em volta, como se conferisse se havia gente por perto. E então deu dois passos na minha direção.

Parou perto o bastante para que eu sentisse o cheiro do perfume dele. Fresco, amadeirado. Familiar. Um pouco perigoso.

— Vai continuar fingindo que não sentiu nada?

— Senti sono — falei, tentando parecer firme, mas a voz falhou no fim.

Ele deu um sorrisinho, daquele tipo que me deixava instável.

— Achei que ia me puxar no meio da mesa e perguntar quem era do outro lado da linha.

Revirei os olhos, tentando virar o rosto, mas ele se inclinou um pouco mais.

— Se quiser saber, era a nova manager.

— Já falei que não quero saber — rebati, mais ríspido do que pretendia.

— Quer sim.

A resposta veio baixa, quase num sussurro e eu sabia que ele estava certo. Só não tinha coragem de admitir.

Por fim, soltei um suspiro, cansado da minha própria negação.

— Vai para casa, Choi.

— Eu vou. — Ele deu de ombros, mas não se virou. — Só queria entender por que você está todo torto desde aquela ligação.

— Já falei que não é por isso.

— É sim — ele sorriu, quase triunfante. — Você ficou me olhando o tempo todo depois, parecia que ia furar meu pescoço com os olhos.

— Você estava rindo.

— Eu rio às vezes, Ji-hoon. É permitido, sabia?

— Com ela?

Choi arregalou um pouco os olhos e um sorriso lento nasceu no canto da boca.

— Ah... então é disso que se trata?

Desviei o olhar no mesmo segundo. Merda.

— Eu não disse nada.

— Não precisou. Está escrito na sua cara. Você ficou com ciúmes.

— Vai pra casa.

— Ela é só minha manager. Nem me conhece direito ainda. Aliás, é bem séria. Não tem nada demais.

— Ótimo — murmurei.

Ele deu dois passos até ficar à minha frente de novo. Estava perto demais. A cidade seguiu seu movimento ao redor, mas tudo em mim estava preso nele.

— Mas se tivesse... você ia se importar?

Levantei os olhos, devagar.

— Você quer que eu diga que sim?

— Quero que você diga a verdade.

Suspirei.

— Você não faz ideia do que é isso, né? — minha voz saiu baixa, mais magoada do que eu pretendia.

Ele parou. Por um momento, pensei que ia recuar. Mas não. Ele ficou ali, firme.

— Eu sei que você sente. Só não tem coragem de dizer. A verdade é que você odeia a ideia de alguém se aproximar de mim. Mesmo que seja só profissional. Porque você sabe.

— Sei o quê?

— Que você já passou desse ponto. Que já gosta de mim e não tem como voltar.

— Você quer que eu tenha ciúmes?

— Quero que você sinta, só isso. Já passou da hora.

Fiquei em silêncio. Ele não disse mais nada. Só ficou me olhando por alguns segundos, depois deu um sorrisinho mais calmo.

— Boa noite, Ji-hoon.

E se virou.

Eu fiquei parado, sentindo o ar gelado no rosto e o calor da discussão queimando por dentro. Ele tinha razão.

E isso me irritava mais do que tudo.

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